Essa é a história de Clarice.
Deixara seus conceitos de lado e abandonara o medo de se reaproximar de seu melhor amigo, com quem já não falava há pouco mais de três meses.
Lembrava-se da última conversa. Das mensagens incompreendidas, dos tons irônicos, das injúrias, dos maus julgamentos e de toda a falta de amor e carinho que parecia existir naquela discussão calorosa, onde qualquer reconciliação parecia distante demais.
Lembrava-se de todas as vezes em que seu amado protetor lhe buscara no curso de pintura. Nas incontáveis vezes em que lhe escreveu cartas, lhe entregou fotos, lhe dividiu a vida e o que de melhor poderia haver nela. Já não era capaz de recordar quantas vezes havia sido feliz ao lado daquele que por amor, parecia lhe compreender tão bem - mesmo que não houvesse qualquer envolvimento físico entre os dois.
Clarice entendera que talvez, pela proporção do sentimento que ainda alimentava, devesse ir até seu tão querido conselheiro. O que ela não compreendia era o tamanho engano que fazia se dando essa opção.
Pablo já não era o mesmo. Não era igual.
As incontáveis semanas vividas em afastamento haviam sido suficientes pra que ele, por vontade, quisesse apagá-la de sua vida e de seu convívio.
Quando puxara um assunto qualquer, Clarice percebera nele uma profunda falta de ânimo em lhe responder. Perguntava-lhe sobre a vida, sobre seu cotidiano, seu novo emprego e sua família; e ele lhe respondera de forma breve e desinteressada.
Finalmente, Clarice decidiu confrontá-lo. Escreveu um longo e-mail expressando o modo como se sentia. E sua surpresa veio em seguida.
Pablo lhe dissera com todas as letras em resposta que ela já não poderia fazer parte de seu mundo, que já não era tão necessária e que lhe carregar parecia um peso desproporcional ao resultado, visto que sempre acabavam brigando e se machucando.
Clarice tentava entender todas as informações expostas ali, enquanto chorava e soluçava de tamanha tristeza. Ele fora incisivo: Não possuía mais amor ou consideração por ela. Pelo menos, não na proporção anterior. E então, Clarice entendeu que era tarde demais.
Algo havia se partido, se quebrado por completo.
A moça perdeu a noção do que havia sido real e do que era meramente fantasioso. Queria acreditar que em algum momento havia sido importante, mas não podia. Era nítida a falta que ela não fazia.
Clarice finalmente entendera o que seu pai um dia lhe havia dito: Tudo na vida tem um prazo.
O prazo de Pablo em sua vida havia se esgotado. E agora ela entendia bem.
Não desejava forçar sua presença. Não desejava ter menos do que poderia. E então, disse adeus.
Rasgou as cartas e o velho poema em espanhol que ele havia lhe escrito em caráter de brincadeira.
Jogara fora a pelúcia que ganhara de seu amigo num parque de diversões.
Se desfizera da foto pendurada em seu mural de memórias.
Excluíra de seu celular todas as músicas que havia aprendido a apreciar por influência dele.
Livrou-se dos pesos e da dor que uma partida tão abrupta lhe causara.
Clarice guardara o melhor de si. Haveria outro bom amigo pra quem entregar.
Ela jamais voltaria a ser quem havia sido ao lado de Pablo - aquele que lhe prometera amizade e amor infinitos, quando pensavam que seriam.
Mesmo que nenhum dos dois fosse, de fato, infinito.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário