Ricardo disse a Clara que a adorava. Que ela, por ser exatamente como era, havia lhe ganhado em pontos que nem mesmo ele sabia que poderiam existir dentro de si mesmo.
Clara contou sobre as palavras de Ricardo a amiga, Mônica, que já desconfiava da malícia que enxergara nos olhos do rapaz.
Ricardo fez com que Clara se sentisse exclusiva, única num mundo tão conturbado e tão desigual. Mas, desse modo, Ricardo fez o mesmo com Beatriz.
Para Beatriz, Ricardo fora ainda mais além. Dissera que com ela seria lindo ter uma vida e um casal de filhos que trariam feições de ambos.
Ricardo disse a Clara o mesmo que disse a Beatriz. E o mesmo que outrora havia dito a Roberta e a Maria.
Ricardo tinha um dom em seus olhos. Aquele dom pouco comum de ludibriar quem lhe fosse capaz de olhar diretamente.
Cuspia conceitos. Inflava o próprio ego julgando ser diferente da grande maioria. Alegava ser livre, mesmo parecendo ser escravo da própria liberdade.
Agia de forma a manipular tudo em prol de si mesmo. E nada mais.
Mônica contara a Clara que ouvira as mesmas juras de Ricardo por parte de Beatriz, Roberta, Maria, Cristina, Fabiana, Débora...
Ricardo era só. Por escolha, antes.
E agora por falta de opção.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Presente do indicativo
Vou rir do teu riso. E sorrir sozinha enquanto lembrar do teu jeito de falar, enquanto me anestesiar pelo timbre da tua voz.
Vou me calar. Dessa vez vou apenas escutar.
Vou te ouvir cantar.
Vou pendurar tua foto na minha estante.
Vou lembrar da tua forma de me ganhar. Vou apenas aceitar.
Vou ser quem eu sou. Vou me permitir ser quem eu sempre quis.
E desse modo, me fazer um tanto mais feliz.
Vou esquecer os receios. Vou me deixar envolver.
Não vou fugir. Não preciso a isso te submeter.
Vou debochar das tuas falhas, vou apreciar tuas inspirações. E te dar asas.
E te prender nas minhas melhores intenções.
Vou ficar. Mas sem insistir.
Vou lembrar. Vou resistir.
Vou guardar. Pra você saber que do lado de cá da avenida tem uma garota disposta a te acompanhar.
Vou me calar. Dessa vez vou apenas escutar.
Vou te ouvir cantar.
Vou pendurar tua foto na minha estante.
Vou lembrar da tua forma de me ganhar. Vou apenas aceitar.
Vou ser quem eu sou. Vou me permitir ser quem eu sempre quis.
E desse modo, me fazer um tanto mais feliz.
Vou esquecer os receios. Vou me deixar envolver.
Não vou fugir. Não preciso a isso te submeter.
Vou debochar das tuas falhas, vou apreciar tuas inspirações. E te dar asas.
E te prender nas minhas melhores intenções.
Vou ficar. Mas sem insistir.
Vou lembrar. Vou resistir.
Vou guardar. Pra você saber que do lado de cá da avenida tem uma garota disposta a te acompanhar.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Codinome Sam - Fragmentos Perdidos
Eles não vão perguntar sobre mim.
Mas se em virtude dos seus devaneios momentâneos, eu for mencionada, minta.
Diga que me mudei pro Alasca, que insultei seus pais. Ou conte verdadeiramente sobre o dia em que te estendi aquele tapa ardido e ofensivo na cara.
Minta dizendo que agora nós nos odiamos. Que todo aquele sentimento belo e amistoso se desfez.
Diga que eu não suportei sua instabilidade emocional. Diga que você não suportou minha loucura.
Diga que fui a pior maldição que te aconteceu.
Mas não conte que foi preciso.
Não diga a eles que nós dissemos aquele adeus triste e saudoso, já cheio de lágrimas.
Não conte que você não só disse me amar, como também usou o adverbio de intensidade: Muito.
Não conte que num dia contraditoriamente nublado de verão, você me enviou uma mensagem dizendo se sentir sozinho depois da decisão.
Não conte que colocou parte de si mesmo em coma. E que escondeu a nostalgia debaixo do travesseiro.
Não fale das cartas e promessas de amizade duradoura. Ou da minha foto revelada no meio das suas coisas.
Não conte que mesmo distante, ouviu músicas dos Smiths que te fizeram lembrar de mim. E que naquele show de algumas semanas atrás, insistiu em me mandar áudios com trechos dessas mesmas músicas durante toda a madrugada.
Não conte os nossos apelidos. Nem os nossos traumas. Não conte, não cante, não explique.
Minta e não conte que fizemos isso em prol de um bem maior: O nosso.
Criação em: Maio/2016
Mas se em virtude dos seus devaneios momentâneos, eu for mencionada, minta.
Diga que me mudei pro Alasca, que insultei seus pais. Ou conte verdadeiramente sobre o dia em que te estendi aquele tapa ardido e ofensivo na cara.
Minta dizendo que agora nós nos odiamos. Que todo aquele sentimento belo e amistoso se desfez.
Diga que eu não suportei sua instabilidade emocional. Diga que você não suportou minha loucura.
Diga que fui a pior maldição que te aconteceu.
Mas não conte que foi preciso.
Não diga a eles que nós dissemos aquele adeus triste e saudoso, já cheio de lágrimas.
Não conte que você não só disse me amar, como também usou o adverbio de intensidade: Muito.
Não conte que num dia contraditoriamente nublado de verão, você me enviou uma mensagem dizendo se sentir sozinho depois da decisão.
Não conte que colocou parte de si mesmo em coma. E que escondeu a nostalgia debaixo do travesseiro.
Não fale das cartas e promessas de amizade duradoura. Ou da minha foto revelada no meio das suas coisas.
Não conte que mesmo distante, ouviu músicas dos Smiths que te fizeram lembrar de mim. E que naquele show de algumas semanas atrás, insistiu em me mandar áudios com trechos dessas mesmas músicas durante toda a madrugada.
Não conte os nossos apelidos. Nem os nossos traumas. Não conte, não cante, não explique.
Minta e não conte que fizemos isso em prol de um bem maior: O nosso.
Criação em: Maio/2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Conquistas banais - Fragmentos Perdidos
Ele me importuna com perguntas óbvias. Acho que é porque ele sabe que mesmo tentando ignorá-lo, eu vou responder.
Ainda me lembro da primeira vez que pus meus olhos nele. Fazia frio naquela noite, o típico frio de um outono. A primeira coisa que notei nele foram os cabelos, semelhantes àquele estereotipo pelo qual me fascinava até então. Falava com mais dois garotos, enquanto acendia o cigarro há mais de três metros de mim, na mesma calçada cheia de adolescentes.
Me aproximei e comecei a fitá-lo. Eu sempre faço isso. Uso minha primeira arma - a cara lavada de santa - e finjo não me interessar pelo que mais me chama atenção. Fiquei lá, estática, fingindo pensar na vida, passando a mão pelos cabelos - na época ainda compridos - e apenas esperei.
Me aproximei e comecei a fitá-lo. Eu sempre faço isso. Uso minha primeira arma - a cara lavada de santa - e finjo não me interessar pelo que mais me chama atenção. Fiquei lá, estática, fingindo pensar na vida, passando a mão pelos cabelos - na época ainda compridos - e apenas esperei.
Ele me notaria e eu sabia, tanto que logo me notou, como eu bem queria.
"Garota sem vergonha, sempre consegue tudo o que quer, não é?" foi o que eu pensei, com ar sadicamente prazeroso.
Ele me pediu o isqueiro.
Foi a desculpa mais esfarrapada que já ouvi. Afinal, ele notou que me aproximei dele, como poderia não ter notado que eu o havia visto fumando antes mesmo de chegar perto de mim? Mas até entendo, deve ter sido a única coisa na qual ele pensou naquele instante.
Eu cedi o isqueiro - na época em que fumava meu ridículo L.A sabor cereja - e isso foi o suficiente pra tentar puxar um assunto qualquer. Eu apenas mencionei que ele se parecia com um dos beatles, e ele se encostou na parede usando os pés como apoio do mesmo jeito que eu fazia.
Tentou parecer entretido no assunto. Acho que a primeira lição que esses garotos aprendem é a de como se manterem atentos a uma conversa inútil com uma possível conquista.
Foi o que ele fez. Não me lembro de tê-lo visto fitando meu decote (quase inexistente, diga-se de passagem) ou paralisado pela grossura dos meus lábios, perdido no que eu poderia ou não fazer com eles.
Ele apenas conversou. Levantava a sobrancelha parecendo saber exatamente do que eu falava, mesmo quando eu citava algo que tinha certeza que ele poderia não conhecer. Usou comigo a expressão facil que mais tarde eu aprendi a distinguir como "dissimulada"
Criação em: Maio/2012
sábado, 5 de novembro de 2016
Estresse à dois
Eu já me sentia profundamente irritada. O trânsito terrível que me perseguiu, o transporte público com lotação máxima, os seus 12 intermináveis minutos de atraso.
Mesmo que eu caminhasse e conversasse com você, sabia que aquele não era um dia bom pra mim, como naquela frase em que ouvi muitas vezes, de que há dias em que ''nem deveríamos ter saído da cama". Suas brincadeiras me irritavam. Sua paciência em lidar com qualquer circunstâncias me incomodava - talvez pela minha tremenda inveja de te ver resolver problemas sem nenhum desespero emocional.
E foi ali que tudo começou. A minha sequência de queixas, de frustrações diárias, sendo cuspidas por mim ao final do que deveria ser uma linda e deliciosa tarde de sábado. Questionei tudo o que era passível de questionamento e seguimos novamente para a minha casa.
As poucas palavras durante o trajeto foram só mais uma forma de despejar mais uma porção de queixas e críticas, e finalmente chegamos.
Subi as escadas nervosa. Tirei meus sapatos, troquei a calça preta pela bermuda do pijama e deitei próxima do espaço que me sobrou, logo depois de você também se deitar.
Voltamos às nossas queixas. Eu me perdi numa frase e no auge do que deveria ser uma discussão séria, você me veio com uma piadinha cretina - mas extremamente engraçada.
Olhamos um para o outro e de repente começamos a rir feito um belo par de idiotas.
Em questão de segundos, você me tomou pelo braço e disse algo como: ''não vamos brigar, vai... vem cá que eu quero te dar um beijo". E eu beijei.
Simples assim. Como se todos os conflitos do mundo pudessem ser sanados por um lábio carnudo, um beijo molhado, por um abraço acolhedor ou uma piada propícia.
Como se todas as guerras pudessem ser cessadas com um sorriso largo e aberto.
Mesmo que eu caminhasse e conversasse com você, sabia que aquele não era um dia bom pra mim, como naquela frase em que ouvi muitas vezes, de que há dias em que ''nem deveríamos ter saído da cama". Suas brincadeiras me irritavam. Sua paciência em lidar com qualquer circunstâncias me incomodava - talvez pela minha tremenda inveja de te ver resolver problemas sem nenhum desespero emocional.
E foi ali que tudo começou. A minha sequência de queixas, de frustrações diárias, sendo cuspidas por mim ao final do que deveria ser uma linda e deliciosa tarde de sábado. Questionei tudo o que era passível de questionamento e seguimos novamente para a minha casa.
As poucas palavras durante o trajeto foram só mais uma forma de despejar mais uma porção de queixas e críticas, e finalmente chegamos.
Subi as escadas nervosa. Tirei meus sapatos, troquei a calça preta pela bermuda do pijama e deitei próxima do espaço que me sobrou, logo depois de você também se deitar.
Voltamos às nossas queixas. Eu me perdi numa frase e no auge do que deveria ser uma discussão séria, você me veio com uma piadinha cretina - mas extremamente engraçada.
Olhamos um para o outro e de repente começamos a rir feito um belo par de idiotas.
Em questão de segundos, você me tomou pelo braço e disse algo como: ''não vamos brigar, vai... vem cá que eu quero te dar um beijo". E eu beijei.
