THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Eu me despedi

Eu me despedi antes que você resolvesse ir embora. Antes que nós dois falhássemos um com o outro. Eu me despedi de você antes mesmo de te dizer o fatídico adeus, porque a sua ausência já tinha me feito ver a partida como possibilidade remota.
Me despedi de você como aprendi a me despedir de cada pessoa que eu me vi obrigada a deixar pra trás. Me desfiz de qualquer sentimento de culpa e te livrei da obrigação de se fazer presente num cenário onde você não queria caber.
E eu confesso que tá tudo bem, porque eu já pude me despedir com tudo o que guardei de você em mim, com todos os nossos melhores segredos.
Mesmo que por pouco tempo, mesmo que você vá de vez agora, você já esteve aqui.
Ficou o tempo que deveria ficar. E eu já consegui te perdoar por não permanecer, eu já assumi que você se foi antes mesmo de resolver ir embora.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Você é tão MGMT

Eu te fitei uma porção de vezes e em todas elas eu me perguntei se já tinha te visto em algum lugar.
Você me parecia familiar. Talvez pelo jeito de falar, talvez pelo modo de se movimentar.
Talvez pelo all star preto e a jaqueta que se assemelhavam muito com o tipo de roupa que um antigo amigo possivelmente escolheria para sair a noite.
Você é tão MGMT que talvez só você entenda o por quê de eu te definir assim.
Talvez só você entenda que eu vejo em você um pouco de andrew vanwyngarden - e talvez você seja um dos poucos que reconheça esse nome, já que te imagino dançando as músicas do oracular spectacular.
Talvez essa seja uma das razões por eu gostar do seu corte de cabelo e da cor tão clara da sua pele.
Só porque de todas as qualidades que eu já descobri, a que eu mais gosto é o fato de você ser tão MGMT.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Definição: A pessoa que sorri com os olhos

Eu não disse nada, mas eu o reconheci de longe em meio à multidão.
Falávamos somente por mensagens escritas e áudios gravados. Ele as vezes me enviava vídeos tocando violão com músicas que eu passei a gostar já na minha adolescência.
Por curiosidade o vi tocando em um de seus stories e à partir daí passei a encarar esse seu dom como uma das coisas mais bonitas que haviam me acontecido naquele período. Foi na leveza de uma dessas canções que eu acalmei o meu coração numa tarde triste de domingo. E foi por isso que eu resolvi que deveria encontrá-lo.
O plano não deu certo. Eu cancelei antes de qualquer possibilidade. Disse, naquela semana, que estaria presa demais aos meus pensamentos para encarar a ideia de trazer alguém ao meu mundo.
O destino sempre brincou comigo e dessa vez não foi diferente.
Em meio à uma festa corporativa, cheia de luzes em meio à pista de dança, enfeites e pessoas aleatórias, eu o encontrei. E ele era exatamente como eu havia visto nos tais vídeos enviados nos meus momentos de tédio e solidão.
Quando o encarei, ele se surpreendeu: Sabia quem eu era e mais tarde me confidenciou que me reconhecera pela tatuagem da rosa azul no ombro direito e, além disso, por um outro fator importante que me causou reflexão:

- Eu sabia que era você. Além de ter reconhecido sua tatuagem, eu reconheci suas sobrancelhas.
- Minhas sobrancelhas? - Eu perguntei rindo.
- É. É porque você sorri com os olhos - Ele respondeu de forma serena e por alguma razão eu soube que nunca mais esqueceria daquela definição.




segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Isso nos deixa sob altos níveis de endorfina

- Me lembra de nunca tirar você da minha vida - Eu disse, rindo de mais uma piada.
- Você não vai conseguir nem se você quiser - Ele respondeu ligeiramente sério, me olhando no fundo dos olhos, como tem feito desde que nos conhecemos.

