THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Terapia parte 1 - Encontrando a causa real

As 12 horas anteriores haviam sido consideravelmente conturbadas.
Eu havia atingido o meu limite, perdido o controle. E recebi baques emocionais que me fizeram despertar mais cedo.
Após finalmente dizer adeus à alguns dos meus sentimentos mais intensos, fiquei em estado de luto. As roupas pretas que eu vestia expressavam isso, embora só depois eu tenha entendido que a representatividade do luto pelas roupas não foi uma escolha consciente.
Recorri à T., minha amiga mais íntima nas circunstâncias atuais. Eu precisava mantê-la ciente do que havia ocorrido comigo após a nossa última conversa.
Terna e sempre compreensiva, ela me ouviu com atenção e gentileza - a mesma gentileza que usava anteriormente para me guiar nos exercícios de meditação.
Me fez algumas perguntas sobre o por quê de eu estar tão ligada à determinados sentimentos de perda. Eu respondi com deduções, analisando cada ponto mencionado.
Em seguida, ela me pediu que fechasse os olhos para que pudesse fazer um exercício diferente.
Sentada na cadeira de escritório enquanto fechada na sala junto dela, eu obedeci. Coloquei calmamente as mãos repousadas nas pernas, respirei com calma e fui guiada pela voz serena.

Entre as coisas que me dizia, algumas perguntas me foram colocadas. Em essência eram mais ou menos assim:
"Existe uma Julia que precisa acreditar que essas coisas são reais. Uma Julia que precisa de respostas por alguma razão. Quem é ela? Onde está essa Julia?"

Fiquei um tempo vagando pela mente, tentando encontrar a resposta pra tal pergunta, até que finalmente eu a vi.
Uma menina que parecia estar entre seus 7 ou 8 anos de idade. Cabelos lisos e castanhos na altura dos ombros. Franjinha cortada na altura das sobrancelhas. Bochechas cheias.
Com um olhar esperançoso ela me fitava, como se estivesse pronta para ouvir o que eu tinha a dizer. Logo depois, eu a vi na sala de aula que ficava na extensão da escola. Vi rostos de crianças que eu conheci e entre eles, ao final da sala, um em especial.
Olhos puxados, cabelo liso escuro, orelhas salientes. Naquele rosto infantil, um jeito triste e recluso. Quase parecia que ele sentia medo de estar ali. Ele quase não falava.
Assisti toda a cena, vendo a menina de franja esperar a saída da professora para atravessar as colunas de carteiras e, em seguida, dar um singelo beijo no rosto do tal garoto recluso. Simultaneamente, todas as crianças em volta iniciaram um coro com "Huuuuuumm" em tom de malícia. O garoto mestiço, envergonhado, simplesmente corou. Ele continuava sério, não esboçava qualquer reação, não dizia uma só palavra.
Voltei a fitar a menina atrevida novamente. Ela me olhava, pronta para me ouvir.

Descrevo o momento à T., minha amiga.
Ela me pergunta "O que você quer dizer a ela?". Eu me lembro de dizer algo como "Ela sente que ninguém gosta dela. Ela acha que ele também não vai gostar. Ela se sente rejeitada".
Ainda de olhos fechados, eu fito a garotinha à minha frente. Ela fica em meio a um fundo escuro.
De repente, ela some.
Sinto minha cabeça girar, como se estivesse tonta. Por um momento penso que vou perder os sentidos e cair no chão. O escuro me envolve por completo, eu não vejo nada enquanto a sensação de estar num carrossel fica cada vez mais forte. Eu sinto estar girando. Permaneço de olhos fechados e o pânico me toma inteiramente. Começo a chorar em desespero. Peço ajuda à T., peço que ela me ajude a parar. Choro descontroladamente.
Ela me pede calma. Percebo que não consigo me conter e logo ela impera: "JU, ABRA OS OLHOS!"
Obedeço. A respiração ofegante não me ajuda a recobrar o controle. Ela segura firme a minha mão, ainda me pedindo calma.
Eu respiro forte e com dificuldade. Ainda não consegui me recuperar da sensação de desespero e medo que o tal carrossel me trouxe.

Um sopro no meu peito me revela que eu ainda terei muitas sensações como essa, até encontrar a razão do sofrimento inconsciente vivido até aqui.




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