THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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terça-feira, 26 de maio de 2020

Aprendi a respeitar as minhas cicatrizes

Desde criança, sempre fui impaciente com as minhas cicatrizes.
Mesmo ainda muito pequena, era incapaz de fitar as cascas das feridas do joelho por muito tempo sem que tivesse uma necessidade quase desumana de arrancá-las.
E era o que eu sempre fazia.
Eu não via possibilidade de entender que a casca da ferida era um modo de permitir que cicatrizasse de vez.
Para que o meu corpo não carregasse marcas escuras das tais cicatrizes, eu as tirava de mim. Elas, por sua vez, sangravam. As vezes, até mais do que eu imaginava que sangrariam. O machucado, que deveria se manter ali por breves semanas, insistia em se fazer presente por meses. E quanto mais eu arrancava as tais casquinhas que tanto me incomodavam, por mais tempo elas permaneciam em mim.
Demorei para compreender que aqueles hematomas faziam parte de quem eu era. E estavam compondo quem eu me tornaria um dia, bem como as quedas que ocasionavam todos eles.
Tropecei mais algumas tantas vezes. Ralei mãos, braços, joelhos e cotovelos. Mesmo não quebrando nada, mesmo permanecendo inteira.
As tais cascas continuavam a aparecer. E eu finalmente compreendi e as assumi.
Num dado momento da minha vida. Eu passei a não tentar removê-las.

Eu finalmente aprendi a respeitar as minhas cicatrizes.

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