Ela se atrasou, mas justificou com a gentileza de sempre, parecendo grata por eu estar ali honrando o compromisso combinado.
Abriu a porta do carro e olhou atônita para as luzes do som que trazia uma altura considerável, no qual tocava músicas ''estranhas'' das quais ela nunca gostou. Eu tive certeza de que ela reclamaria da escolha daquela trilha sonora, e antes que pudesse fazê-lo, comecei a apertar o botão de sequência para encontrar algo que ela gostasse de ouvir.
Deixei em uma das minhas preferidas. Sabia que se ela não conhecesse, ao menos passaria a apreciar após alguns segundos.
Mas, ela já havia escutado antes. E isso ficou bastante óbvio pra mim em seguida.
Paramos em um dos faróis que a avenida da lanchonete trazia e pouco antes de engatar a marcha novamente, percebi que ela escondia o rosto, virando-o para a janela, deixando que os cabelos soltos caíssem sob seus olhos e ombros. Ela deixara escorrer lágrimas tristes ao som daquela música e eu rapidamente compreendi isso muito bem. Me inclinei indicando que trocaria de canção e ela logo me advertiu para que eu não o fizesse.
Olhei-a sem conseguir responder. Não queria invadi-la perguntando a razão de tamanha tristeza.
Ela começou a enxugar as lágrimas com as costas das mãos, que agora ficavam molhadas e escuras, cheias de resíduos da sua maquiagem.
Seguiu calada e num dado momento me olhou com ternura. Em seguida sorriu, parecendo aliviada como se quisesse me agradecer por eu estar ali, mesmo sem dizer uma palavra sequer.
Se justificou me dizendo que jamais ouviria a música Simple Man de Lynyrd Skynyrd sem sentir o peso da saudade no peito.
Ainda estávamos no outono. Era 9 de junho.
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