No episódio "Hang the DJ" de Black Mirror, um sistema de inteligência artificial faz combinações entre casais para que se relacionem por um determinado período, que pode ser estabelecido em horas, dias, meses ou anos.
O objetivo é conectar o usuário com sua ''alma gêmea'' e compreender a compatibilidade de ambos, fazendo desse um sistema intuitivo o suficiente para que duas pessoas vivam felizes pelo resto de suas vidas.
Inúmeras vezes me perguntei se todas as combinações da vida haviam sido errôneas ou remotas, da forma como eu vi acontecer em Hang the DJ, após os protagonistas precisarem se afastar para respeitar o tempo que o sistema havia imposto ao relacionamento deles e para que pudessem vivenciar outras experiências, com pessoas diferentes.
O sistema parecia falho, já que tanto o rapaz quanto moça demonstravam ser uma excelente combinação apesar de muito diferentes entre si. Com todas as ordens preestabelecidas pelo sistema, ainda assim não teriam tempo de desfrutar o bastante daquela relação.
Em Hang the Dj eu assisti a tentativa de um casal em quebrar as regras sobre o possível período que deveriam permanecer juntos. Eu os vi fugindo daquele universo e correndo para subir rapidamente o muro que os faria chegar ao outro lado, onde o sistema de inteligência artificial não interferiria e eles poderiam viver como quisessem, na companhia um do outro.
Após a decisão conjunta de ambos, fica claro que o que houve foi uma simulação feita num total de 998 vezes, onde, em todas elas, eles burlaram as regras para que pudessem ficar juntos e isso implicou numa compatibilidade final de 99,8%.
A escolha do nome Hang the DJ para episódio traz um ato de rebeldia, assim como os protagonistas que enfrentaram o sistema.
Sempre assumi que pularia esse muro, mesmo que o destino insistisse em querer me provar que eu não poderia fazê-lo. Mesmo que tivéssemos nossos dias contados e que eu não fosse totalmente capaz de chegar ao outro lado.
Assumi que pularia o muro, mas até então não havia pulado de fato.
Prometi que faria coisas que não fiz. Prometi que respeitaria limites que não respeitei. Por medo.
Jamais estive tão perto de pular o muro antes. E me gabei que o faria agora, mas não fiz.
Eu não pulei o muro. Mas eu quero pular. Eu não pulei o muro, mas eu quero tentar.
Eu vou burlar as regras que me condicionaram e limitaram meu ímpeto.
Quero não me sabotar antes de chegar ao outro lado. Quero ser corajosa como quando aceitei todas as possibilidades que viriam antes e as que eu tinha certeza que viriam depois.