THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Conquistas banais - Fragmentos Perdidos

Ele me importuna com perguntas óbvias. Acho que é porque ele sabe que mesmo tentando ignorá-lo, eu vou responder.
Ainda me lembro da primeira vez que pus meus olhos nele. Fazia frio naquela noite, o típico frio de um outono. A primeira coisa que notei nele foram os cabelos, semelhantes àquele estereotipo pelo qual me fascinava até então. Falava com mais dois garotos, enquanto acendia o cigarro há mais de três metros de mim, na mesma calçada cheia de adolescentes.
Me aproximei e comecei a fitá-lo. Eu sempre faço isso. Uso minha primeira arma - a cara lavada de santa - e finjo não me interessar pelo que mais me chama atenção. Fiquei lá, estática, fingindo pensar na vida, passando a mão pelos cabelos - na época ainda compridos - e apenas esperei.
Ele me notaria e eu sabia, tanto que logo me notou, como eu bem queria. "Garota sem vergonha, sempre consegue tudo o que quer, não é?" foi o que eu pensei, com ar sadicamente prazeroso.
Ele me pediu o isqueiro.
Foi a desculpa mais esfarrapada que já ouvi. Afinal, ele notou que me aproximei dele, como poderia não ter notado que eu o havia visto fumando antes mesmo de chegar perto de mim? Mas até entendo, deve ter sido a única coisa na qual ele pensou naquele instante. Eu cedi o isqueiro - na época em que fumava meu ridículo L.A sabor cereja - e isso foi o suficiente pra tentar puxar um assunto qualquer. Eu apenas mencionei que ele se parecia com um dos beatles, e ele se encostou na parede usando os pés como apoio do mesmo jeito que eu fazia. Tentou parecer entretido no assunto. Acho que a primeira lição que esses garotos aprendem é a de como se manterem atentos a uma conversa inútil com uma possível conquista.
Foi o que ele fez. Não me lembro de tê-lo visto fitando meu decote (quase inexistente, diga-se de passagem) ou paralisado pela grossura dos meus lábios, perdido no que eu poderia ou não fazer com eles. Ele apenas conversou. Levantava a sobrancelha parecendo saber exatamente do que eu falava, mesmo quando eu citava algo que tinha certeza que ele poderia não conhecer. Usou comigo a expressão facil que mais tarde eu aprendi a distinguir como "dissimulada"

Criação em: Maio/2012


Nenhum comentário: