Eu já me sentia profundamente irritada. O trânsito terrível que me perseguiu, o transporte público com lotação máxima, os seus 12 intermináveis minutos de atraso.
Mesmo que eu caminhasse e conversasse com você, sabia que aquele não era um dia bom pra mim, como naquela frase em que ouvi muitas vezes, de que há dias em que ''nem deveríamos ter saído da cama". Suas brincadeiras me irritavam. Sua paciência em lidar com qualquer circunstâncias me incomodava - talvez pela minha tremenda inveja de te ver resolver problemas sem nenhum desespero emocional.
E foi ali que tudo começou. A minha sequência de queixas, de frustrações diárias, sendo cuspidas por mim ao final do que deveria ser uma linda e deliciosa tarde de sábado. Questionei tudo o que era passível de questionamento e seguimos novamente para a minha casa.
As poucas palavras durante o trajeto foram só mais uma forma de despejar mais uma porção de queixas e críticas, e finalmente chegamos.
Subi as escadas nervosa. Tirei meus sapatos, troquei a calça preta pela bermuda do pijama e deitei próxima do espaço que me sobrou, logo depois de você também se deitar.
Voltamos às nossas queixas. Eu me perdi numa frase e no auge do que deveria ser uma discussão séria, você me veio com uma piadinha cretina - mas extremamente engraçada.
Olhamos um para o outro e de repente começamos a rir feito um belo par de idiotas.
Em questão de segundos, você me tomou pelo braço e disse algo como: ''não vamos brigar, vai... vem cá que eu quero te dar um beijo". E eu beijei.
Simples assim. Como se todos os conflitos do mundo pudessem ser sanados por um lábio carnudo, um beijo molhado, por um abraço acolhedor ou uma piada propícia.
Como se todas as guerras pudessem ser cessadas com um sorriso largo e aberto.
sábado, 5 de novembro de 2016
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