Simples assim. Como se todos os conflitos do mundo pudessem ser sanados por um lábio carnudo, um beijo molhado, por um abraço acolhedor ou uma piada propícia.
Como se todas as guerras pudessem ser cessadas com um sorriso largo e aberto.
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Farol vermelho - Fragmentos Perdidos
Parei em frente a lanchonete onde ela trabalhara até mais tarde. O plano inicial era uma cerveja à dois, afinal, estávamos sem nos ver havia pouco mais de duas semanas - e mesmo insistindo muito a pedido dela, eu continuava detestando a comunicação virtual que nos obrigava a fingir interação diária.
Ela se atrasou, mas justificou com a gentileza de sempre, parecendo grata por eu estar ali honrando o compromisso combinado.
Abriu a porta do carro e olhou atônita para as luzes do som que trazia uma altura considerável, no qual tocava músicas ''estranhas'' das quais ela nunca gostou. Eu tive certeza de que ela reclamaria da escolha daquela trilha sonora, e antes que pudesse fazê-lo, comecei a apertar o botão de sequência para encontrar algo que ela gostasse de ouvir.
Deixei em uma das minhas preferidas. Sabia que se ela não conhecesse, ao menos passaria a apreciar após alguns segundos.
Mas, ela já havia escutado antes. E isso ficou bastante óbvio pra mim em seguida.
Paramos em um dos faróis que a avenida da lanchonete trazia e pouco antes de engatar a marcha novamente, percebi que ela escondia o rosto, virando-o para a janela, deixando que os cabelos soltos caíssem sob seus olhos e ombros. Ela deixara escorrer lágrimas tristes ao som daquela música e eu rapidamente compreendi isso muito bem. Me inclinei indicando que trocaria de canção e ela logo me advertiu para que eu não o fizesse.
Olhei-a sem conseguir responder. Não queria invadi-la perguntando a razão de tamanha tristeza.
Ela começou a enxugar as lágrimas com as costas das mãos, que agora ficavam molhadas e escuras, cheias de resíduos da sua maquiagem.
Seguiu calada e num dado momento me olhou com ternura. Em seguida sorriu, parecendo aliviada como se quisesse me agradecer por eu estar ali, mesmo sem dizer uma palavra sequer.
Se justificou me dizendo que jamais ouviria a música Simple Man de Lynyrd Skynyrd sem sentir o peso da saudade no peito.
Ainda estávamos no outono. Era 9 de junho.
domingo, 18 de setembro de 2016
É tudo sobre o seu par de pequenos e instintivos olhos castanhos
Esperança. E tudo dela dentro dos seus pequenos e instintivos olhos castanhos.
Tudo de mim. Um tanto a mais de você.
E um vazio que se preenche sozinho, com um breve sorriso seu.
Você, que se diz tão distante do que é humano, talvez porque o humano não é necessariamente bom.
Talvez porque, pra mim, você continue sendo a esperança que as vezes falta mundo afora. Porque é só em você que eu enxergo tamanha nobreza.
Porque é no seu colo que eu quero mergulhar. E me afogar.
Essa cor nada peculiar dos seus olhos me faz ter fé na vida. Me faz te encontrar sempre que começo a fitar demais o espelho.
É em você - no seu eu já tão meu - ou nesse seu par de pequenos e instintivos olhos castanhos, que eu sou minha e sua de uma só vez.
No final, é tudo sobre você. E continuará sendo.
É tudo sobre a minha intensa e exclusivamente real história de amor, esperança e fé.
Sobre todos os sentimentos mais nobres que já tive, graças ao seu par de pequenos e instintivos olhos castanhos.
Tudo de mim. Um tanto a mais de você.
E um vazio que se preenche sozinho, com um breve sorriso seu.
Você, que se diz tão distante do que é humano, talvez porque o humano não é necessariamente bom.
Talvez porque, pra mim, você continue sendo a esperança que as vezes falta mundo afora. Porque é só em você que eu enxergo tamanha nobreza.
Porque é no seu colo que eu quero mergulhar. E me afogar.
Essa cor nada peculiar dos seus olhos me faz ter fé na vida. Me faz te encontrar sempre que começo a fitar demais o espelho.
É em você - no seu eu já tão meu - ou nesse seu par de pequenos e instintivos olhos castanhos, que eu sou minha e sua de uma só vez.
No final, é tudo sobre você. E continuará sendo.
É tudo sobre a minha intensa e exclusivamente real história de amor, esperança e fé.
Sobre todos os sentimentos mais nobres que já tive, graças ao seu par de pequenos e instintivos olhos castanhos.
terça-feira, 6 de setembro de 2016
A primeira vez que ela se afogou
A neblina escurecia a paisagem, que por si já era bastante densa.
O mar não tinha a mesma cor clara e azul de outrora. Embora parecesse a mesma de tempos remotos, a praia agora trazia à tona um mar escuro e esverdeado.
Suzi viu aquela figura familiar entrando na água, que não trazia nem sequer uma pequena onda.
Chamou-o pelo nome, mas ele não se virou para respondê-la, nem mesmo com um breve olhar.
Continuava a caminhar em direção ao fundo, se distanciando cada vez mais da praia - que de bonita agora não tinha quase nada.
Ele seguia de forma constante, como se dali surgisse todo o tempo do mundo - ou, daquele mundo.
Ela continuou chamando-o e finalmente decidiu segui-lo mar adentro.
Ele apenas ignorava sua presença. Fingia não escutá-la enquanto ela gritava seu nome a plenos pulmões.
Finalmente, perdeu o apoio da areia nos pés, já não alcançava o chão sem que pra isso ficasse totalmente submersa.
E tudo finalmente escureceu.
Sentia a água salgada invadindo seu corpo, entrando por seus ouvidos e seu nariz. E resignada, ela compreendeu que tudo ali escureceria por completo.
Num súbito sopro, ela despertou.
Se via completamente deitada na areia fria, com o corpo dele inclinado em sua direção - lhe parecia que ele acabara de lhe fazer uma ressuscitação depois de vê-la afogar-se.
Ela lhe olhou furtivamente nos olhos, esperando que ele lhe dissesse uma palavra qualquer, mas de sua boca nada saiu. Os olhos dele, aqueles olhos castanhos em quase toda sua totalidade - mas esverdeados em volta - carregavam apatia. Não traziam qualquer expressão.
E apesar disso - como em outros momentos agora já tão distantes - pareciam lhe despir a alma.
Finalmente, Suzi acordou.
Estava segura nos travesseiros macios de sua cama.
O mar não tinha a mesma cor clara e azul de outrora. Embora parecesse a mesma de tempos remotos, a praia agora trazia à tona um mar escuro e esverdeado.
Suzi viu aquela figura familiar entrando na água, que não trazia nem sequer uma pequena onda.
Chamou-o pelo nome, mas ele não se virou para respondê-la, nem mesmo com um breve olhar.
Continuava a caminhar em direção ao fundo, se distanciando cada vez mais da praia - que de bonita agora não tinha quase nada.
Ele seguia de forma constante, como se dali surgisse todo o tempo do mundo - ou, daquele mundo.
Ela continuou chamando-o e finalmente decidiu segui-lo mar adentro.
Ele apenas ignorava sua presença. Fingia não escutá-la enquanto ela gritava seu nome a plenos pulmões.
Finalmente, perdeu o apoio da areia nos pés, já não alcançava o chão sem que pra isso ficasse totalmente submersa.
E tudo finalmente escureceu.
Sentia a água salgada invadindo seu corpo, entrando por seus ouvidos e seu nariz. E resignada, ela compreendeu que tudo ali escureceria por completo.
Num súbito sopro, ela despertou.
Se via completamente deitada na areia fria, com o corpo dele inclinado em sua direção - lhe parecia que ele acabara de lhe fazer uma ressuscitação depois de vê-la afogar-se.
Ela lhe olhou furtivamente nos olhos, esperando que ele lhe dissesse uma palavra qualquer, mas de sua boca nada saiu. Os olhos dele, aqueles olhos castanhos em quase toda sua totalidade - mas esverdeados em volta - carregavam apatia. Não traziam qualquer expressão.
E apesar disso - como em outros momentos agora já tão distantes - pareciam lhe despir a alma.
Finalmente, Suzi acordou.
Estava segura nos travesseiros macios de sua cama.
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
A gente insiste
A gente insiste.
Insiste na blusa desbotada que ganhou aos 17 anos. Insiste na calça 36 que já não entra mais - que, na verdade, empaca nas coxas.
Insiste em guardar notas fiscais de supermercado. Insiste em arquivar fotografias feias que nunca teremos coragem de publicar.
Insiste em manter na playlist músicas que já não são ouvidas há meses.
A gente insiste. E como insiste!
Insiste em quem machuca. Investe tempo pra se recuperar. Só pra poder se machucar outra vez.
E ainda assim: Insistir.
A gente insiste naquela amizade hipócrita que adora tecer comentários maldosos pelas nossas costas.
Insiste em fingir não saber.
Insiste naquela relação abusiva e mal resolvida. Insiste em crer que tudo logo pode melhorar.
Insiste que as pessoas podem mudar.
A gente insiste em usar uma cor que não nos cai bem. Insiste em forjar um sorriso quando a vontade é chorar.
Insiste num curso que não quer mais frequentar.
A gente insiste na humilhação. Na dor. No peso. E quase sempre falta força para apenas abandonar e seguir. A gente insiste no mesmo assunto. Nas mesmas regras. Nas mesmas ideias.
Insiste num plano que já deu errado uma vez. Duas. Três.
Insiste nas lembranças que teimamos em não deixar pra trás.
Insiste e se apega a cada mísera tentativa.
A gente simplesmente aprende a insistir. Confundimos a incessante insistência com coragem, negando a nós mesmos o direito de sermos honestos com os outros e, em especial, conosco.
A gente desiste e se confronta depois com a recusa dessa desistência. Porque no final a gente insiste.
A gente sempre insiste.
Insiste na blusa desbotada que ganhou aos 17 anos. Insiste na calça 36 que já não entra mais - que, na verdade, empaca nas coxas.
Insiste em guardar notas fiscais de supermercado. Insiste em arquivar fotografias feias que nunca teremos coragem de publicar.
Insiste em manter na playlist músicas que já não são ouvidas há meses.
A gente insiste. E como insiste!
Insiste em quem machuca. Investe tempo pra se recuperar. Só pra poder se machucar outra vez.
E ainda assim: Insistir.
A gente insiste naquela amizade hipócrita que adora tecer comentários maldosos pelas nossas costas.
Insiste em fingir não saber.
Insiste naquela relação abusiva e mal resolvida. Insiste em crer que tudo logo pode melhorar.
Insiste que as pessoas podem mudar.
A gente insiste em usar uma cor que não nos cai bem. Insiste em forjar um sorriso quando a vontade é chorar.
Insiste num curso que não quer mais frequentar.
A gente insiste na humilhação. Na dor. No peso. E quase sempre falta força para apenas abandonar e seguir. A gente insiste no mesmo assunto. Nas mesmas regras. Nas mesmas ideias.
Insiste num plano que já deu errado uma vez. Duas. Três.
Insiste nas lembranças que teimamos em não deixar pra trás.
Insiste e se apega a cada mísera tentativa.
A gente simplesmente aprende a insistir. Confundimos a incessante insistência com coragem, negando a nós mesmos o direito de sermos honestos com os outros e, em especial, conosco.
A gente desiste e se confronta depois com a recusa dessa desistência. Porque no final a gente insiste.
A gente sempre insiste.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Os resumos diários das ligações noturnas
Você sabe que eu vou chegar em casa e contar detalhadamente sobre cada precioso minuto do meu dia.
Vou te falar sobre algum amigo com quem almocei, sobre alguma música que aprendi a tocar, sobre alguém de quem me lembrei.
Vou falar compulsivamente sobre as minhas percepções. Sobre a garota da agência bancária que insiste em demonstrar certa antipatia por mim, mesmo que eu não dê motivos pra isso.
Vou falar sobre a infecção no ouvido de um dos meus bichos de estimação. Vou comentar sobre o elogio que a balconista da padaria fez à minha maquiagem, ou sobre a frustração que um comentário malicioso e mal colocado provocou em mim.
