THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

- Por que toda vez que a gente conversa parece que existe uma conexão de outro planeta?
- Porque você é o David Bowie, veio de outro planeta. E eu sou bom demais pra esse mundo.

- Eu te odeio. Já te disse isso hoje? rs.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Julia no céu com diamantes

Você me mostrou todas as cores que eu vi naquele dia. Elas tinham vida própria.
Nós começamos a dançar, cercados de todas as luzes que o universo nos deu. E percebi que naquele exato momento eu era apenas eu. Mas muito mais do que havia sido antes.
Eu era a morsa, como John Lennon foi um dia.
E eu enxergava diamantes, como Lucy. E flutuava com os pés no chão, ainda assim, como se fosse capaz de voar.
Eu era Alice. E você, o gato, porque ao desaparecer, seu sorriso se tornava o único que eu via em meio ao incrível efeito da luz neon.
Todos os detalhes se moviam. Os desenhos dos azulejos ganhavam vida. As flores do papel de parede, de repente, tinham um toque de mágica e nelas era possível enxergar o vento batendo como num único sopro. E você continuava sorrindo...
Tocou o meu rosto com carinho. Me agradeceu por aquele momento e continuou a sorrir.
Abri os braços e os entreguei ao céu que, por sorte, explodia de estrelas.

As músicas chegavam ao fim. Você permanecia terrivelmente alegre e cheio de emoção.
E continuava sorrindo...
Eis que aquela era a minha insuportável felicidade. Vivi de mim o melhor da minha existência enquanto deslizava os pés pelo que chamamos de pista de dança improvisada.

E naquele momento, além de ser infinita, eu tinha olhos de caleidoscópio.
E você? Você continuava sorrindo...

Everyone smiles as you drift past the flowers.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Redescobertas - Fragmentos Perdidos

Definição: Redescoberta - Nova visão ou interpretação de algo que já se conhecia.

Olhei pelo fundo do floor. Em meio a um pequeno e tímido grupo de pessoas: Você.
Reconheci.
Fitei e logo disfarcei. Comentei com meu amigo ao lado.
Você me olhou de volta. Você sabia quem era eu.
Você sempre soube.
E eu? Bem, eu nunca me esqueço de um rosto. E você foi um rosto familiar por um período muito específico da minha vida, daquela infância cheia de cicatrizes.
Em você, uma porção de características do menininho de olhos puxados que dividiu comigo o primário da escola estadual.
Em você, ainda assim, um mistério e um lado mais obscuro que o que eu encontrei em Darth Vader, meses depois - por influencia sua.
Te levei pra fora, pro outro lado. Comigo você descobriu o gosto das cervejas baratas do bar, reviveu o gosto de uma tequila com limão numa sexta-feira a noite pós expediente. Tragou os ares e os sabores de uma cidade que sozinho, com toda a sua introversão, talvez não tivesse encontrado.
Mas, foi comigo também que você dividiu seus segredos mais sombrios, seus medos mais pavorosos, seus sonhos ligeiramente clichês, suas irritantes manias. E uma intensa saudade que eu sempre soube que nunca mais te abandonaria.
Do meu lado e sob a minha tutela, você perdeu seu receio. Deixou de se esconder das fotos, de inventar desculpas esfarrapadas, de prorrogar o que poderia ser vivido de toda a sua liberdade.
Descobriu outros lados, outros olhos, outros pontos de vista, pessoas em volta. Aceitou algumas e repudiou outras, me protegendo.
Descobriu que seus passos de dança poderiam caber perfeitamente em músicas pós-punk numa balada e que é totalmente aceitável se emocionar ao som dos clássicos de David Bowie.
Descobriu meus filmes preferidos e todas as histórias por trás deles.
E eu? Bem, eu perdi a vergonha de comer um lanche enquanto você me fitava e de parecer uma criança que não sabe comer doces sem se lambuzar. Perdi a paciência com as provocações que sofri por quem nunca entendeu que nós, acima de tudo, sempre fomos amigos.
Perdi as estribeiras e te xinguei algumas dúzias de vezes. Perdi o meu orgulho e te pedi perdão, depois.
Sob a sua tutela eu explorei o universo de Star Wars, o ritmo de Daft Punk e mais uma porção de referências que eu levaria uma vida inteira pra pontuar.

Olhei pelo fundo do floor. E quando seus olhos me devolveram esse mesmo olhar, eu ainda não tinha certeza que teria tanto de alguém pra caber em mim.

Criação em: Junho/2017

terça-feira, 17 de abril de 2018

Seja bem-vindo de volta - Sobre perdoar velhas amizades

Eu estou pronta pra que você volte. Pra que você volte e cante todas as músicas que mais ninguém conhece. Estou pronta pra te ouvir gaguejar de nervoso.
Eu estou pronta pra dizer às pessoas ''pois é, somos amigos há muitos anos''.
Eu estou pronta pra ouvir as tuas agonias, pra curar as tuas feridas. Pra acreditar em mudar o mundo com as letras das tuas composições. Eu estou pronta pra te chamar pra'quele café que ainda não tomamos, pra ouvir suas justificativas de tamanha ausência, de todos os aniversários que você perdeu.
Eu estou pronta pra te dizer que ainda somos Pedro e Julia, Julia e Pedro.
Eu estou pronta pra te desculpar pela falta grave e pra me perdoar pelo julgamento incisivo. Estou pronta pra te enviar cartas escritas à mão e pra receber as tuas surpresas.

E talvez agora, eu esteja pronta pra enfrentar o mundo sozinha e queira apenas dividir contigo sobre algo que eu mesma me tornei na tua negligência.
Eu estou pronta pra te mandar a primeira mensagem que vai provar tudo o que eu acabei de assumir que estou pronta pra fazer outra vez.

Eu estou pronta para ser a sua amiga agora.



segunda-feira, 16 de abril de 2018

Ele nem sabe...

"Ele não sabe mais nada sobre mim.
Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.
Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranquilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio. Ele não sabe por mim.
Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura. Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria."

Marla de Queiroz.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Terapia parte 1 - Encontrando a causa real

As 12 horas anteriores haviam sido consideravelmente conturbadas.
Eu havia atingido o meu limite, perdido o controle. E recebi baques emocionais que me fizeram despertar mais cedo.
Após finalmente dizer adeus à alguns dos meus sentimentos mais intensos, fiquei em estado de luto. As roupas pretas que eu vestia expressavam isso, embora só depois eu tenha entendido que a representatividade do luto pelas roupas não foi uma escolha consciente.
Recorri à T., minha amiga mais íntima nas circunstâncias atuais. Eu precisava mantê-la ciente do que havia ocorrido comigo após a nossa última conversa.
Terna e sempre compreensiva, ela me ouviu com atenção e gentileza - a mesma gentileza que usava anteriormente para me guiar nos exercícios de meditação.
Me fez algumas perguntas sobre o por quê de eu estar tão ligada à determinados sentimentos de perda. Eu respondi com deduções, analisando cada ponto mencionado.
Em seguida, ela me pediu que fechasse os olhos para que pudesse fazer um exercício diferente.
Sentada na cadeira de escritório enquanto fechada na sala junto dela, eu obedeci. Coloquei calmamente as mãos repousadas nas pernas, respirei com calma e fui guiada pela voz serena.

Entre as coisas que me dizia, algumas perguntas me foram colocadas. Em essência eram mais ou menos assim:
"Existe uma Julia que precisa acreditar que essas coisas são reais. Uma Julia que precisa de respostas por alguma razão. Quem é ela? Onde está essa Julia?"

Fiquei um tempo vagando pela mente, tentando encontrar a resposta pra tal pergunta, até que finalmente eu a vi.
Uma menina que parecia estar entre seus 7 ou 8 anos de idade. Cabelos lisos e castanhos na altura dos ombros. Franjinha cortada na altura das sobrancelhas. Bochechas cheias.
Com um olhar esperançoso ela me fitava, como se estivesse pronta para ouvir o que eu tinha a dizer. Logo depois, eu a vi na sala de aula que ficava na extensão da escola. Vi rostos de crianças que eu conheci e entre eles, ao final da sala, um em especial.
Olhos puxados, cabelo liso escuro, orelhas salientes. Naquele rosto infantil, um jeito triste e recluso. Quase parecia que ele sentia medo de estar ali. Ele quase não falava.
Assisti toda a cena, vendo a menina de franja esperar a saída da professora para atravessar as colunas de carteiras e, em seguida, dar um singelo beijo no rosto do tal garoto recluso. Simultaneamente, todas as crianças em volta iniciaram um coro com "Huuuuuumm" em tom de malícia. O garoto mestiço, envergonhado, simplesmente corou. Ele continuava sério, não esboçava qualquer reação, não dizia uma só palavra.
Voltei a fitar a menina atrevida novamente. Ela me olhava, pronta para me ouvir.

Descrevo o momento à T., minha amiga.
Ela me pergunta "O que você quer dizer a ela?". Eu me lembro de dizer algo como "Ela sente que ninguém gosta dela. Ela acha que ele também não vai gostar. Ela se sente rejeitada".
Ainda de olhos fechados, eu fito a garotinha à minha frente. Ela fica em meio a um fundo escuro.
De repente, ela some.
Sinto minha cabeça girar, como se estivesse tonta. Por um momento penso que vou perder os sentidos e cair no chão. O escuro me envolve por completo, eu não vejo nada enquanto a sensação de estar num carrossel fica cada vez mais forte. Eu sinto estar girando. Permaneço de olhos fechados e o pânico me toma inteiramente. Começo a chorar em desespero. Peço ajuda à T., peço que ela me ajude a parar. Choro descontroladamente.
Ela me pede calma. Percebo que não consigo me conter e logo ela impera: "JU, ABRA OS OLHOS!"
Obedeço. A respiração ofegante não me ajuda a recobrar o controle. Ela segura firme a minha mão, ainda me pedindo calma.
Eu respiro forte e com dificuldade. Ainda não consegui me recuperar da sensação de desespero e medo que o tal carrossel me trouxe.

Um sopro no meu peito me revela que eu ainda terei muitas sensações como essa, até encontrar a razão do sofrimento inconsciente vivido até aqui.