Quase sempre ele me responde assim. Como se ao dizer o que diz, quisesse abandonar o tom de piada e me fazer compreender - talvez de uma vez por todas - que o meu espaço é só meu.
Já fez tantas leituras minhas que pra ele eu já não sei mais me esconder. E nem preciso. Se eu me escondesse estaria mentindo, e nós temos o acordo de não faltar com a única coisa que importa efetivamente: a nossa sinceridade.
É por isso que eu apenas paro de rir, começo a fitá-lo e surpresa ainda me pergunto ''como pode alguém me conhecer assim tão bem em tão pouco tempo?''
Se antes isso me assustava, agora é só o motivo de eu ter o que dizer, pra quem dizer. E de alguém que escute. Como ele, mesmo quando me bombardeia com uma infinidade de assuntos loucos e teorias curiosas sobre a vida. Mesmo quando começa a cantar e me girar pela avenida. Mesmo quando imita o meu jeito de falar e me aceita como a maluca que eu sou.

Mesmo quando tudo é tão inusitado e isso nos deixa sob altos níveis de endorfina.
Mesmo quando, eu levo uma das suas mãos até a boca fingindo morder e por brincadeira, digo: Dá vontade de arrancar um pedaço seu.
E quando ele, mais uma vez me traz uma resposta única: Você não precisa arrancar, você já me carrega contigo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Tudo o que deu errado, deu certo. Nós também.

Foi o que eu entendi quando, após a meia noite, te liguei. Eu liguei pra não dizer nada, liguei porque senti saudade. Liguei porque, com tantas coisas inusitadas acontecendo na minha nova vida, eu precisei me sentir em casa.
E você riu. Riu me perguntando o motivo da ligação, mesmo já sabendo exatamente do que se tratava. Riu apreensivo, esperando que eu contasse qualquer história que você não estivesse preparado para ouvir. Riu quando falamos com o sotaque que usávamos antes pra nos comunicar de uma maneira menos formal. E me fez rir contigo. Eu me vi gargalhando por intermináveis 12 minutos de ligação.
Eu te liguei porque tive vontade de dizer que esse mundo é mesmo muito louco. Que talvez você tivesse razão. Liguei porque queria me livrar da vergonha de tudo o que deu errado na minha vida na semana anterior.
Eu liguei pra te contar que as nossas falhas me trouxeram a percepção de tudo o que eu ainda precisava enxergar e viver. Te liguei porque sei que todo mundo diz que nós dois também demos errado. Mas não é verdade.
E só te liguei porque no dia anterior a isso, algumas das minhas considerações pré-estabelecidas foram quebradas. Te liguei pra provar pra mim mesma que eu já não tenho mais medo de ouvir a sua voz.
Te liguei porque somos maiores que o nosso ego. E pra dizer que fomos maiores que tudo isso.
E nós demos certo. Eu não preciso nem mesmo mencionar todos os fatos que provam isso. Nós sabemos.
Pareceu ter dado errado, mas não foi o que aconteceu. E isso é perceptível quando olhamos em volta e nos recordamos de cada detalhe do que nos trouxe até aqui. Tudo o que eu fiz pra que você pudesse chegar onde chegou. Tudo o que você fez pra que eu estivesse aqui onde eu estou.
Tudo o que deu errado, deu certo.
E nós? nós também.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Eu vou mudar o mundo

Não quero mudar o mundo por mim, não quero mudar por você.
Quero mudar o mundo por todas as pessoas que já sofreram e pelas que sofrem sem compreender que a felicidade pode acontecer agora. Eu quero mudar o mundo para trazer a convicção de que essa felicidade existe e pode durar para sempre.
Não vou mudar o mundo apenas pelos meus pais, pelos meus grandes amigos ou pelos grandes nomes por quem sustento admiração.
Eu vou mudar o mundo por todas as pessoas que ainda não conheci e por aquelas que nunca encontrarei pelo meu caminho.
Eu vou mudar o mundo por todos aqueles que deixaram o seu legado, por todas as transformações que já aconteceram ao longo de nossa jornada.
Eu não quero mudar o mundo por nada que se limite somente a mim. a minha certeza em mudar o mundo vem da vontade de levar felicidade a qualquer pessoa que me ouça, que me veja, que me leia e me sinta.
Eu não quero mudar o mundo a menos que eu compreenda que essa mudança começa, antes de mais nada, em mim e no futuro que eu quero entregar à sociedade.
Eu não quero mudar o mundo apenas para que isso seja mais um pauta esquecida.
Eu não quero os créditos pela transformação que sei que ainda vou promover.
Eu sou da geração seigan. Eu sou jovem do juramento.
Eu não quero muito. Mas eu quero mudar o mundo.



segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Se essa for a última vez

Se essa for a última vez, eu vou te deixar me fazer cócegas até que eu grite gargalhando, essa gargalhada que você julga tão gostosa. A gargalhada que você sempre se esforçou pra arrancar de mim e que, em todas as vezes, conseguiu.
Se essa for a última vez, eu vou te abraçar como se o meu corpo coubesse em você, como se dois corpos fossem perfeitamente capazes de ocupar o mesmo espaço.
Se essa for a última vez, eu vou te olhar do mesmo jeito que olhei em todas as vezes que você me explicou tudo o que eu não sabia. Se essa for a última vez, eu vou devorar todas as suas palavras e me deleitar com o mesmo cookie recheado que dividimos no nosso primeiro café.
Se essa for a última vez, eu vou te deixar distribuir todos os beijos que você adora me dar na testa, vou te deixar sentir que pode me proteger de tudo.
Se essa for a última vez, eu vou, de novo, segurar seu rosto nas minhas mãos como se o mundo inteiro fosse acabar no próximo segundo. Porque se essa for a última vez, você já vai ter fincado raízes em mim, depois de tantos sofrimentos confidenciados, depois de aprender o que em mim parece tão óbvio e as tantas outras coisas que nem todo mundo sabe.
Você vai ter feito morada em mim, vai se misturar ao que já trago comigo. E vai ter ido embora.
Porque essa poderia bem ser a última vez, mas não é.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

- Você não me acha tonta?
- Acho. Mas gosto de você assim mesmo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Qual é o seu lugar preferido no mundo?

Quando meu irmão publicou essa pergunta para movimentar seus stories numa rede social, eu fiquei parada olhando-a por alguns segundos. Eu não sabia o que responder.
Como eu poderia não saber essa resposta?
Me apavorei quando pensei em alguns possíveis lugares e ao notar que não gostava tanto de nenhum deles para escolher um e caracterizá-lo como o meu lugar preferido no mundo.
- Como eu posso não me conhecer a esse ponto? - Me questionei.
Continuei apática, tentando olhar pra dentro de mim e para compreender melhor sobre essa questão - e todas as outras que surgiam dela.
Percebi, de forma sutil, que eu não tinha um lugar de pertencimento. E eu já havia chegado a essa conclusão antes.
Eu me lembrava das madrugadas das últimas semanas em que me sentava na varanda do atual apartamento onde moro, para contemplar o céu e conversar com o que eu entendo por universo.
Me lembrava também de todos os fins de tarde onde fitei o mar e, de novo, por gratidão, conversei com o céu. Me lembrava das inúmeras vezes em que um pôr do sol tocou o meu coração e os meus pés junto da areia da praia.
Me lembrava também do café na Ana Rosa, que incluí nas minhas listas atuais como sendo o responsável pelo melhor chocolate quente de São Paulo. Ou, aquele outro café já desenhado em folhas avulsas de um caderno, com a melhor playlist que já ouvi para um lugar como esse.
Logo, cheguei à uma simples compreensão: passei por tantos lugares que escolher um só seria desonesto comigo, com tudo o que compõe a Julia que sou hoje, que traz consigo um pouco de cada história, de cada encontro, de cada instante dividido entre os espaços físicos que visito quase sempre e todos os outros para onde não posso mais voltar.

Sendo assim: Julia, qual é o seu lugar preferido no mundo?
Minha resposta hoje seria: Todos. E nenhum.



segunda-feira, 7 de outubro de 2019

- Estou curada?
- Não. Você é uma pessoa diferente, querendo ser igual. E isto, no meu ponto de vista, é considerado uma doença grave.
- É grave ser diferente?
- É grave forçar-se a ser igual.

Trecho do livro: Veronika Decide Morrer
Autor: Paulo Coelho

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

- Você sabe que eu te amo, né?
- Sei. Mas pouco. Muito menos do que eu amo você - Ele me respondeu, e eu senti o sorriso dele do outro lado da linha.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Tatuagem

Sorrindo ele escolheu qual seria sua mais nova tatuagem, a tatuagem que registraria toda a ascensão profissional que vivera até ali, além de todo o aprendizado que viera até aquele momento. A tatuagem seria feita em troca de um de seus trabalhos.
Empolgado, ele começou a passar os olhos por todas as fontes possíveis de um site feito especialmente pra isso.
Eu olhei, no costume de continuar me metendo como se eu ainda tivesse direito sobre aquilo. Bati o olho na letra que pra mim, era perfeita - uma letra similar a de uma tatuagem que eu também tinha.
- Essa aqui! Acho linda! - Eu disse, animada. Sem saber se ele seguiria minha sugestão.
- Então é essa, moça! - Ele acatara minha escolha, mostrando a letra à tatuadora.

Eu sorri, surpresa.
- Você acatou assim? com essa facilidade? - Eu disse rindo, ainda surpresa por ter feito parte de uma decisão como essa. Uma decisão com tamanha representatividade.

Eu ainda era importante? Sim.
Então por que eu duvidara disso?

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

"O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem."

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Eu não quero conhecer o mundo sem você

A distância física nos aproximou de tudo o que deixávamos passar no nosso cotidiano tão cheio de nós.
Contraditoriamente, nos aproximou da nossa essência para que pudéssemos nos reconhecer.
A ausência me fez refletir todas as vezes que eu, por pura birra, quis acreditar que éramos incompatíveis demais para dar certo num contexto tão intenso - o contexto que nossa vida apresentava nas madrugadas de discussões tolas, ou de conexões que nos faziam acreditar na beleza do famoso ''pra sempre''.
Fazia planos e fugia deles. Voltava atrás voluvelmente. Tinha medo de levá-los adiante e me machucar - quanta covardia para uma mulher tão forte.
Quanto desperdício de tempo disputando com você quem de nós dois tinha mais razão. Quanta energia gasta em inseguranças que nunca se tornaram reais. Quantos atritos passionais causados pela falha na nossa comunicação.
E quanta gratidão por enxergar que nesse momento, como nunca, eu quero me doar para o agora com você. E se o seu agora for a minha espera, é onde eu quero estar - te ouvindo me dizer umas das frases que eu nunca mais vou conseguir esquecer: eu não quero conhecer o mundo sem você.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Quanta saudade cabe na despedida que ainda não tivemos?

Eu olho para o relógio do meu celular sabendo que o tempo brinca comigo. Sei que vai correr nos segundos e minutos que vão te levar daqui para junto de uma digna realização profissional.
E sei também que vai se arrastar pra te trazer de volta.
O mesmo tempo que secretamente eu cultivava pra te deixar com saudade. O mesmo tempo que me arrancava de você nas manhãs das segundas-feiras.
E quantas segundas-feiras eu vou levar pra te ver mais uma vez?
Quanta saudade cabe agora na despedida que o meu coração está fazendo já desde a última vez que te viu, mesmo sabendo que ainda vai te ver de novo?
Quiçá no seu retorno, eu tenha me desconstruído, como sempre. Só pra reconstruir com você.
Quiçá eu aprenda a falar francês, ou descubra um gosto peculiar por tantos outros tipos de vinhos que existam pelo mundo.
Mas não para abusar. A saudade que eu já sinto vai me fazer me embriagar só de você.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Minha primeira junção de vogais e consoantes - O que compõe quem eu sou