Vou te contar sobre a cor de esmalte escolhida para o resto da semana. Vou mencionar a procrastinação do livro que eu ainda não tive coragem de finalizar.
Vou reclamar a sua falta. Te pedir pra voltar, pra me buscar, pra dormir no seu abraço.
Vou imitar uma criança, te chamando por apelidos que não ousamos dividir com o restante do mundo.
E você, mesmo enfadado, vai rir. Vai resumir o seu dia agitado e ouvir bem mais sobre o meu.
Vai assumir o quão vazio o outro lado da cama fica sem mim. Vai se deleitar com um leve ''eu te amo'' seguido de um ''boa noite'' ou um ''tenho pensado muito em você''.
Vai me responder com a mesma intensidade, e com o cuidado de quem sabe tanto sobre mim.
Vou te falar sobre algum amigo com quem almocei, sobre alguma música que aprendi a tocar, sobre alguém de quem me lembrei.
Vou falar compulsivamente sobre as minhas percepções. Sobre a garota da agência bancária que insiste em demonstrar certa antipatia por mim, mesmo que eu não dê motivos pra isso.
Vou falar sobre a infecção no ouvido de um dos meus bichos de estimação. Vou comentar sobre o elogio que a balconista da padaria fez à minha maquiagem, ou sobre a frustração que um comentário malicioso e mal colocado provocou em mim.
Vou te contar sobre a cor de esmalte escolhida para o resto da semana. Vou mencionar a procrastinação do livro que eu ainda não tive coragem de finalizar.
Vou reclamar a sua falta. Te pedir pra voltar, pra me buscar, pra dormir no seu abraço.
Vou imitar uma criança, te chamando por apelidos que não ousamos dividir com o restante do mundo.
E você, mesmo enfadado, vai rir. Vai resumir o seu dia agitado e ouvir bem mais sobre o meu.
Vai assumir o quão vazio o outro lado da cama fica sem mim. Vai se deleitar com um leve ''eu te amo'' seguido de um ''boa noite'' ou um ''tenho pensado muito em você''.
Vai me responder com a mesma intensidade, e com o cuidado de quem sabe tanto sobre mim.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Sinal de fogo - Um conto sobre Bernardo
Bernardo sorriu no momento em pôs os olhos em Rafaela.
Ela lhe parecia encantadoramente perdida. Trazia consigo um brilho diferente de todo o resto.
Até as roupas que vestia lhe davam um toque peculiar, muito diferente de toda aquela maioria em meio ao bar cheio de luzes neon.
Ela lhe sorriu. E o coração de Bernardo saltou. Como se aquele pedido de "anexaxão à primeira vista" fosse um reconhecimento. Como se aquele sorriso, tão puramente ingênuo e leve, lhe chamasse da forma mais convidativa possível.
Sentou-se ao lado dela. Lhe fez perguntas breves, perguntas estas que demonstravam total interesse em sua vida. E em mais de meia hora dividiam a mesma cerveja.
Ela, que já lhe parecia ligeiramente alterada pelas bebidas que tomara, agora o olhava de forma instintiva.
Lhe contara sobre o fim recente de um grande amor e, sentindo as mãos de Bernardo em seu rosto, virou-se para não permitir o que viria a ser o primeiro beijo.
Desculpou-se, meio sem jeito. Bernardo riu, fingindo parecer ofendido. O sorriso dela o fascinava e o intrigava. Como poderia ter se apaixonado tão rápido por alguém que acabara de conhecer? Alguém que, de fato, não estava em seus planos.
No ambiente do bar, a música "Signal Fire" de Snow Patrol embalava toda a conversa dos dois. E era exatamente o que lhe parecia. Ela lhe parecia um sinal. Um lindo e extasiante sinal de fogo.
De um fogo que viria a consumir seu peito e lhe inquietar o sono.
Bernardo chegara ao bar na intenção de conquistar de vez uma antiga paixão mal resolvida, e Rafaela surgira parecendo mudar toda a sua convicção inicial.
Já ao fim da noite, ela se dirigiu a pia do banheiro do bar. Lavou as mãos, molhou bem os pulsos e a nuca. Olhei-se no espelho e perguntou-se: O que há de tão lindo no sorriso desse rapaz, afinal?
Não compreendia o por quê de estar há horas tão vidrada naquele par de olhos azuis esverdeados. Confundia-se e Bernardo certamente notara essa confusão.
Ele era doce. E essa era a doçura que ela sentia faltar em sua vida. Ou, ao menos sentia ter pedido meses antes.
Foi caminhando em direção a ele. E sorriu.
Bernardo perguntou-lhe se ela se sentia bem. Ela afirmou que sim. De um jeito meigo, olhou-o nos olhos.
- Soube que hoje é a sua comemoração de aniversário. Desculpe ser uma penetra na sua festa.
- Você não é uma penetra. É minha convidada.
Bernardo abaixou-se - por ser consideravelmente mais alto que Rafaela - e sutilmente lhe beijou. Ela correspondeu de forma intensa. Houve a primeira conexão.
E nos próximos meses, Rafaela se tornaria a salvação e a perdição de Bernardo.
Ambos se tornariam parte importante da vida um do outro. Mas, naquele momento, não faziam ideia do que se seguiria.
Naquele momento, ela era apenas o seu mais bonito sinal de fogo.
Ela lhe parecia encantadoramente perdida. Trazia consigo um brilho diferente de todo o resto.
Até as roupas que vestia lhe davam um toque peculiar, muito diferente de toda aquela maioria em meio ao bar cheio de luzes neon.
Ela lhe sorriu. E o coração de Bernardo saltou. Como se aquele pedido de "anexaxão à primeira vista" fosse um reconhecimento. Como se aquele sorriso, tão puramente ingênuo e leve, lhe chamasse da forma mais convidativa possível.
Sentou-se ao lado dela. Lhe fez perguntas breves, perguntas estas que demonstravam total interesse em sua vida. E em mais de meia hora dividiam a mesma cerveja.
Ela, que já lhe parecia ligeiramente alterada pelas bebidas que tomara, agora o olhava de forma instintiva.
Lhe contara sobre o fim recente de um grande amor e, sentindo as mãos de Bernardo em seu rosto, virou-se para não permitir o que viria a ser o primeiro beijo.
Desculpou-se, meio sem jeito. Bernardo riu, fingindo parecer ofendido. O sorriso dela o fascinava e o intrigava. Como poderia ter se apaixonado tão rápido por alguém que acabara de conhecer? Alguém que, de fato, não estava em seus planos.
No ambiente do bar, a música "Signal Fire" de Snow Patrol embalava toda a conversa dos dois. E era exatamente o que lhe parecia. Ela lhe parecia um sinal. Um lindo e extasiante sinal de fogo.
De um fogo que viria a consumir seu peito e lhe inquietar o sono.
Bernardo chegara ao bar na intenção de conquistar de vez uma antiga paixão mal resolvida, e Rafaela surgira parecendo mudar toda a sua convicção inicial.
Já ao fim da noite, ela se dirigiu a pia do banheiro do bar. Lavou as mãos, molhou bem os pulsos e a nuca. Olhei-se no espelho e perguntou-se: O que há de tão lindo no sorriso desse rapaz, afinal?
Não compreendia o por quê de estar há horas tão vidrada naquele par de olhos azuis esverdeados. Confundia-se e Bernardo certamente notara essa confusão.
Ele era doce. E essa era a doçura que ela sentia faltar em sua vida. Ou, ao menos sentia ter pedido meses antes.
Foi caminhando em direção a ele. E sorriu.
Bernardo perguntou-lhe se ela se sentia bem. Ela afirmou que sim. De um jeito meigo, olhou-o nos olhos.
- Soube que hoje é a sua comemoração de aniversário. Desculpe ser uma penetra na sua festa.
- Você não é uma penetra. É minha convidada.
Bernardo abaixou-se - por ser consideravelmente mais alto que Rafaela - e sutilmente lhe beijou. Ela correspondeu de forma intensa. Houve a primeira conexão.
E nos próximos meses, Rafaela se tornaria a salvação e a perdição de Bernardo.
Ambos se tornariam parte importante da vida um do outro. Mas, naquele momento, não faziam ideia do que se seguiria.
Naquele momento, ela era apenas o seu mais bonito sinal de fogo.
terça-feira, 26 de julho de 2016
terça-feira, 19 de julho de 2016
Me perdoa
Me perdoa. Eu assaltei a geladeira da sua casa enquanto você dormia. E mesmo sabendo que esse talvez seja motivo de orgulho pra você, pra mim ainda é tido como falta grave. Então me perdoa.
Me perdoa por te obrigar a me preparar um suco quando já está prestes a se deitar.
Me perdoa por te obrigar a assistir Ghost e Dirty Dancing inúmeras vezes, pelo simples fato de te achar parecido com o Patrick Swayze.
Sei o quanto você detesta filmes românticos. Então, me perdoa.
Me perdoa se eu pareci fraca. Se eu falhei.
Perdoa a minha necessidade exacerbada por atenção. E todas as minhas crises de choro.
Me perdoa a falta que eu te fiz em algum momento.
Perdoa a minha irritante insistência em mudar de canal só pra não ver qualquer programa relacionado a futebol.
Perdoa a minha falta de noção com números e a preguiça em tentar aprender.
Perdoa o fato de eu não ser uma garota inteligente que passou na UFABC.
Me perdoa se eu te feri. E me perdoa se não percebi.
Me perdoa se eu insisti demais nos nomes do nosso filho.
Me perdoa por todas as lágrimas que já derramou por mim. Eu as beberia num gole só, se pudesse.
Perdoa a minha mania de tomar todo o espaço da cama. E da sua vida.
Perdoa esse meu medo de precisar tanto de você.
Me perdoa pela teimosia, pelo gênio contrário.
Perdoa a minha falta de malícia.
Me perdoa por todos os erros que eu sei que ainda vou cometer. Perdoa e não desiste de mim.
Me perdoa por te obrigar a me preparar um suco quando já está prestes a se deitar.
Me perdoa por te obrigar a assistir Ghost e Dirty Dancing inúmeras vezes, pelo simples fato de te achar parecido com o Patrick Swayze.
Sei o quanto você detesta filmes românticos. Então, me perdoa.
Me perdoa se eu pareci fraca. Se eu falhei.
Perdoa a minha necessidade exacerbada por atenção. E todas as minhas crises de choro.
Me perdoa a falta que eu te fiz em algum momento.
Perdoa a minha irritante insistência em mudar de canal só pra não ver qualquer programa relacionado a futebol.
Perdoa a minha falta de noção com números e a preguiça em tentar aprender.
Perdoa o fato de eu não ser uma garota inteligente que passou na UFABC.
Me perdoa se eu te feri. E me perdoa se não percebi.
Me perdoa se eu insisti demais nos nomes do nosso filho.
Me perdoa por todas as lágrimas que já derramou por mim. Eu as beberia num gole só, se pudesse.
Perdoa a minha mania de tomar todo o espaço da cama. E da sua vida.
Perdoa esse meu medo de precisar tanto de você.
Me perdoa pela teimosia, pelo gênio contrário.
Perdoa a minha falta de malícia.
Me perdoa por todos os erros que eu sei que ainda vou cometer. Perdoa e não desiste de mim.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
A certeza incerta de que você sempre retorna - Sobre amizades que resistem ao tempo
Eu subo na sua garupa. Seguro firme, sem medo.
Resisto aos pingos ardidos de chuva que batem no meu rosto enquanto a viseira continua aberta.
Se eu fechá-la, não ouvirei o que você tem a dizer - E eu sempre gosto de tudo o que você diz.
E gostar das suas palavras me soa ridiculamente natural. E terrivelmente familiar.
Você fala sorrindo. Eu sinto o sorriso atravessando o capacete e então compreendo a razão de tamanho afeto - provido de tantos anos.
Eu sento ao seu lado depois de mais uma garrafa de cerveja. E nós questionamos a humanidade, discutimos a política atual do país, rimos do passado, assumimos verdades doloridas.
