THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quinta-feira, 25 de junho de 2020

O próximo salto

Quando me perguntaram se eu tinha absoluta certeza do que eu estava fazendo naquele momento, a minha resposta foi não.
Pela primeira vez eu não queria cultivar certeza alguma. A certeza era a possibilidade de me decepcionar se eu acreditasse naquilo e fosse enganada pelas minhas próprias noções. Ou se, no meio do caminho, um de nós dois simplesmente mudasse completamente de ideia.
Não ter certeza significava que pela primeira vez, eu estaria entregue ao momento presente, sem tantos pesos, sem tantas expectativas, sem sofrer compulsivamente por não ter realizado algum sonho que desenvolveria naquele meio tempo.
Era como subir as pedras da última cachoeira onde estive, olhar para a água, reconhecer a altura de onde eu me via e pular de uma vez, sem pensar demais.
Foi o que eu fiz no dia 30 de dezembro de 2019, quando um dos meus amigos do litoral me sugeriu pular abruptamente na água gelada da nascente.
Minha coragem ofuscou o meu medo de altura e todo o receio que eu tinha de não conseguir voltar à superfície depois do mergulho se foi quando eu me vi capaz de me encarar, de encarar o que eu queria.
Aceitar o convite de ir até um lugar que eu não conhecia, apenas pela graça de viver algo diferente, foi uma forma breve do universo me contar que coisas como aquela aconteceriam em grande escala no ano seguinte.
No dia 30 de dezembro de 2019 eu pulei da montanha de pedras em direção à água.
No dia 31 de dezembro de 2019, eu comecei a subir uma outra montanha sem ter a menor ideia de que um dia, talvez, eu também quisesse pular.

sábado, 6 de junho de 2020

Está tudo dentro de você - Um conto sobre a sabedoria de Alessandra

Ela me olhava. O mesmo olhar terno que eu normalmente encontro na minha mãe.
Prestava atenção no que eu dizia e, como quem reconhecia em mim algo que eu mesma ainda não via, disse sorrindo:
- Você está diferente.
- Eu? Diferente? - O meu questionamento vinha com a mesma ingenuidade de aceitar que eu não compreendia o motivo dela dizer aquilo.
- É. Você está mais... mulher.

Continuei curiosa prestando atenção no modo como ela me analisava.
- Não é a mesma menina do ano passado. Você está lidando de forma diferente com esse problema. Você cresceu.

Ela continuava sorrindo e me fitando. Depois, desviava os olhos e continuava a secar a louça, ouvindo cada uma das confusões que eu pontuava. Cada palavra era um detalhe e ela não deixava passar nenhum deles.
Refletia a cada uma das tantas coisas que eu despejava ali. Olhava para o lado como quem pensa num tipo de plano que possa ajudar a amiga e depois, disparava alguma de suas frases que parecem estar sempre conectadas ao universo.

Ela me fazia explicar cada ponto de todas as decisões que eu tomara até ali. E todas as possíveis confusões que havia me metido.
Avaliávamos o caos e tentávamos juntas pensar na solução.

- Não é como da última vez. Você agora lida de um jeito mais maduro e por isso, precisa confiar que o universo vai se encarregar do que fazer, assim como eu confio.
- Preciso é deixar de ser medrosa - Pensei em voz alta - Mas é tão difícil. Eu estava indo a passos lentos mas permiti que ele ressignificasse uma porção de coisas.
- Quando é que você vai entender? Não foi ''ele'' quem ressignificou nada. Foi você. Está tudo dentro de você!

Ela trouxe à tona algo que eu já sabia, mas que ignorava.
Em seguida, abriu a janela de vidro da cozinha, apontou para a lua cheia que se apresentava para nós e disse:

- Peça! Pense no que você quer. E peça! O universo sempre vai te escutar, se for o desejo do seu coração.

Olhei para o céu. Eu já sabia o que pedir.



quinta-feira, 4 de junho de 2020

O que eu faria pelo meu eu do passado

Assisto atualmente a uma infinidade de filmes que falam sobre a possibilidade de viagens no tempo. De voltar e corrigir as falhas.
De ser capaz de se enxergar como antes e se dar conselhos que o seu ''eu'' de agora talvez escolhesse seguir.
Quase que diariamente o questionamento ''O que você diria ao seu eu de (insira uma idade aqui)?'' ganha textos em redes sociais e a reflexão, que para a maioria das pessoas é praticamente a mesma: Eu gostaria de ter - ou não ter - feito algo.
Me pego olhando pra trás hoje com a leveza e a calma de saber que é impossível exigir do meu eu do passado a compreensão que tenho agora. Mesmo que eu pudesse voltar no tempo, jamais poderia impedir-me de errar e de insistir no erro. Porque afinal, só a partir disso viria a resolução que existe hoje e traz uma percepção tão grandiosa sobre a vida.
No entanto, não posso dizer que não tenho curiosidade em me assistir da forma como eu fui um dia.
Algumas coisas talvez eu quisesse adiantar no tempo. Talvez quisesse acelerar o processo que algumas delas levou para ocorrer.
O meu eu de agora me olharia sorrindo, pensando: ''Você nem imagina tudo o que ainda vai te acontecer.''
Veria o meu eu do passado e mesmo sendo incapaz de se comunicar, enviaria qualquer vibração de consolo e amor.
Se o meu eu de agora pudesse voltar no tempo, inclusive, eu correria para um dos encontros no Urbe Café numa das travessas da rua augusta e perguntaria ao garoto sentado à minha frente o telefone de um de seus melhores amigos.
Ou, provavelmente, me espremeria na multidão de um dos meus últimos festivais, procurando um par de olhos puxados que eu na verdade só viria a encontrar no último dia do ano de 2019.
Teria dito incontáveis ''nãos'' e mais um bocado de ''sims''.
E tudo isso para, no final, eu ser capaz de confiar nas minhas escolhas - não em todas, mas naquelas que faço usando toda a sabedoria do meu coração.
Essa talvez seja a minha forma de aprender. De reconhecer que eu posso confiar em mim mesma, embora só eu saiba o que eu daria para ter antes as pessoas que tenho agora.
Talvez o universo queira de mim tudo o que eu gostaria que o meu eu do passado fizesse: Confiasse.
Se eu pudesse voltar atrás com a consciência que tenho hoje pra me encontrar comigo mesma meses atrás, eu diria: Confia.
E é essa a mesma voz que eu ouço no meu íntimo.

É o que eu escuto quando me conecto com o Todo. E ele é imenso.