Eu me lembro de ter começado relativamente cedo e aos poucos.
Fiz minha primeira junção de consoantes e vogais entre os 5 e 6 anos, em casa (na enorme área de serviço que eu usava para brincar), com giz de cera laranja, no verso de um envelope verde de cartão de natal.
Pela lógica do que eu havia visto em algum lugar, se eu unisse o P com o A, eu teria PA. O mesmo valia para o T unindo-se ao O. Logo, eu construía PATO.
Na minha ingênua simplicidade, eu fui adotando essa regra para tudo o que eu entendia como palavra possível. Pouco tempo depois, o outro lado do envelope já estava completamente tomado por inúmeras palavras similares: PATO, PATA, GATO, GATA, MATO, MATA, RATO, RATA, LADO. Eu incluía também os opostos femininos e masculinos das junções que eu acabara de construir. Era um modo de ter mais palavras para mostrar a quem quer que fosse.
Essa memória ficou gravada em mim porque nela eu tive uma das minhas primeiras experiências com a escrita. E nela, eu me sentia orgulhosa de mim.
Tão orgulhosa que na mesma semana, levei o tal envelope cheio de palavras para a casa da minha avó - o melhor lugar do mundo para mim naquela época - e exibi meu feito para todas as pessoas que  moravam ali.
Pode parecer tardia a minha experiência com a construção dessas palavras tão simples. Hoje em dia, especialmente, uma criança com bem menos que isso já sabe a funcionalidade de um computador, um celular ou um tablet. A maioria, inclusive, entra muito cedo na escola.
Eu me lembro de ir para a pré escola, me lembro do cheiro da sala de aula e de alguns rostos que consegui manter comigo até o final da adolescência. Mas eu não me lembro efetivamente das aulas e do que eu aprendia. Talvez por ser desde muito pequena o tipo de pessoa que vive presa no próprio mundo ou em qualquer planeta que não seja necessariamente este onde eu nasci.
Assim como a construção das palavras com giz laranja no envelope verde, quase toda a minha vida foi assim: recebendo orientações mas encontrando meu próprio momento para colocá-las em prática.


terça-feira, 28 de maio de 2019

Eu sei como é morrer de saudade

Eu já aprendi todos os macetes possíveis para abandonar o sentimento que, do meu ponto de vista, é o mais ingrato existente no convívio humano, presente até no ser menos expressivo e empático. Contraditoriamente, eu costumo dizer que a saudade é o único sentimento sem solução aparente, isso porque a saudade só se baseia em tudo o que já foi e não volta, na falta que não supre, no desespero de querer viver o que não existe mais.
Já aceitei, inclusive, que meu medo da morte não é a metástase, o óbito, o fim da vida. É só, de fato, o receio em não saber lidar com toda a saudade que eu já sinto só de ter longe quem eu amo, e todas as outras pessoas que amei um dia.
A minha saudade tem inúmeros rostos, nomes e expressões. E hoje eu também sei como é morrer por ela, como é morrer de saudade.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Sabedoria infantil - Um conto sobre o princípio itai doshin

Itai: diferentes em corpos
Doshin: única mente
Portanto, itai doshin significa: diferentes em corpos com um mesmo objetivo.

Já estávamos no encerramento, na parte final do ensaio do grupo Taiga - O grupo de dança do budismo.
Eu sei que pra você que não está inserido na soka gakkai (organização budista), visualizar um grupo de dança dentro do budismo pode parecer curioso, quiçá até engraçado. Mas nós trabalhamos coreografias comuns como jazz ou ballet. Nenhum tipo de coreografia complexa de dança japonesa.

Naquele momento, estávamos prontas para iniciar uma dinâmica com as meninas mais novas, algumas com diferença de vinte anos de mim.
A líder do grupo pediu que fizéssemos uma roda e, em seguida, pediu que formássemos duplas com as pequenas que tivessem algum traço físico parecido com o nosso.
As meninas mais novas, eufóricas com a atividade, segurando balões que haviam acabado de receber, nos escolhiam, sem nem ao menos nos dar muita chance para pensar. Elas pulavam em nossa direção, vinham correndo e sorrindo.
Lara me escolheu. Com toda a sua sabedoria de menina, o seu jeito sempre carinhoso de falar e o sorriso honesto enfeitando o rosto que já é tão bonito por si só - o que de imediato me causou intensa gratidão.
Mas ela não encontrara semelhanças gritantes entre nós. Veio comigo porque desde sempre se afeiçoou a mim. E eu sempre soube disso.
A essa altura, nós duas reparamos que a mecha antes colorida de nossos cabelos agora tinha um tom loiro claro desbotado. E foi essa a justificativa que demos quando perguntadas de nossas semelhanças.

