THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Peculiaridades em comum

Eu não esperava por uma noite tão quente. Mas, veja só como é o tempo. A meteorologia insistiu que a temperatura não passaria dos 25ºC, mas eu poderia garantir que naquela noite fazia pouco mais que 30ºC.
Segui rumo ao prédio, onde subindo dois lances de escadas acharia a minha sala. Infelizmente criei uma absoluta impaciência por aulas pouco produtivas, não conseguindo sequer fingir interesse pela meia dúzia de palavras que o graduado professor insistia em citar.
Contei os minutos no relógio do celular, abrindo-o de segundos em segundos só pra ter certeza de que não seria deselegante interromper a aula pra sair da sala antes do horário devido.
Encontrei-o a poucos metros do prédio ao lado oposto. Sabia que ele estaria ali se a moto também estivesse. Ele me sorriu e me cumprimentou como se não me visse há tempos. Perguntou sobre a minha ausência da última semana, e pra ele eu realmente poderia ser sincera e dizer: ‘’Estava cansada, não tenho tido vontade de vir estudar’’. Ele deu risada e concordou comigo.
Iniciamos nossa conversa diária, falando sobre poucas banalidades, até eu notar que as feições dele haviam mudado. De certo, ele queria me contar algo que tinha quase certeza que poderia ser da minha total desaprovação.
Começou a falar devagar, e um tanto discretamente, mas eu logo o interrompi com um nome. Eu tinha o péssimo habito de saber deduzir quase tudo o que ele me diria, e isso já não o espantava. Chegava a ser até um tanto divertido.
Passamos a conversar mais seriamente sobre o assunto, e conselhá-lo fez com que eu me sentisse mais útil.
Ele sugeriu que fossemos até o bar ali próximo e tomássemos uma cerveja. Eu normalmente negaria, ou inventaria qualquer desculpa meramente viável, mas a noite estava realmente quente e propícia; e de qualquer maneira eu não gostaria de interromper nossa conversa tão promissora.
O bar estava absurdamente cheio. Pensei que se talvez somasse todas as pessoas nos prédios da faculdade, não chegaria à soma das pessoas na fila para compra de cerveja, e das outras tantas sentadas nas mesas dali.
Ele falava sobre o passado, sobre ela, e achei lindo o modo como a descrevia, como a mencionava. Até cheguei a dizer que não imaginava que ninguém um dia falasse de mim daquele jeito, como ele falava dela. E foi então que citei: ‘’Tenho medo de ser a coadjuvante da minha história, ao invés de ser a protagonista’’. Ele deu de ombros e mal me ouviu, e então passamos a analisar as pessoas em frente a nós na fila.
Compramos uma garrafa grande e saímos rapidamente de lá. Ele notou quando um rapaz me fitou sem disfarçar, e debochou. Caminhamos até o lado do prédio que sempre costumávamos ficar. Logo que sentou no chão, acendeu seu cigarro e começou a filosofar.
Conversávamos sobre tudo o que seria viável conversar. Em alguns momentos, ele me dava breves e claras injeções de realidade.
Ele ousou até mesmo arriscar um palpite sobre mim: ‘’Te sinto meio triste de uns tempos pra cá. Sei lá, posso estar errado, mas mesmo quando você fala sobre algo alegre tem esse tom e esses olhos de melancolia’’.
Com alguns goles a mais na cerveja, aos poucos fui descarregando todo o peso que eu sentia sobre determinadas circunstâncias. Ele ouvia com atenção e continuava me aconselhando também.
‘’Já sentiu que você não é totalmente você por alguma razão?’’ foi uma pergunta retórica que ele acabou dirigindo a mim, e eu concordei. Mas também tentei justificar.
Ele concordava e discordava de mim em diferentes aspectos. Disse também, que além da garota de quem falava até então, eu era a única a quem ele não sabia persuadir.
Passei a expressar também meus sentimentos sobre o garoto com quem continuei envolvida mais tarde.
O calor permanecia, e com a nossa conversa produtiva eu fui perdendo qualquer noção de tempo. A rua passou a ser totalmente deserta.
Deitei no chão, apoiei as pernas na parede ao lado, e por um momento me senti livre de qualquer responsabilidade. Olhei pro céu, e apesar do clima quente e confortável, só vi uma estrela brilhando aquela noite.
Me vendo daquele jeito, ele se sentiu confortável o suficiente pra deitar na minha barriga, e passar assim a fitar o céu juntamente comigo. Colocou músicas do próprio celular pra tocar; músicas de nosso gosto em comum, e passamos a falar sobre séries de tv com ótimas trilhas sonoras e sobre bandas que eram nossas inspirações no passado.
Percebi que já era tarde, e tive que me despedir. Ele insistiu pra que fizemos aquilo outra vez, prometi que o faríamos; e fomos pra lados opostos.
Voltei pra casa ao som de Automatic Stop - do Strokes - aquela noite, tentando entender em que momento exatamente eu poderia prever que ele, o garoto inconsequente dos olhos de diamante, se tornaria meu leal confidente (ou algo que o valha).

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