Desafiamos o tempo.
O tempo deste plano e de qualquer outro, por estarmos ali e sermos exatamente o que somos: Dois amigos. Um par de criaturas curiosas em busca da felicidade plena - felicidade essa que praticamente se materializa quando completamos a frase um do outro e, em seguida, debochamos da nossa incrível capacidade de entendimento.
Eu volto acompanhada pela boa sensação que me envolve depois de te ouvir falar incessantemente. Você me chama pelo apelido carinhoso de sempre pouco antes de se virar e seguir. Sem me prometer voltar. Sem precisar de qualquer certeza.
Porque somos um pouco do mundo e um bocado de nós dois. Porque eu não preciso te assegurar que te guardo e te zelo mesmo em pensamento. Porque eu apenas sei - e me conforto - na ideia de que nos vimos em qualquer outro mundo e nos encontramos neste para que a vida seja mais cheia de cor.
Porque eu vivo nessa certeza incerta de que você sempre volta pra me ensinar a viver.
Resisto aos pingos ardidos de chuva que batem no meu rosto enquanto a viseira continua aberta.
Se eu fechá-la, não ouvirei o que você tem a dizer - E eu sempre gosto de tudo o que você diz.
E gostar das suas palavras me soa ridiculamente natural. E terrivelmente familiar.
Você fala sorrindo. Eu sinto o sorriso atravessando o capacete e então compreendo a razão de tamanho afeto - provido de tantos anos.
Eu sento ao seu lado depois de mais uma garrafa de cerveja. E nós questionamos a humanidade, discutimos a política atual do país, rimos do passado, assumimos verdades doloridas.
Desafiamos o tempo.
O tempo deste plano e de qualquer outro, por estarmos ali e sermos exatamente o que somos: Dois amigos. Um par de criaturas curiosas em busca da felicidade plena - felicidade essa que praticamente se materializa quando completamos a frase um do outro e, em seguida, debochamos da nossa incrível capacidade de entendimento.
Eu volto acompanhada pela boa sensação que me envolve depois de te ouvir falar incessantemente. Você me chama pelo apelido carinhoso de sempre pouco antes de se virar e seguir. Sem me prometer voltar. Sem precisar de qualquer certeza.
Porque somos um pouco do mundo e um bocado de nós dois. Porque eu não preciso te assegurar que te guardo e te zelo mesmo em pensamento. Porque eu apenas sei - e me conforto - na ideia de que nos vimos em qualquer outro mundo e nos encontramos neste para que a vida seja mais cheia de cor.
Porque eu vivo nessa certeza incerta de que você sempre volta pra me ensinar a viver.
terça-feira, 14 de junho de 2016
Ambiguidade emocional - Um conto sobre Anna
Essa é a história de Anna.
Um tanto quanto intensa. Um tanto quanto apaixonada.
Anna conheceu Maurício em uma festa de natal da família de sua irmã. Os dois, que já haviam se visto em outras ocasiões, finalmente tiveram a oportunidade de conversar. Na varanda, entre um cigarro e outro, um beijo e um início aparentemente promissor. Dentre tantas afinidades, tantos gostos em comum, tanto conhecimento que surgira dali.
O problema de Anna não era Maurício. Maurício, na realidade - naquele momento - era solução.
Anna vinha calejada de um relacionamento confuso e complexo com Alex, rapaz intrigante, que a fizera desistir de seu antigo namoro, prometendo-lhe coisas que jamais poderia cumprir.
Alex e Maurício não eram nada parecidos.
Maurício sentia. Alex dissimulava. Maurício ensinava com a vida. Alex parecia não aprender nada com ela.
No ápice de sua estabilidade emocional, Anna viu-se novamente obrigada a lidar com um sentimento mal resolvido: Seu amor por Alex - ou o que ela pensava ser. Ele surgira na porta de seu trabalho alegando saudades depois de ver fotos da moça com seu novo amor. Ficara inquieto e decidira testá-la até os limites.
Anna, por incerteza, recebeu-o como um velho amigo. Juntos, se dirigiram a um bar próximo e falaram sobre a vida. Ela tentava provar ao rapaz a sua felicidade. Ele se aproveitava de sua evidente dúvida para dissuadi-la. E finalmente, um beijo quente aconteceu.
Antes fosse só mais um beijo, só mais um erro. Mas ela seguiu. Foi além.
Dado o primeiro ato falho, os outros viriam em sequência. Era uma breve questão de tempo.
Em questão de duas semanas, Anna viu-se mentindo para Maurício, alegando dormir na casa de uma amiga de colégio, para se encontrar com Alex.
Por descuido, acaso ou destino, Maurício finalmente descobriu. Chorou e se desesperou ao ver a namorada entrar no carro de Alex e dar-lhe um beijo intenso logo em seguida. O amor ali, acabou. Ou ao menos, pareceu acabar.
No dia seguinte, Maurício confrontou a moça, dizendo-lhe tudo o que havia visto na noite anterior e lhe contando sobre as suas especulações da madrugada. Anna apenas chorou. Maurício, que naquele exato momento por raiva, talvez a tivesse xingado, não o fez. Tratou-a com um respeito que ela jamais vira em Alex.
Maurício resolvera conversar junto ao rapaz por telefone para explicar sua ciência de tudo. E o choque de Anna foi descobrir que Alex não somente não tinha qualquer intenção de seguir adiante com ela, como colocara a responsabilidade de tudo em suas costas alegando que ela o havia procurado inúmeras vezes e que ele, por sua vez, resistira.
Ela bem conhecia as falhas de caráter de Alex, mas jamais pensou chegarem a tal extremo.
Finalmente percebera que deixara um grande homem partir magoado. Trocara o que desejava em sua vida, por um impulso - mais de um. Fora levada pelo desejo descontrolado até as últimas consequências. E agora descobrira que Maurício era de fato o grande amor de sua vida.
Anna desconstruiu todos os seus próprios conceitos. Seguiu sabendo que não desejava nunca mais ver Alex. E nunca mais veria.
Sofreu buscando o perdão de Maurício, que mesmo ainda cheio de amor, decidiu dois meses depois oferecer uma nova chance à uma colega de trabalho, com quem se dava extremamente bem - mas com quem jamais pensara em se envolver.
Anna entrou em período de reclusão. Foi injuriada pela maioria dos amigos de Maurício que sabiam boa parte de toda a história. Viu-se obrigada a suportar todo o tipo de piadas e ameaças, vindas de quem sequer compreendia seus pontos de vista. Entendeu que o ser humano, por natureza, julga. E que, para ser perdoada, ela precisava se perdoar.
Anna compreendeu que somente ela mesma entendia sua dor. E a aceitava.
Finalmente cansara de se justificar.
Um tanto quanto intensa. Um tanto quanto apaixonada.
Anna conheceu Maurício em uma festa de natal da família de sua irmã. Os dois, que já haviam se visto em outras ocasiões, finalmente tiveram a oportunidade de conversar. Na varanda, entre um cigarro e outro, um beijo e um início aparentemente promissor. Dentre tantas afinidades, tantos gostos em comum, tanto conhecimento que surgira dali.
O problema de Anna não era Maurício. Maurício, na realidade - naquele momento - era solução.
Anna vinha calejada de um relacionamento confuso e complexo com Alex, rapaz intrigante, que a fizera desistir de seu antigo namoro, prometendo-lhe coisas que jamais poderia cumprir.
Alex e Maurício não eram nada parecidos.
Maurício sentia. Alex dissimulava. Maurício ensinava com a vida. Alex parecia não aprender nada com ela.
No ápice de sua estabilidade emocional, Anna viu-se novamente obrigada a lidar com um sentimento mal resolvido: Seu amor por Alex - ou o que ela pensava ser. Ele surgira na porta de seu trabalho alegando saudades depois de ver fotos da moça com seu novo amor. Ficara inquieto e decidira testá-la até os limites.
Anna, por incerteza, recebeu-o como um velho amigo. Juntos, se dirigiram a um bar próximo e falaram sobre a vida. Ela tentava provar ao rapaz a sua felicidade. Ele se aproveitava de sua evidente dúvida para dissuadi-la. E finalmente, um beijo quente aconteceu.
Antes fosse só mais um beijo, só mais um erro. Mas ela seguiu. Foi além.
Dado o primeiro ato falho, os outros viriam em sequência. Era uma breve questão de tempo.
Em questão de duas semanas, Anna viu-se mentindo para Maurício, alegando dormir na casa de uma amiga de colégio, para se encontrar com Alex.
Por descuido, acaso ou destino, Maurício finalmente descobriu. Chorou e se desesperou ao ver a namorada entrar no carro de Alex e dar-lhe um beijo intenso logo em seguida. O amor ali, acabou. Ou ao menos, pareceu acabar.
No dia seguinte, Maurício confrontou a moça, dizendo-lhe tudo o que havia visto na noite anterior e lhe contando sobre as suas especulações da madrugada. Anna apenas chorou. Maurício, que naquele exato momento por raiva, talvez a tivesse xingado, não o fez. Tratou-a com um respeito que ela jamais vira em Alex.
Maurício resolvera conversar junto ao rapaz por telefone para explicar sua ciência de tudo. E o choque de Anna foi descobrir que Alex não somente não tinha qualquer intenção de seguir adiante com ela, como colocara a responsabilidade de tudo em suas costas alegando que ela o havia procurado inúmeras vezes e que ele, por sua vez, resistira.
Ela bem conhecia as falhas de caráter de Alex, mas jamais pensou chegarem a tal extremo.
Finalmente percebera que deixara um grande homem partir magoado. Trocara o que desejava em sua vida, por um impulso - mais de um. Fora levada pelo desejo descontrolado até as últimas consequências. E agora descobrira que Maurício era de fato o grande amor de sua vida.
Anna desconstruiu todos os seus próprios conceitos. Seguiu sabendo que não desejava nunca mais ver Alex. E nunca mais veria.
Sofreu buscando o perdão de Maurício, que mesmo ainda cheio de amor, decidiu dois meses depois oferecer uma nova chance à uma colega de trabalho, com quem se dava extremamente bem - mas com quem jamais pensara em se envolver.
Anna entrou em período de reclusão. Foi injuriada pela maioria dos amigos de Maurício que sabiam boa parte de toda a história. Viu-se obrigada a suportar todo o tipo de piadas e ameaças, vindas de quem sequer compreendia seus pontos de vista. Entendeu que o ser humano, por natureza, julga. E que, para ser perdoada, ela precisava se perdoar.
Anna compreendeu que somente ela mesma entendia sua dor. E a aceitava.
Finalmente cansara de se justificar.
terça-feira, 31 de maio de 2016
Amizade sóbria - O depoimento de Natasha
"Eu havia voltado mais cedo da faculdade naquela sexta-feira. Menti para os meus avós dizendo que dormiria na casa de uma colega de sala. Tinha pouco mais de 18 anos, muita vontade de conhecer coisas novas e nenhuma ideia de como me livrar da dor de ter terminado a minha mais séria relação com um rapaz.
Desci do ônibus e caminhei por cinco minutos até chegar no apartamento de um dos meus melhores amigos. Rafa adorava dar festinhas, o fazia quase que diariamente. E naquela noite, eu decidi que queria beber.
Rafa era, de fato, muito popular. E o que deveria ser uma festa íntima, tornou-se uma reunião cheia de desconhecidos. Eu fui me entrosando. Conversava aos poucos com cada um dos rapazes ali, sem sequer conhecê-los. Entre um drink e outro, o alcool me subiu a cabeça e eu parei de raciocinar. Os rapazes envolta de mim, que antes se utilizavam de sorrisos para me ganhar, agora me puxavam pela cintura - um de cada vez - tentando usar dos meus delírios para conseguir de mim o que eu não tinha oferecido.
Eu me sentia zonza. Quase não sentia os dedos das mãos. O efeito dos drinks era mais forte do que o que eu me lembrava. Rodopiei pela sala, dançando, achando certa graça na minha condição, que me fazia parecer uma completa idiota.
Mas, o que eu não compreendia era que nenhum dos desconhecidos ali me via com essa mesma graça.
