Sempre admirei regiões que possuíam um vasto contato com a natureza. Olhava fascinada para imensidões e lugares que me trouxessem a percepção de estar conectada com o todo.
Já ganhei flores e plantas que eu mesma, as vezes por descuido, me esquecia de regar.
Nunca me julguei muito capaz dessa responsabilidade - o que de fato é contraditório já que me vejo como um ser humano que sempre apreciou o cuidado com a vida e os detalhes que implicam nisso.
Estabelecendo um processo de renovação e autorreconhecimento que exigiria de mim muito mais do que eu estava habituada até então, decidi que plantaria mudas de pimenta malagueta.
A escolha para a semente foi praticamente aleatória. Eu não sou o tipo de pessoa que ama apimentar a comida ou que tem essa como iguaria preferida. Mas, por orientação e em vista de minha total falta de noção para um plantio, entendi que essa seria a melhor opção.
Obviamente, tive uma pequena ajuda do meu pai - homem que passa boa parte de seu tempo cultivando canários e cuidando de todas as plantas que compõem a sacada da casa onde vivemos atualmente.
Fui incumbida de regar minhas sementes todos os dias, sem exceção.
Aproveitei também para incumbir à mim mesma a tarefa de regar o restante de todas as plantas que temos por aqui.
Assumi que pela minha total falta de experiência, as sementes poderiam não vingar. Que apesar de meu incontável esforço para dar-lhes vida, eu precisaria também ser gentil com a natureza e comigo mesma acompanhando generosamente cada detalhe.
E essa foi uma das minhas pequenas-grandes lições.
Plantar uma muda de pimenta malagueta exigiria de mim uma paciência que, sinceramente, eu talvez nunca tivesse exercitado de fato. A germinação não levaria o tempo que eu gostaria, levaria o tempo que precisasse.
Mesmo que eu quisesse, jamais poderia acelerar esse processo.
Tudo o que me cabia para aquele momento era dar àquelas sementes a água, o sol, o amor e o espaço que necessitavam. O resultado viria dia após dia e eu sequer poderia me frustrar caso não enxergasse uma evolução tão efetiva.
Em dados momentos, percebi a terra do vaso ligeiramente seca. Imaginei que não estivesse boa o suficiente, e meu pai - como bom entendedor de plantas - me pediu que apenas esperasse.
Acordei hoje e fui até às minhas tão desejadas sementes. Enquanto as regava, eu vi os primeiros quatro brotos já formados, iniciando um processo de crescimento que acabou levando menos tempo do que o que eu julguei necessário.
Gritei aos meus pais que subissem até a sacada para ver.
Quando minha mãe analisou o vaso e confirmou que as sementes de fato estavam brotando, eu chorei copiosamente.
Finalmente me vi aprendendo a respeitar o tempo das coisas.
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