Essa é a história de Olívia.
Com 18 anos - e após mais uma desilusão - resolveu que finalmente conheceria o outro lado da vida. O lado B. De beijos intensos, de flertes e calores desconhecidos. E mesmo assim, após a infinita sequência de noites mal dormidas, de paixões noturnas, viu-se mais uma vez encantada por um rapaz. Alguém que julgou ser diferente daquela maioria que não oferecia mais que breves desejos, sem qualquer carinho, sem qualquer assistência emocional.
Enganada por sua própria necessidade de apego, resolveu oferecer uma chance àquele novo e possível amor.
Ele era calmo, educado. Vinha de uma família sem danos, sem traumas. Olívia se identificara com tais padrões e agora desejara paz. Se jogou na relação, mesmo sabendo que ele, apesar de cultivar carinho por ela, ainda amava a ex.
Passaram a se encontrar com frequência. Ele perguntava-lhe sobre seu dia, suas inquietações, seus horários. Dizia-lhe coisas doces, ternas. Cobrava-lhe saudade, presença. E finalmente, Olívia entendeu que deveria ser ele. Aquele que lhe cuidaria, que lhe salvaria do mundo louco no qual havia entrado por pura pirraça.
Passadas algumas semanas, Olívia via-se esforçando ao máximo para capturar tudo de bom que ele poderia sentir por ela. Percebera agora que, apesar de bondoso, ele possuía alguns defeitos. Mas, quem não os tem?
Num dado momento sentira necessidade de falar aos seus bons e velhos amigos de outrora, e num ato excessivo, seu novo namorado a proibira, alegando não existir amizade sincera entre homens e mulheres.
Tomada pela necessidade de manter a relação que julgava - quase - perfeita, aceitou as condições.
Olívia passara a ignorar as mensagens, as chamadas e os convites. Na sua convicção, já não fazia sentido alimentar algo que ''seu futuro marido'' julgava ser completamente fora de propósito.
Passado um período um pouco maior, as discussões se iniciaram com mais frequência. Desta vez, eram as roupas de Olívia que incomodavam. O short de cintura alta, o allstar pink que tanto gostava, os blazes estampados com imagens abstratas, o delineador preto em seus olhos.
Algo lhe parecia completamente errado, pois o ''grande amor de sua vida'' agora se recusava a sair se Olívia estivesse usando uma roupa ''fora dos padrões'', mesmo que isso representasse sua identidade. De sua boca, passara a escutar que tais roupas lhe deixavam ''ridícula''.
Decidida a amenizar os problemas em sua relação, passou a procurar roupas mais casuais.
Possuía um corpo magro e bonito, e nesse caso era muito difícil que uma roupa qualquer lhe caísse mal. Adotou uma identidade visual que não lhe parecia em nada com seus gostos, mas manteve.
Percebia agora que seu tão estimado namorado levantava a voz até pelo menor motivo. Se esquivava de entrar em redes sociais na sua presença e, por mais apaixonado que fosse, não lhe levava de forma alguma aos encontros de amigos da faculdade.
Ao invés disso, preferia deixar-lhe em casa, com orientações de SOMENTE sair na presença de sua mãe.
Ela finalmente percebeu a regressão de sua vida. Havia mudado e essa mudança sequer valia a pena.
Deixara tudo o que amava pra trás, e esse ato não era minimamente reconhecido.
Desconfiava quase todo o tempo das intenções de seu ''príncipe encantado'' perante as garotas da faculdade. E se submetia a tudo o que a mãe do rapaz queria e esperava dela, mesmo quando lhe parecia responsabilidade demais.
Passou a perder aniversários de família e o ápice de sua tristeza, foi perder a oportunidade de estar com o próprio pai no Dia dos Pais daquele ano e fazê-lo pelo simples fato de querer agradar à família de seu querido amado.
Olhou-se no espelho certa vez e não se reconheceu. Não identificava mais quem era e quem de fato queria ser. E passou a achar-se sempre feia, com a insistência do namorado que dizia ''Você tem que ser normal, ainda é muito diferente das outras meninas. Isso não é bom."
Finalmente, em uma de suas tantas discussões, ela resolveu partir daquela relação. Ele se recusara a aceitar. Gritara, injuriara e finalmente, chorara diante dela.
Comovida, Olívia viu-se disposta a dar-lhe uma segunda chance, visto que aquele lhe parecia o amor de sua vida.
Passando meses conturbados entre discussões leves e cobranças desmedidas, ela percebera nele a falta de pudor em lidar com as garotas que o procuravam. Sentia-se sozinha e buscava quem pudesse ajudá-la a resolver as questões que surgiam em sua cabeça, mas já não tinha quem estivesse à sua disposição. Seu grande amor havia afastado alguns de seus melhores amigos com insinuações. Outros amigos, a assistiam de longe sem que pudessem se intrometer. Seu grande amor havia deixado claro que considerava suas amigas como más influências, e Olívia - ingênua - acatara.
Após mais um desentendimento banal, ela finalmente decidira ir embora. Dessa vez, seu amado fora mais longe: A puxara pelo braço, deixando uma marca roxa. Depois, com esforço e mais algumas lágrimas, a convencera de ficar, de tentar novamente. Prometera mudar. Pedia-lhe perdão por estar tão descontrolado e jogava a responsabilidade desse ato no fato de não se sentir amado pela mãe, que preferia o irmão mais novo.
Olívia já sabia que não o amava. Que talvez nunca o tivesse amado.
Tinha consciência de tudo o que perdera em prol de amor que não representava mais nada.
Buscou refúgio. Sem faltar com respeito, sem ignorar sua relação, sem ofender ninguém.
Num de seus surtos de ciúmes, seu grande amado fuçou sua bolsa até localizar seu celular. Nele, encontrou uma única mensagem e isso bastou. Olívia, que jamais traíra o namorado, que já aguentara humilhações que incluíam vê-lo flertando descaradamente com outra mulher, agora era a moça mais promíscua e vulgar de que se tinha conhecimento.
Olívia, que se esforçara ao máximo pelo relacionamento, agora era chamada de vagabunda, mentirosa e todos os outros xingamentos que ele encontrou pra justificar uma mensagem que dizia ''Eu gostaria que você estivesse aqui para conversar comigo''.
Precisou levar o pouco que ainda restava de si.
Chorou. Desejou não ter ouvido tudo o que ouviu. Mas, em seu íntimo, Olívia agora era livre. E ela bem sabia disso.
Poderia recomeçar em qualquer lugar, sendo apenas quem ela era. E isso bastava naquele momento.
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