Um deles se aproximou de mim, tentando me dar um beijo. Eu recusei.
O outro, me puxando pela cintura, tentou dançar comigo. Eu me esquivei.
Rafa, já prestando atenção nos detalhes, foi incisivo com todos: Ela não está bem. Deixem ela.
Um dos amigos de Rafa que havia convidado a todos os desconhecidos da festa, argumentou que ele deveria ''deixar de ser troxa'' pois se eu havia bebido, deveria poder aproveitar escolhendo alguém ali - mesmo que eu não estivesse em condições de fazer qualquer escolha.
Essa é a última memória razoavelmente sóbria que tenho daquela noite.
Acordei no dia seguinte deitada num colchão no corredor do apartamento de Rafa, com ele deitado ao meu lado. Ligeiramente nauseada, chacoalhei Rafa lhe pedindo explicações do que havia ocorrido. Aos poucos, e antes que ele pudesse me explicar, fui tendo flashs da noite anterior.
Em um dos flashs eu me via ajoelhada com a cabeça em direção ao vaso sanitário, tendo Rafa ao meu lado, segurando meu cabelo enquanto eu vomitava e gemia de tamanha vergonha.
Um outro flash me trazia a imagem de Rafa me dando um copo d'água com gelo, e me cobrindo em seguida com um lençol azul.
Eu soube mais tarde, que Rafa, enfurecido, gritou com os rapazes e os mandou embora. Em seguida, encerrou a festa a todos os presentes e pediu que se retirassem.
Passou o resto da noite tentando me ajudar a vomitar para que eu me livrasse do mal estar e pudesse ao menos dormir. Colocou um colchão no corredor para que eu estrategicamente pudesse correr ao vaso sanitário caso fosse necessário. E tirou apenas os meus sapatos.
Eu estava intacta. Ainda era eu. Ainda era uma menina de 18 anos que resolveu beber demais. Ainda era neta dos meus avós. E não havia sofrido nenhuma lesão, nenhum aranhão. Nenhuma violação. Nenhum trauma,
Rafa foi o herói daquela noite."
Desci do ônibus e caminhei por cinco minutos até chegar no apartamento de um dos meus melhores amigos. Rafa adorava dar festinhas, o fazia quase que diariamente. E naquela noite, eu decidi que queria beber.
Rafa era, de fato, muito popular. E o que deveria ser uma festa íntima, tornou-se uma reunião cheia de desconhecidos. Eu fui me entrosando. Conversava aos poucos com cada um dos rapazes ali, sem sequer conhecê-los. Entre um drink e outro, o alcool me subiu a cabeça e eu parei de raciocinar. Os rapazes envolta de mim, que antes se utilizavam de sorrisos para me ganhar, agora me puxavam pela cintura - um de cada vez - tentando usar dos meus delírios para conseguir de mim o que eu não tinha oferecido.
Eu me sentia zonza. Quase não sentia os dedos das mãos. O efeito dos drinks era mais forte do que o que eu me lembrava. Rodopiei pela sala, dançando, achando certa graça na minha condição, que me fazia parecer uma completa idiota.
Mas, o que eu não compreendia era que nenhum dos desconhecidos ali me via com essa mesma graça.
Um deles se aproximou de mim, tentando me dar um beijo. Eu recusei.
O outro, me puxando pela cintura, tentou dançar comigo. Eu me esquivei.
Rafa, já prestando atenção nos detalhes, foi incisivo com todos: Ela não está bem. Deixem ela.
Um dos amigos de Rafa que havia convidado a todos os desconhecidos da festa, argumentou que ele deveria ''deixar de ser troxa'' pois se eu havia bebido, deveria poder aproveitar escolhendo alguém ali - mesmo que eu não estivesse em condições de fazer qualquer escolha.
Essa é a última memória razoavelmente sóbria que tenho daquela noite.
Acordei no dia seguinte deitada num colchão no corredor do apartamento de Rafa, com ele deitado ao meu lado. Ligeiramente nauseada, chacoalhei Rafa lhe pedindo explicações do que havia ocorrido. Aos poucos, e antes que ele pudesse me explicar, fui tendo flashs da noite anterior.
Em um dos flashs eu me via ajoelhada com a cabeça em direção ao vaso sanitário, tendo Rafa ao meu lado, segurando meu cabelo enquanto eu vomitava e gemia de tamanha vergonha.
Um outro flash me trazia a imagem de Rafa me dando um copo d'água com gelo, e me cobrindo em seguida com um lençol azul.
Eu soube mais tarde, que Rafa, enfurecido, gritou com os rapazes e os mandou embora. Em seguida, encerrou a festa a todos os presentes e pediu que se retirassem.
Passou o resto da noite tentando me ajudar a vomitar para que eu me livrasse do mal estar e pudesse ao menos dormir. Colocou um colchão no corredor para que eu estrategicamente pudesse correr ao vaso sanitário caso fosse necessário. E tirou apenas os meus sapatos.
Eu estava intacta. Ainda era eu. Ainda era uma menina de 18 anos que resolveu beber demais. Ainda era neta dos meus avós. E não havia sofrido nenhuma lesão, nenhum aranhão. Nenhuma violação. Nenhum trauma,
Rafa foi o herói daquela noite."
sexta-feira, 20 de maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Ode a amizade que não se perde
- Olhe pra mim – Eu pedi. E ele simplesmente sorriu.
E eis que o par de olhos mais verdes que já vi me fitava novamente.
E dessa vez, com uma certeza: Eu o compreendia.
Num universo de tamanho imensurável, com tantas facetas. Num
planeta com 7 bilhões de pessoas. Num mundo cheio de amargura – da amargura que
ele foi descobrindo – eu o compreendia. E existia uma parte de mim que
pertencia somente a ele. A parte onde melhor guardei todas as boas memórias de
toda a minha adolescência.
As minhas palavras lhe faziam sentido, mas não lhe faziam
jus. Ele era bem mais do que eu poderia explicar. Ele era luz. E clarão. Era
sonho. E realidade. Era como ter a sorte de ser ouvida por quem realmente
queria todas as minhas frases.
- É exatamente isso – Ele me respondeu, talvez surpreso por
eu adivinhar seus pensamentos e anseios.
Eis que a compreensão do óbvio me veio subitamente. Mais uma
vez. E eu confirmei a mim mesma que nunca o abandonaria. Por carinho,
cumplicidade, amor. E por fé.
Minha fé nele era firme.
domingo, 1 de maio de 2016
A carta do mais novo divorciado
Um dia, ela simplesmente parou de olhar-me nos olhos.
Justo ela, que era tão dona de si e tão mais dona de nós.
Posso afirmar que nunca pensei que ela desistiria de mim.
Mas, em algum momento, a preocupação com os afazeres domésticos, as pendências
financeiras, as fraldas sujas de nossa recém-nascida, as tarefas escolares
intermináveis de nosso filho mais velho, a sujeira da caixa de areia do gato e
toda a falta de tempo pra si mesma; a fez querer desistir de uma vida que vinha
sendo construída por mais de 19 anos, desde o momento em que a notei naquela
lanchonete, usando um casaco cinza claro que ainda está guardado - e que passou
por três mudanças de guarda-roupa sem que ela cogitasse jogá-lo fora.
Mas eu sei. A culpa, de certo modo, é minha.
Hoje ela me deu o ultimato que eu jamais esperei receber.
Ela me olhou nos olhos e disse que precisava de paz em sua vida. Uma paz que eu
não poderia oferecer mais.
Eu jamais poderia esperar que fosse dessa forma, mas ela
estava decidida, e eu não pude voltar atrás.
Foi justamente isso que me fez esmurrar a parede, gritar com
ela acusando-a de destruir nosso casamento e jogá-lo fora, e tudo que ela me
disse foi: Nós fracassamos. Eu não sou a única culpada deste fracasso. Não vou
e nem pretendo mais carregar esse peso comigo.
Ela foi irredutível. Mencionou que ser mãe, a essa altura,
teria sido muito mais fácil se eu a tivesse compreendido melhor. Enfatizou que,
por muitas vezes, se sentiu uma mulher sem valor e o mínimo que se deveria ter
de um homem era o carinho e o respeito. Coisa que, aparentemente, eu não
oferecia todas as vezes que berrava desnecessariamente por coisas supérfluas.
Me disse também que se olhara no espelho nas últimas semanas
e já não se gostava, não se aceitava e não se encontrava. Que ela teria
superado todos os nossos problemas – como sempre havia feito – se estivéssemos
realmente em sintonia, mas isso não acontecera.
Ela encheu os olhos d’água ao dizer que fui seu único amor,
e que esperou de todo o coração que pudesse envelhecer ao meu lado. Sim, ela
encheu os olhos d’água, mas não derramou uma gota sequer.
E quem chorou por dentro, fui eu.
Eu, que a amei e deveria ter deixado isso muito mais claro.
Eu, que a ignorei quando me conveio, que a magoei quando perdi as estribeiras e
que a enchi de presentes, que pra ela, na verdade, não significavam muito. Não
significam nada, agora.
Eu, que estou aqui pensando e dizendo a mim mesmo que sou
forte e que apesar de acreditar nisso, não me imagino sobrevivendo ao dia-a-dia
sem ter ela pra tirar a toalha molhada de cima da cama, ou pra me ligar, pra
não me deixar esquecer o pão de rosca da padaria do bairro – aquele que ela
tanto gostava de comer com geleia.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Quando é tarde demais - Um conto sobre Clarice
Essa é a história de Clarice.
Deixara seus conceitos de lado e abandonara o medo de se reaproximar de seu melhor amigo, com quem já não falava há pouco mais de três meses.
Lembrava-se da última conversa. Das mensagens incompreendidas, dos tons irônicos, das injúrias, dos maus julgamentos e de toda a falta de amor e carinho que parecia existir naquela discussão calorosa, onde qualquer reconciliação parecia distante demais.
Lembrava-se de todas as vezes em que seu amado protetor lhe buscara no curso de pintura. Nas incontáveis vezes em que lhe escreveu cartas, lhe entregou fotos, lhe dividiu a vida e o que de melhor poderia haver nela. Já não era capaz de recordar quantas vezes havia sido feliz ao lado daquele que por amor, parecia lhe compreender tão bem - mesmo que não houvesse qualquer envolvimento físico entre os dois.
Clarice entendera que talvez, pela proporção do sentimento que ainda alimentava, devesse ir até seu tão querido conselheiro. O que ela não compreendia era o tamanho engano que fazia se dando essa opção.
Pablo já não era o mesmo. Não era igual.
As incontáveis semanas vividas em afastamento haviam sido suficientes pra que ele, por vontade, quisesse apagá-la de sua vida e de seu convívio.
Quando puxara um assunto qualquer, Clarice percebera nele uma profunda falta de ânimo em lhe responder. Perguntava-lhe sobre a vida, sobre seu cotidiano, seu novo emprego e sua família; e ele lhe respondera de forma breve e desinteressada.
Finalmente, Clarice decidiu confrontá-lo. Escreveu um longo e-mail expressando o modo como se sentia. E sua surpresa veio em seguida.
Pablo lhe dissera com todas as letras em resposta que ela já não poderia fazer parte de seu mundo, que já não era tão necessária e que lhe carregar parecia um peso desproporcional ao resultado, visto que sempre acabavam brigando e se machucando.
Clarice tentava entender todas as informações expostas ali, enquanto chorava e soluçava de tamanha tristeza. Ele fora incisivo: Não possuía mais amor ou consideração por ela. Pelo menos, não na proporção anterior. E então, Clarice entendeu que era tarde demais.
Algo havia se partido, se quebrado por completo.
A moça perdeu a noção do que havia sido real e do que era meramente fantasioso. Queria acreditar que em algum momento havia sido importante, mas não podia. Era nítida a falta que ela não fazia.
Clarice finalmente entendera o que seu pai um dia lhe havia dito: Tudo na vida tem um prazo.
O prazo de Pablo em sua vida havia se esgotado. E agora ela entendia bem.
Não desejava forçar sua presença. Não desejava ter menos do que poderia. E então, disse adeus.
