THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Ansiedade romantizada

Puxou mais uma vez minha mão e apoiou no próprio peito. Ele normalmente faz isso quando a ansiedade fica latente e o coração dispara inesperadamente.
E isso eventualmente acontece quando eu me meto a falar sobre sentimentos.

As pupilas dilatam e voltam ao seu tamanho normal com a mesma rapidez com a qual ele pisca enquanto me analisa.
- Os seus olhos são tão bonitos - Eu menciono isso todas as vezes e me frustro comigo mesma por perceber que o meu elogio é sempre tão repetitivo e óbvio. Talvez eu devesse ser um tanto mais criativa ao falar de algo que me cause tamanha comoção.
Mas não consigo não fazê-lo desse modo.
E, por algum motivo, é assim que ele se acalma e os batimentos cardíacos se estabilizam.

- Não só os olhos - Eu me corrijo, ainda tentando encontrar as palavras certas enquanto me sinto completamente despida com a forma que ele tem de me olhar e me enxergar com tanta profundidade.

Acabo me perdendo no que eu ia dizer e ele sorri tentando descobrir mais sobre a minha breve aflição.
Quero dizer que eu o acho lindo. Isso eu também já repeti demais.
Minha maior questão é conciliar o que eu vejo tão perfeitamente desenhado e ainda assim saber que o que tem de mais fascinante nele é o coração. E eu posso afirmar: deve caber um mundo inteiro dentro dele.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Eu não minto há oito anos - Um conto sobre sinceridade agridoce

"Eu não minto há oito anos"
Dentre tantas frases que poderiam ter me marcado naquela noite de quarta-feira, a mais improvável e talvez mais impactante que eu ouvi nos últimos meses foi justamente essa.
Você já ouviu isso antes? Ou qualquer coisa parecida que caracterizasse toda a honestidade de alguém que, nem por educação, mente?
Tanta realidade exprimida numa frase tão simples e tão curta me causou um sério espanto e um deleite estranho.
- Por que você não mente? - Eu perguntei intrigada, sem conseguir desviar os olhos do rosto dele por um instante sequer.
- Porque é muito mais fácil viver sem ter que mentir. Poder dizer a verdade o tempo todo. Eu não minto para ser agradável, não digo gostar de algo que não gostei. E percebi que a vida fica melhor assim.

Tanta obviedade num ponto de vista tão justo. E eu continuava olhando-o como se ele fosse uma espécie incrivelmente rara.
- Gosto disso. Se você não mente, eu nunca vou precisar duvidar das suas respostas - Eu havia encontrado uma ótima maneira de estabelecer confiança na pessoa que eu acabara de conhecer pessoalmente - mas que, de algum modo, eu sentia conhecer há tempos.






quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Inquietação seguida de acalento

São olhos puxados. Mas não do mesmo modo. Com esses, eu não tinha qualquer familiaridade anterior. Esses, possuem uma beleza diferente. São de outra etnia. E já era esperado que eu me deixasse encantar.
Deixo que sejam esses os olhos a me seguir para tudo o que trago desse momento. Nada esses olhos me trazem que não seja inquietação, seguida de acalento.
As vezes os percebo me analisando, tomando de mim verdades que nem eu mesma assumo.
Me decifram e me calam. Quando me dou conta, já me perdi. Ele me escuta o tempo todo.
E guarda todas as memórias de tudo o que eu despejo como um jogo de palavras. Ele tem fascinação pelo meu modo de me expressar. Já vi essa fascinação exalando por aí, por isso, pra mim, as vezes é meio difícil acreditar.
Ele continua fazendo de mim uma leitura que eu não queria permitir, mas que permito sem nem mesmo exitar.

Por que ele ainda não se despediu?
Acho que a resposta é porque ele quer ficar.