Em seguida, a líder que aplicava a tal dinâmica agora pedia que fizéssemos o oposto, escolhendo meninas fisicamente diferentes de nós.
Mais uma vez, as pequenas, alvoroçadas, se misturavam entre si para tentar encontrar alguém que tivesse alguma diferença bastante óbvia. O que vi naquele salão após isso, me fez refletir naquele mesmo instante e depois.
As meninas mais novas estavam acompanhadas de suas duplas, que eram em sua maioria mais velhas.
Enquanto a líder perguntava a cada uma de nós quais eram as diferenças que notávamos, uma resposta me chamou a atenção.
Uma das pequenas, com rosto branco (caucasiano), segurava a mão de sua dupla mais velha, que era negra.
Quando finalmente perguntada sobre qual seria a diferença entre elas, sua resposta foi: o óculos, ela usa óculos e eu não.
Senti um aperto forte no peito enquanto todos riam com a mesma impressão que tive.
A pequena, do alto de sua sabedoria e inocência, enxergava somente os óculos de sua dupla como algo diferente.
Ela não mencionou os cabelos, não mencionou a cor da pele. Ela não fez nenhuma outra menção pelo simples fato disso não importar. O que ela compreendia claramente era que aqueles óculos as tornavam diferentes. E talvez apenas isso.

Essa foi a questão que me fez ter mais uma mera compreensão do óbvio: procuraremos semelhanças e tentaremos justificá-las, assim como isso também pode ocorrer em relação às diferenças.
Com quem queremos nos parecer? Quem são as pessoas que nos inspiram e quais são as pessoas que repelimos?
Quando falo itai doshin, quero dizer que podemos ser diferentes em corpos mas estamos unidos pela mente. E essa união é a existência de um propósito. Qual é a sua construção de si mesmo? E de que maneira busca isso?
A minha hoje, nesse exato momento do dia 20 de maio de 2019 é ser feliz. E construir felicidade.

Isso provavelmente se concretizou também naquela breve dinâmica, ao ver através do olhar de uma criança de 6 anos.





sexta-feira, 10 de maio de 2019

E se eu estiver indo pelo caminho errado?

Eu acho que você já se perguntou isso algumas dezenas de vezes, assim como eu que com 27 anos não tenho nenhum sonho pelo qual eu lute incessantemente.
Objetivos tenho. Um bocado deles. Todos, inclusive, escritos em caneta esferográfica preta no post it rosa que fiz questão de pendurar na minha mesa de trabalho, já que não posso pendurar na minha própria testa ou marcá-los para sempre na minha pele.

Eu acho que você já quis desligar o computador do escritório e sair sem avisar que estava voltando pra casa para se trancar no quarto.
Eu acho que você já olhou para todos os enfeites da sua sala de estar e se perdeu no meio de todas as lembranças que te trazem a pessoa que foi um dia. E eu acho que você já quis encontrar suas respostas numa letra de música, assistindo o de pôr do sol no seu horizonte particular, ou num copo de um destilado barato.
Eu acho que você já se viu se desconstruindo dos ambientes que frequentava, dos lugares que visitou e daqueles para onde já determinou que não voltaria nunca mais.
Eu acho que você já quis que as coisas fossem diferentes e, depois, agradeceu por terem acontecido exatamente como aconteceram. Eu acho que você já sentiu que poderia de fato estar indo pelo caminho errado.
E sei, que assim como eu, também já deve ter abandonado a ideia de ''certo x errado'' para ser, antes de mais nada, feliz. Para entender que os seus caminhos são somente seus.




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Moça, sai da sacada. Você é muito nova pra brincar de morrer...

- Se eu descobrisse que tenho uma doença terminal no cérebro, o que você faria?
- Que brincadeira feia, amiga! - Ele retrucou - Mas se tivesse, eu te levaria para a disney.
Eu ri. Era bem a cara dele ter esse tipo de plano. De todos os lugares do mundo que ele poderia ter em mente, pensou justo na disney - e eu tinha uma vaga ideia do por quê.

- Mas e se eu é que tivesse uma doença? Um câncer no estômago? - Ele agora invertia as possibilidades.
- Eu te levaria pra conhecer lugares diferentes, te levaria pra viver coisas novas - Eu respondi.

De repente, enquanto nos olhávamos com seriedade, notamos o quão macabras eram essas possibilidades.

- Por que é que só estamos pensando em viver essas experiências novas condicionados à uma ideia possível de morte? - Eu questionei.
Ele me olhou surpreso, com os olhos arregalados por trás do óculos redondo.