Rasgou as cartas e o velho poema em espanhol que ele havia lhe escrito em caráter de brincadeira.
Jogara fora a pelúcia que ganhara de seu amigo num parque de diversões.
Se desfizera da foto pendurada em seu mural de memórias.
Excluíra de seu celular todas as músicas que havia aprendido a apreciar por influência dele.
Livrou-se dos pesos e da dor que uma partida tão abrupta lhe causara.
Clarice guardara o melhor de si. Haveria outro bom amigo pra quem entregar.
Ela jamais voltaria a ser quem havia sido ao lado de Pablo - aquele que lhe prometera amizade e amor infinitos, quando pensavam que seriam.
Mesmo que nenhum dos dois fosse, de fato, infinito.
Deixara seus conceitos de lado e abandonara o medo de se reaproximar de seu melhor amigo, com quem já não falava há pouco mais de três meses.
Lembrava-se da última conversa. Das mensagens incompreendidas, dos tons irônicos, das injúrias, dos maus julgamentos e de toda a falta de amor e carinho que parecia existir naquela discussão calorosa, onde qualquer reconciliação parecia distante demais.
Lembrava-se de todas as vezes em que seu amado protetor lhe buscara no curso de pintura. Nas incontáveis vezes em que lhe escreveu cartas, lhe entregou fotos, lhe dividiu a vida e o que de melhor poderia haver nela. Já não era capaz de recordar quantas vezes havia sido feliz ao lado daquele que por amor, parecia lhe compreender tão bem - mesmo que não houvesse qualquer envolvimento físico entre os dois.
Clarice entendera que talvez, pela proporção do sentimento que ainda alimentava, devesse ir até seu tão querido conselheiro. O que ela não compreendia era o tamanho engano que fazia se dando essa opção.
Pablo já não era o mesmo. Não era igual.
As incontáveis semanas vividas em afastamento haviam sido suficientes pra que ele, por vontade, quisesse apagá-la de sua vida e de seu convívio.
Quando puxara um assunto qualquer, Clarice percebera nele uma profunda falta de ânimo em lhe responder. Perguntava-lhe sobre a vida, sobre seu cotidiano, seu novo emprego e sua família; e ele lhe respondera de forma breve e desinteressada.
Finalmente, Clarice decidiu confrontá-lo. Escreveu um longo e-mail expressando o modo como se sentia. E sua surpresa veio em seguida.
Pablo lhe dissera com todas as letras em resposta que ela já não poderia fazer parte de seu mundo, que já não era tão necessária e que lhe carregar parecia um peso desproporcional ao resultado, visto que sempre acabavam brigando e se machucando.
Clarice tentava entender todas as informações expostas ali, enquanto chorava e soluçava de tamanha tristeza. Ele fora incisivo: Não possuía mais amor ou consideração por ela. Pelo menos, não na proporção anterior. E então, Clarice entendeu que era tarde demais.
Algo havia se partido, se quebrado por completo.
A moça perdeu a noção do que havia sido real e do que era meramente fantasioso. Queria acreditar que em algum momento havia sido importante, mas não podia. Era nítida a falta que ela não fazia.
Clarice finalmente entendera o que seu pai um dia lhe havia dito: Tudo na vida tem um prazo.
O prazo de Pablo em sua vida havia se esgotado. E agora ela entendia bem.
Não desejava forçar sua presença. Não desejava ter menos do que poderia. E então, disse adeus.
Rasgou as cartas e o velho poema em espanhol que ele havia lhe escrito em caráter de brincadeira.
Jogara fora a pelúcia que ganhara de seu amigo num parque de diversões.
Se desfizera da foto pendurada em seu mural de memórias.
Excluíra de seu celular todas as músicas que havia aprendido a apreciar por influência dele.
Livrou-se dos pesos e da dor que uma partida tão abrupta lhe causara.
Clarice guardara o melhor de si. Haveria outro bom amigo pra quem entregar.
Ela jamais voltaria a ser quem havia sido ao lado de Pablo - aquele que lhe prometera amizade e amor infinitos, quando pensavam que seriam.
Mesmo que nenhum dos dois fosse, de fato, infinito.
quinta-feira, 14 de abril de 2016
De volta para Oz'
Como na obra de L. Frank Baum, nos deparamos com ideias similares
sobre quem seriamos, de fato. Enquanto eu o escutava, passei a reavaliar cada
medo que me cercava até então. Tão fictícios quanto os personagens da história,
e tão brevemente reais éramos nós.
- Acho que sou como o Homem de Lata - ele mencionou, perdido
nos próprios pensamentos – Eu não tenho sentimentos, não os preservo porque não
sei onde estão. Eu não sinto a dor, eu não sinto o amor. Eu não sinto nada. Só
o vazio de sempre, que me causa impaciência, porque nem mesmo tristeza por
conta disso sou capaz de sentir.
Sentada a frente dele, pensei por mais um instante.
- Se você é o Homem de Lata, talvez eu seja o Leão –
Mencionei, olhando fixamente para ele, que ainda se mantinha perdido em devaneios
– O Leão é forte, mas não tem o que lhe seria mais útil e preciso... a coragem.
Eu tenho medo de tudo, especialmente quando se trata de perder pessoas por circunstâncias
que não posso mudar. Eu sou o Leão, o Leão Covarde – Concluí.
E depois de vagos segundos em silêncio, eu finalmente me
permiti concluir que para nós, talvez a única solução aceitável fosse voltar para a terra
de Oz, de onde nunca deveríamos ter saído.
terça-feira, 5 de abril de 2016
Não quero mais fazer isso hoje
"Não quero mais fazer isso hoje''. Foi exatamente o que pensei pouco depois de estalar os dedos exaustos da mão direita usando a mão esquerda.
Olhei pra tela do computador e nela havia uma infinidade de palavras sobre as tais teorias da comunicação, de onde me vem partindo inspiração há pouco mais de duas semanas.
Li e reli tudo o que eu havia digitado até aquele momento.
Me pareceu algo inteligente de ser escrito, especialmente se tratando de mim - que me considero tão desprovida de certos entendimentos.
Finalmente usei a música como meu último recurso, pois apesar de me sentir inspirada pela matéria, a fadiga tomava conta do meu cérebro e me pregava peças, fazendo com que eu me distraísse com assuntos alheios pouco relevantes.
Abri mais uma de tantas abas já ocupadas do Google e digitei o nome do meu novo vício musical: Pearly Dewdrop's Drops.
A melodia se espalhou pela sala, curando instantaneamente minha exaustão mental.
Entendi, mais uma vez, que eu precisava respeitar os meus limites.
Era isso o que eu vinha aprendendo no último mês. E agora esse tal aprendizado, assim como tantas teorias da comunicação, já não me parecia informação demais.
Não me parecia um peso.
Olhei pra tela do computador e nela havia uma infinidade de palavras sobre as tais teorias da comunicação, de onde me vem partindo inspiração há pouco mais de duas semanas.
Li e reli tudo o que eu havia digitado até aquele momento.
Me pareceu algo inteligente de ser escrito, especialmente se tratando de mim - que me considero tão desprovida de certos entendimentos.
Finalmente usei a música como meu último recurso, pois apesar de me sentir inspirada pela matéria, a fadiga tomava conta do meu cérebro e me pregava peças, fazendo com que eu me distraísse com assuntos alheios pouco relevantes.
Abri mais uma de tantas abas já ocupadas do Google e digitei o nome do meu novo vício musical: Pearly Dewdrop's Drops.
A melodia se espalhou pela sala, curando instantaneamente minha exaustão mental.
Entendi, mais uma vez, que eu precisava respeitar os meus limites.
Era isso o que eu vinha aprendendo no último mês. E agora esse tal aprendizado, assim como tantas teorias da comunicação, já não me parecia informação demais.
Não me parecia um peso.
terça-feira, 29 de março de 2016
Sorvete de limão - Um conto sobre Gustavo
Revirou-se a noite toda em sua própria cama.
Havia vindo de uma festa da empresa, onde bebera pouco mais de duas garrafas de cerveja. A temperatura baixa da bebida piorou a inflamação que vinha tratando na garganta desde o início da semana anterior. E em questão de algumas horas, Gustavo tremia em febre.
A inflamação tomara uma proporção maior, havia piorado drasticamente.
Gustavo tentara de todas as formas se livrar da terrível sensação que consumia seu corpo, mas não encontrava forças. Virara-se para o criado mudo e tomara um gole d'água de seu copo, colocado estrategicamente ali para sanar a sede da madrugada.
A testa suava, o corpo lhe parecia frio, quando na verdade estava completamente quente.
Sussurrou o nome dela.
E então lembrara-se da infância, da história que sua mãe adorava lhe contar sorrindo.
Pouco antes de completar 7 anos, Gustavo adoecera. Pegara uma catapora forte e ficara de cama por aproximadamente três dias.
Em um de seus tantos delírios febris, começou a pedir à mãe por sorvete de limão. Um delírio fraco e inocente, de um garoto que de tanto mal-estar só era capaz de fazer insistentemente o mesmo pedido.
Sorvete de limão era o que Gustavo mais desejava naquele momento. Que pudesse ter qualquer doce, que pudesse se deliciar com qualquer guloseima; a vontade de Gustavo era genuína e bastante sutil: Sorvete de limão.
O garoto passara minutos intermináveis apenas mencionando o seu desejo. A mãe, por receio de piorar a febre e o estado de saúde do garoto, não atendeu.
Gustavo agora sussurrava um nome, sabendo que seu pedido seria igualmente ignorado.
Chamava por Maria Clara. Dizia seu nome em alto e bom som. Há tempos não tinha coragem de pensar sequer em suas iniciais, que dirá dizer o nome todo.
"Maria Clara, que nome lindo", pensara ainda em estado febril.
Se recordava do sorriso dela. Do toque delicado de suas mãos, que sentia ser capaz de materializar naquele exato momento.
Se Maria Clara estivesse ali, se pudesse sentir a sua dor, o seu mal-estar, se muniria de todos os seus recursos para ajudá-lo. Mas ela não tinha sequer como imaginar. Não se falavam há meses. Ele tentara ligar algumas vezes e fora ignorado. Desistira.
Levantou com dificuldade de sua cama, colocou os chinelos de pano e caminhou em direção ao banheiro. Despiu-se de seu pijama e finalmente abriu o chuveiro. Controlou o registro manualmente para que a temperatura diminuísse ao máximo, pois se lembrara dos conselhos de sua mãe em casos de febre. Sentia frio, mas resistiu até onde pôde embaixo d'água. Sentia-se um tanto melhor após se secar o colocar novamente o pijama.
Voltara ao quarto.
Ao consultar o celular para se certificar do horário, vira a mensagem inusitada em sua caixa de entrada:
"A insônia sempre foi o pior dos meus distúrbios. E hoje me lembrei de você. Espero que esse ainda seja o seu número e que você esteja bem, eu gostaria que estivesse. Beijos, M. Clara."
Teria ela escutado o seu chamado? Seria ela capaz de receber a transmissão de um pensamento?
Gustavo agora sentia-se infinitamente melhor. Poderia dormir tranquilo.
Amanhã, sem falta, a procuraria outra vez.
Havia vindo de uma festa da empresa, onde bebera pouco mais de duas garrafas de cerveja. A temperatura baixa da bebida piorou a inflamação que vinha tratando na garganta desde o início da semana anterior. E em questão de algumas horas, Gustavo tremia em febre.
A inflamação tomara uma proporção maior, havia piorado drasticamente.
Gustavo tentara de todas as formas se livrar da terrível sensação que consumia seu corpo, mas não encontrava forças. Virara-se para o criado mudo e tomara um gole d'água de seu copo, colocado estrategicamente ali para sanar a sede da madrugada.
A testa suava, o corpo lhe parecia frio, quando na verdade estava completamente quente.
Sussurrou o nome dela.
E então lembrara-se da infância, da história que sua mãe adorava lhe contar sorrindo.
Pouco antes de completar 7 anos, Gustavo adoecera. Pegara uma catapora forte e ficara de cama por aproximadamente três dias.
Em um de seus tantos delírios febris, começou a pedir à mãe por sorvete de limão. Um delírio fraco e inocente, de um garoto que de tanto mal-estar só era capaz de fazer insistentemente o mesmo pedido.
Sorvete de limão era o que Gustavo mais desejava naquele momento. Que pudesse ter qualquer doce, que pudesse se deliciar com qualquer guloseima; a vontade de Gustavo era genuína e bastante sutil: Sorvete de limão.
O garoto passara minutos intermináveis apenas mencionando o seu desejo. A mãe, por receio de piorar a febre e o estado de saúde do garoto, não atendeu.
Gustavo agora sussurrava um nome, sabendo que seu pedido seria igualmente ignorado.
Chamava por Maria Clara. Dizia seu nome em alto e bom som. Há tempos não tinha coragem de pensar sequer em suas iniciais, que dirá dizer o nome todo.
"Maria Clara, que nome lindo", pensara ainda em estado febril.
Se recordava do sorriso dela. Do toque delicado de suas mãos, que sentia ser capaz de materializar naquele exato momento.
Se Maria Clara estivesse ali, se pudesse sentir a sua dor, o seu mal-estar, se muniria de todos os seus recursos para ajudá-lo. Mas ela não tinha sequer como imaginar. Não se falavam há meses. Ele tentara ligar algumas vezes e fora ignorado. Desistira.
Levantou com dificuldade de sua cama, colocou os chinelos de pano e caminhou em direção ao banheiro. Despiu-se de seu pijama e finalmente abriu o chuveiro. Controlou o registro manualmente para que a temperatura diminuísse ao máximo, pois se lembrara dos conselhos de sua mãe em casos de febre. Sentia frio, mas resistiu até onde pôde embaixo d'água. Sentia-se um tanto melhor após se secar o colocar novamente o pijama.
Voltara ao quarto.
Ao consultar o celular para se certificar do horário, vira a mensagem inusitada em sua caixa de entrada:
"A insônia sempre foi o pior dos meus distúrbios. E hoje me lembrei de você. Espero que esse ainda seja o seu número e que você esteja bem, eu gostaria que estivesse. Beijos, M. Clara."
Teria ela escutado o seu chamado? Seria ela capaz de receber a transmissão de um pensamento?
Gustavo agora sentia-se infinitamente melhor. Poderia dormir tranquilo.
Amanhã, sem falta, a procuraria outra vez.
terça-feira, 22 de março de 2016
Você foi o sorriso mais bonito na multidão
E eu perdi a conta de quantas vezes te disse isso.
E olhei nos teus olhos. E te pedi mais um sorriso.
E você, com esse rosto tão iluminado, tão característico, tão único, me ofereceu.
Não sei bem quantos sorrisos você já me deu. E não existe um que tenha sido mais bonito.
Todos os teus são teus, mas até o menor deles é o mais belo dentre todos os outros que eu já vi.
De todos os sorrisos que já me apareceram, o teu é o mais bonito nessa multidão.
Porque é o teu.
Porque dele vem a felicidade que eu provoco.
Porque é nele que eu mergulho pra fugir do mundo.
Pra fugir e me achar em você.
E no teu sorriso. Que é o mais bonito dentre todos os dessa multidão.
E olhei nos teus olhos. E te pedi mais um sorriso.
E você, com esse rosto tão iluminado, tão característico, tão único, me ofereceu.
Não sei bem quantos sorrisos você já me deu. E não existe um que tenha sido mais bonito.
Todos os teus são teus, mas até o menor deles é o mais belo dentre todos os outros que eu já vi.
De todos os sorrisos que já me apareceram, o teu é o mais bonito nessa multidão.
Porque é o teu.
Porque dele vem a felicidade que eu provoco.
Porque é nele que eu mergulho pra fugir do mundo.
Pra fugir e me achar em você.
E no teu sorriso. Que é o mais bonito dentre todos os dessa multidão.
quarta-feira, 16 de março de 2016
Enganada por sua própria necessidade de apego - Um conto sobre Olívia
Essa é a história de Olívia.
Com 18 anos - e após mais uma desilusão - resolveu que finalmente conheceria o outro lado da vida. O lado B. De beijos intensos, de flertes e calores desconhecidos. E mesmo assim, após a infinita sequência de noites mal dormidas, de paixões noturnas, viu-se mais uma vez encantada por um rapaz. Alguém que julgou ser diferente daquela maioria que não oferecia mais que breves desejos, sem qualquer carinho, sem qualquer assistência emocional.
Enganada por sua própria necessidade de apego, resolveu oferecer uma chance àquele novo e possível amor.
Ele era calmo, educado. Vinha de uma família sem danos, sem traumas. Olívia se identificara com tais padrões e agora desejara paz. Se jogou na relação, mesmo sabendo que ele, apesar de cultivar carinho por ela, ainda amava a ex.
Passaram a se encontrar com frequência. Ele perguntava-lhe sobre seu dia, suas inquietações, seus horários. Dizia-lhe coisas doces, ternas. Cobrava-lhe saudade, presença. E finalmente, Olívia entendeu que deveria ser ele. Aquele que lhe cuidaria, que lhe salvaria do mundo louco no qual havia entrado por pura pirraça.
Passadas algumas semanas, Olívia via-se esforçando ao máximo para capturar tudo de bom que ele poderia sentir por ela. Percebera agora que, apesar de bondoso, ele possuía alguns defeitos. Mas, quem não os tem?
Num dado momento sentira necessidade de falar aos seus bons e velhos amigos de outrora, e num ato excessivo, seu novo namorado a proibira, alegando não existir amizade sincera entre homens e mulheres.
Tomada pela necessidade de manter a relação que julgava - quase - perfeita, aceitou as condições.
Olívia passara a ignorar as mensagens, as chamadas e os convites. Na sua convicção, já não fazia sentido alimentar algo que ''seu futuro marido'' julgava ser completamente fora de propósito.
Passado um período um pouco maior, as discussões se iniciaram com mais frequência. Desta vez, eram as roupas de Olívia que incomodavam. O short de cintura alta, o allstar pink que tanto gostava, os blazes estampados com imagens abstratas, o delineador preto em seus olhos.
Algo lhe parecia completamente errado, pois o ''grande amor de sua vida'' agora se recusava a sair se Olívia estivesse usando uma roupa ''fora dos padrões'', mesmo que isso representasse sua identidade. De sua boca, passara a escutar que tais roupas lhe deixavam ''ridícula''.
Decidida a amenizar os problemas em sua relação, passou a procurar roupas mais casuais.
Possuía um corpo magro e bonito, e nesse caso era muito difícil que uma roupa qualquer lhe caísse mal. Adotou uma identidade visual que não lhe parecia em nada com seus gostos, mas manteve.
Percebia agora que seu tão estimado namorado levantava a voz até pelo menor motivo. Se esquivava de entrar em redes sociais na sua presença e, por mais apaixonado que fosse, não lhe levava de forma alguma aos encontros de amigos da faculdade.
Ao invés disso, preferia deixar-lhe em casa, com orientações de SOMENTE sair na presença de sua mãe.
Ela finalmente percebeu a regressão de sua vida. Havia mudado e essa mudança sequer valia a pena.
Deixara tudo o que amava pra trás, e esse ato não era minimamente reconhecido.
Desconfiava quase todo o tempo das intenções de seu ''príncipe encantado'' perante as garotas da faculdade. E se submetia a tudo o que a mãe do rapaz queria e esperava dela, mesmo quando lhe parecia responsabilidade demais.
Passou a perder aniversários de família e o ápice de sua tristeza, foi perder a oportunidade de estar com o próprio pai no Dia dos Pais daquele ano e fazê-lo pelo simples fato de querer agradar à família de seu querido amado.
Olhou-se no espelho certa vez e não se reconheceu. Não identificava mais quem era e quem de fato queria ser. E passou a achar-se sempre feia, com a insistência do namorado que dizia ''Você tem que ser normal, ainda é muito diferente das outras meninas. Isso não é bom."
Finalmente, em uma de suas tantas discussões, ela resolveu partir daquela relação. Ele se recusara a aceitar. Gritara, injuriara e finalmente, chorara diante dela.
Comovida, Olívia viu-se disposta a dar-lhe uma segunda chance, visto que aquele lhe parecia o amor de sua vida.
Passando meses conturbados entre discussões leves e cobranças desmedidas, ela percebera nele a falta de pudor em lidar com as garotas que o procuravam. Sentia-se sozinha e buscava quem pudesse ajudá-la a resolver as questões que surgiam em sua cabeça, mas já não tinha quem estivesse à sua disposição. Seu grande amor havia afastado alguns de seus melhores amigos com insinuações. Outros amigos, a assistiam de longe sem que pudessem se intrometer. Seu grande amor havia deixado claro que considerava suas amigas como más influências, e Olívia - ingênua - acatara.
Após mais um desentendimento banal, ela finalmente decidira ir embora. Dessa vez, seu amado fora mais longe: A puxara pelo braço, deixando uma marca roxa. Depois, com esforço e mais algumas lágrimas, a convencera de ficar, de tentar novamente. Prometera mudar. Pedia-lhe perdão por estar tão descontrolado e jogava a responsabilidade desse ato no fato de não se sentir amado pela mãe, que preferia o irmão mais novo.
Olívia já sabia que não o amava. Que talvez nunca o tivesse amado.
Tinha consciência de tudo o que perdera em prol de amor que não representava mais nada.
Buscou refúgio. Sem faltar com respeito, sem ignorar sua relação, sem ofender ninguém.
Num de seus surtos de ciúmes, seu grande amado fuçou sua bolsa até localizar seu celular. Nele, encontrou uma única mensagem e isso bastou. Olívia, que jamais traíra o namorado, que já aguentara humilhações que incluíam vê-lo flertando descaradamente com outra mulher, agora era a moça mais promíscua e vulgar de que se tinha conhecimento.
Olívia, que se esforçara ao máximo pelo relacionamento, agora era chamada de vagabunda, mentirosa e todos os outros xingamentos que ele encontrou pra justificar uma mensagem que dizia ''Eu gostaria que você estivesse aqui para conversar comigo''.
Precisou levar o pouco que ainda restava de si.
Chorou. Desejou não ter ouvido tudo o que ouviu. Mas, em seu íntimo, Olívia agora era livre. E ela bem sabia disso.
Poderia recomeçar em qualquer lugar, sendo apenas quem ela era. E isso bastava naquele momento.
Com 18 anos - e após mais uma desilusão - resolveu que finalmente conheceria o outro lado da vida. O lado B. De beijos intensos, de flertes e calores desconhecidos. E mesmo assim, após a infinita sequência de noites mal dormidas, de paixões noturnas, viu-se mais uma vez encantada por um rapaz. Alguém que julgou ser diferente daquela maioria que não oferecia mais que breves desejos, sem qualquer carinho, sem qualquer assistência emocional.
Enganada por sua própria necessidade de apego, resolveu oferecer uma chance àquele novo e possível amor.
Ele era calmo, educado. Vinha de uma família sem danos, sem traumas. Olívia se identificara com tais padrões e agora desejara paz. Se jogou na relação, mesmo sabendo que ele, apesar de cultivar carinho por ela, ainda amava a ex.
Passaram a se encontrar com frequência. Ele perguntava-lhe sobre seu dia, suas inquietações, seus horários. Dizia-lhe coisas doces, ternas. Cobrava-lhe saudade, presença. E finalmente, Olívia entendeu que deveria ser ele. Aquele que lhe cuidaria, que lhe salvaria do mundo louco no qual havia entrado por pura pirraça.
Passadas algumas semanas, Olívia via-se esforçando ao máximo para capturar tudo de bom que ele poderia sentir por ela. Percebera agora que, apesar de bondoso, ele possuía alguns defeitos. Mas, quem não os tem?
Num dado momento sentira necessidade de falar aos seus bons e velhos amigos de outrora, e num ato excessivo, seu novo namorado a proibira, alegando não existir amizade sincera entre homens e mulheres.
Tomada pela necessidade de manter a relação que julgava - quase - perfeita, aceitou as condições.