Finalmente percebi que a morte é romantizada e superestimada pela raça humana.
Nós vislumbramos a morte como a possibilidade de dizer um último adeus, de nos despedir adequadamente da vida com qualquer diagnóstico galopante.
Na grande maioria das vezes, recuamos de sonhos que julgamos como mirabolantes, enfatizamos questões fúteis e deixamos de dizer o que precisaria ser dito.
Temos pressa. E, contraditoriamente, temos medo.
A raça dominante no mundo, é a raça que mais o degreda e que mais o teme. Essa é a grande ironia.
Quase tão grande quanto a ironia de repudiarmos atitudes que vamos repetir. Quase tão grande a ironia de não valorizar quem amamos em vida, para que possamos lamentar sua perda no futuro.
A vida em si deveria ser mais valiosa que o fim dela.


"Moça, sai da sacada. Você é muito nova pra brincar de morrer." - já dizia o poeta Léo Ramos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

- Veio tudo tão depressa, eu queria ter mais tempo.
- De quanto tempo precisa para entender o seu coração?

Filme: First Knight.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Eu quero dividir o meu pai com você

Porque hoje eu sei que o seu te falta. E que se ele puder te enxergar com os olhos do coração, além de todo o transtorno de saúde e os inúmeros medicamentos, ele terá por você a admiração que vejo no sorriso do meu.
Eu quero dividir o meu pai com você porque eu sei que ele vai reconhecer em ti a mesma força que me ensinou a ter na vida, o mesmo amor pelo qual eu nasci e fui criada. Eu quero dividir o meu pai com você porque você já tem sobrinhos, tios, padrasto e irmãos, mas nenhum deles pode suprir qualquer falta que ainda esteja entranhada no teu coração tão belo.
Eu quero dividir o meu pai com você. Sem que você me peça isso, sem que se obrigue a aceitar. Apenas como o consolo de entender que a tua boa sorte me trouxe até aqui, e a minha vai te levar até ele. E até o seu. Porque, se os dois tem logradouro na mesma cidade, que coincidência maior o universo poderia colocar no nosso caminho?

Se você aceitar, você será a minha irmã. Você só terá o que já te de mim. Se você quiser vir comigo, é só me dizer. Basta uma palavra.
Eu vou adorar dividir o meu pai com você.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cuidado! Esse texto é sobre amor

Cuidado! Esse texto é sobre amor.
Mas não esse amor que você vê nos enredos das novelas globais. Não é sobre o amor que as pessoas escancaram nas redes sociais - embora eu esteja entre essas e me considere uma irremediável espectadora de declarações públicas de afeto.
Mas, esse texto é sobre amor.
Não é sobre a sua necessidade em ser aceito. Ou sobre a dor que uma recusa lhe causa.
Não é sobre o seu conceito do que é amor.
Esse texto é sobre o amor em si, na sua essência mais pura. E para entender, você vai precisar senti-lo, antes de apenas dissertar sobre ele.
Esse texto é sobre a inspiração que você encontra no sorriso de alguém. É sobre o sentimento puro, honesto, livre de posse, que cresce e floresce dentro do ser - sem pedir qualquer permissão pra isso. Sobre ver beleza em coisas simples que passam diariamente despercebidas por nós.
Esse texto é sobre o abraço nas escadas rolantes do shopping, é sobre o colo que suporta o choro, é sobre todas as vezes em que uma única mensagem mudou o seu dia, é sobre o chá de mel com limão preparado com intuito de curar a gripe . É sobre o singelo significado de um beijo na testa. É sobre os incansáveis ensinamentos que recebo dentro de casa - e especialmente, fora dela.
É sobre abandonar a necessidade de estar certo. É sobre a felicidade absoluta, e não sobre a felicidade relativa. Esse texto é sobre estar disposto. É sobre a possibilidade de se jogar sem asas e torcer que seja capaz de voar.
Esse texto é sobre o reconhecimento do amor como uma forma expansiva de sentimento. É sobre entender que o oposto do amor não é o ódio. É sobre compreender, finalmente, que o amor em si não tem oposto.
Esse texto não é sobre o amor que você encontra nos filmes ou nos cartões de felicitações sobre o dia dos namorados.
Esse é um texto sobre todo amor que nasceu comigo.