Olívia passara a ignorar as mensagens, as chamadas e os convites. Na sua convicção, já não fazia sentido alimentar algo que ''seu futuro marido'' julgava ser completamente fora de propósito.
Passado um período um pouco maior, as discussões se iniciaram com mais frequência. Desta vez, eram as roupas de Olívia que incomodavam. O short de cintura alta, o allstar pink que tanto gostava, os blazes estampados com imagens abstratas, o delineador preto em seus olhos.
Algo lhe parecia completamente errado, pois o ''grande amor de sua vida'' agora se recusava a sair se Olívia estivesse usando uma roupa ''fora dos padrões'', mesmo que isso representasse sua identidade. De sua boca, passara a escutar que tais roupas lhe deixavam ''ridícula''.
Decidida a amenizar os problemas em sua relação, passou a procurar roupas mais casuais.
Possuía um corpo magro e bonito, e nesse caso era muito difícil que uma roupa qualquer lhe caísse mal. Adotou uma identidade visual que não lhe parecia em nada com seus gostos, mas manteve.
Percebia agora que seu tão estimado namorado levantava a voz até pelo menor motivo. Se esquivava de entrar em redes sociais na sua presença e, por mais apaixonado que fosse, não lhe levava de forma alguma aos encontros de amigos da faculdade.
Ao invés disso, preferia deixar-lhe em casa, com orientações de SOMENTE sair na presença de sua mãe.
Ela finalmente percebeu a regressão de sua vida. Havia mudado e essa mudança sequer valia a pena.
Deixara tudo o que amava pra trás, e esse ato não era minimamente reconhecido.
Desconfiava quase todo o tempo das intenções de seu ''príncipe encantado'' perante as garotas da faculdade. E se submetia a tudo o que a mãe do rapaz queria e esperava dela, mesmo quando lhe parecia responsabilidade demais.
Passou a perder aniversários de família e o ápice de sua tristeza, foi perder a oportunidade de estar com o próprio pai no Dia dos Pais daquele ano e fazê-lo pelo simples fato de querer agradar à família de seu querido amado.
Olhou-se no espelho certa vez e não se reconheceu. Não identificava mais quem era e quem de fato queria ser. E passou a achar-se sempre feia, com a insistência do namorado que dizia ''Você tem que ser normal, ainda é muito diferente das outras meninas. Isso não é bom."
Finalmente, em uma de suas tantas discussões, ela resolveu partir daquela relação. Ele se recusara a aceitar. Gritara, injuriara e finalmente, chorara diante dela.
Comovida, Olívia viu-se disposta a dar-lhe uma segunda chance, visto que aquele lhe parecia o amor de sua vida.
Passando meses conturbados entre discussões leves e cobranças desmedidas, ela percebera nele a falta de pudor em lidar com as garotas que o procuravam. Sentia-se sozinha e buscava quem pudesse ajudá-la a resolver as questões que surgiam em sua cabeça, mas já não tinha quem estivesse à sua disposição. Seu grande amor havia afastado alguns de seus melhores amigos com insinuações. Outros amigos, a assistiam de longe sem que pudessem se intrometer. Seu grande amor havia deixado claro que considerava suas amigas como más influências, e Olívia - ingênua - acatara.
Após mais um desentendimento banal, ela finalmente decidira ir embora. Dessa vez, seu amado fora mais longe: A puxara pelo braço, deixando uma marca roxa. Depois, com esforço e mais algumas lágrimas, a convencera de ficar, de tentar novamente. Prometera mudar. Pedia-lhe perdão por estar tão descontrolado e jogava a responsabilidade desse ato no fato de não se sentir amado pela mãe, que preferia o irmão mais novo.
Olívia já sabia que não o amava. Que talvez nunca o tivesse amado.
Tinha consciência de tudo o que perdera em prol de amor que não representava mais nada.
Buscou refúgio. Sem faltar com respeito, sem ignorar sua relação, sem ofender ninguém.
Num de seus surtos de ciúmes, seu grande amado fuçou sua bolsa até localizar seu celular. Nele, encontrou uma única mensagem e isso bastou. Olívia, que jamais traíra o namorado, que já aguentara humilhações que incluíam vê-lo flertando descaradamente com outra mulher, agora era a moça mais promíscua e vulgar de que se tinha conhecimento.
Olívia, que se esforçara ao máximo pelo relacionamento, agora era chamada de vagabunda, mentirosa e todos os outros xingamentos que ele encontrou pra justificar uma mensagem que dizia ''Eu gostaria que você estivesse aqui para conversar comigo''.
Precisou levar o pouco que ainda restava de si.
Chorou. Desejou não ter ouvido tudo o que ouviu. Mas, em seu íntimo, Olívia agora era livre. E ela bem sabia disso.
Poderia recomeçar em qualquer lugar, sendo apenas quem ela era. E isso bastava naquele momento.
segunda-feira, 7 de março de 2016
terça-feira, 1 de março de 2016
DespertaDOR
Minha vida desperta, todos os dias. Outra vez.
Toma de mim tudo o que era meu. Tudo diverge entre si. E eu me perdi de novo.
O alarme me acorda. Eis o mal de acordar para um pesadelo, e não DE um pesadelo. Que é a vida real.
Nesse tom acinzentado. Lá fora tudo tem essa mesma cor. Esse aspecto triste de uma vidinha alheia e espiritualmente pobre. Nada se aprende. Nada se ensina. Tudo se desassocia. Acho até que perdi a fé.
Não sou mais tão bonita. E agora acho que nunca fui.
Não sou mais eu. E não sou nada.
Meus sonhos são cenas distorcidas de filmes que eu já vi, de coisas que eu já vivi. Que foram minhas e agora não me pertencem.
Minha vida desperta. E com ela, a dor do despertar. Esse despertar sem anseios.
O despertador humano de todos os invernos. E verões. E outonos.
Porque já não cabe primavera dentro de mim.
Toma de mim tudo o que era meu. Tudo diverge entre si. E eu me perdi de novo.
O alarme me acorda. Eis o mal de acordar para um pesadelo, e não DE um pesadelo. Que é a vida real.
Nesse tom acinzentado. Lá fora tudo tem essa mesma cor. Esse aspecto triste de uma vidinha alheia e espiritualmente pobre. Nada se aprende. Nada se ensina. Tudo se desassocia. Acho até que perdi a fé.
Não sou mais tão bonita. E agora acho que nunca fui.
Não sou mais eu. E não sou nada.
Meus sonhos são cenas distorcidas de filmes que eu já vi, de coisas que eu já vivi. Que foram minhas e agora não me pertencem.
Minha vida desperta. E com ela, a dor do despertar. Esse despertar sem anseios.
O despertador humano de todos os invernos. E verões. E outonos.
Porque já não cabe primavera dentro de mim.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Quando eu era menina...
Quando eu era menina, o meu sonho - aquele grande e imensurável sonho - era ter a minha mãe de volta, completa, inteira, com tudo o que diziam fazer parte das verdadeiras características dela. Passei anos a fio rezando todas as noites, pedindo a tudo o que eu acreditava, que a trouxesse de volta, feito um milagre. Pra que eu a conhecesse, pra que ela me conhecesse. Pra que me ensinasse, pra que me amasse, ou apenas se lembrasse de mim.
Por merecimento da vida, ou por mero acaso - o que eu duvido muito - ela retornou a mim. A nós. Voltou a tona de uma doença que consumiu sua consciência por exaustivos sete anos.
Venceu mais uma porção de desafios, como era de se supor que ela faria.
Voltou a tempo de aturar minhas crises adolescentes, meu gênio contrário, meu mal-humor. Voltou sendo obrigada a se reconstruir, e recomeçar. Voltou a tempo de se apaixonar pelo mesmo homem.
E voltou, pra ser a guerreira que todos diziam que ela fora desde então.
Mas... lamentavelmente, voltou pra ser destratada em empregos ingratos, de pessoas que jamais seriam metade de tudo o que ela foi - e ainda é.
Voltou pra ser obrigada a ouvir piadinhas a seu respeito. Voltou pra ser hostilizada por pessoas mal-educadas, mal-amadas, mal-resolvidas. Voltou pra ouvir que sua presença no ambiente profissional não fazia qualquer diferença. Voltou pra ter medo de se reportar aos seus superiores, no receio de sofrer possíveis represálias.
Voltou pra tentar executar um trabalho que nunca fora visto pelas pessoas ali como algo grandioso.
Voltou pra resistir à vontade de ir novamente.
De todas as poesias que eu poderia escrever para expressar o meu amor, de todos os perdões que eu deveria pedir todas as vezes em que me excedi e perdi a paciência, de todas as músicas compostas por ela que aprendi a tocar, tudo o que posso fazer hoje por ela é agradecer e lamentar.
Agradecer: Por um novo ciclo. Por vê-la se afastando de pessoas baixas e pequenas. Por estarmos juntas e sermos uma pela outra.
Lamentar: As pessoas que mencionei, essas tantas que já a destrataram, perderam a chance de ter por elas a pessoa maravilhosa que minha mãe é. E perderam a chance de aprender com ela o que é respeitar o ser humano, acima de tudo, pois eu sei, que ela me criou pra nunca maltratar a mãe de ninguém.
Por merecimento da vida, ou por mero acaso - o que eu duvido muito - ela retornou a mim. A nós. Voltou a tona de uma doença que consumiu sua consciência por exaustivos sete anos.
Venceu mais uma porção de desafios, como era de se supor que ela faria.
Voltou a tempo de aturar minhas crises adolescentes, meu gênio contrário, meu mal-humor. Voltou sendo obrigada a se reconstruir, e recomeçar. Voltou a tempo de se apaixonar pelo mesmo homem.
E voltou, pra ser a guerreira que todos diziam que ela fora desde então.
Mas... lamentavelmente, voltou pra ser destratada em empregos ingratos, de pessoas que jamais seriam metade de tudo o que ela foi - e ainda é.
Voltou pra ser obrigada a ouvir piadinhas a seu respeito. Voltou pra ser hostilizada por pessoas mal-educadas, mal-amadas, mal-resolvidas. Voltou pra ouvir que sua presença no ambiente profissional não fazia qualquer diferença. Voltou pra ter medo de se reportar aos seus superiores, no receio de sofrer possíveis represálias.
Voltou pra tentar executar um trabalho que nunca fora visto pelas pessoas ali como algo grandioso.
Voltou pra resistir à vontade de ir novamente.
De todas as poesias que eu poderia escrever para expressar o meu amor, de todos os perdões que eu deveria pedir todas as vezes em que me excedi e perdi a paciência, de todas as músicas compostas por ela que aprendi a tocar, tudo o que posso fazer hoje por ela é agradecer e lamentar.
Agradecer: Por um novo ciclo. Por vê-la se afastando de pessoas baixas e pequenas. Por estarmos juntas e sermos uma pela outra.
Lamentar: As pessoas que mencionei, essas tantas que já a destrataram, perderam a chance de ter por elas a pessoa maravilhosa que minha mãe é. E perderam a chance de aprender com ela o que é respeitar o ser humano, acima de tudo, pois eu sei, que ela me criou pra nunca maltratar a mãe de ninguém.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Agonizando. De vez em quando.
Eu sofro de gastrite nervosa. Sofro de estresse crônico. De uma gripe que
adquiri com 12 anos e nunca mais curei.
Eu sofro de traumas leves. E dores pesadas.
Eu sofro de ausência. De saudade. De temer ser quem quer que
eu seja, só pela metade.
Eu sofro de sinusite. De rinite. De todos esses “Itis” que
cercam a minha geração.
Eu sofro de pensamentos nocivos, que cobrem o lado bom da
vida, de vez em quando.
Eu sofro de invasão. E sofro de solidão.
Eu sofro de ser só eu. E ser tantas. E todos, ao mesmo
tempo.
Eu sofro problemas que nem sempre são meus.
Sofro de ansiedade e agonia.
Porque é um sofrimento só meu, que me mostra um pouco de
vida estremecida.
Eu sofro de viver agonizando, de vez em quando.
Eu sofro de viver agonizando, de vez em quando.
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