THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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segunda-feira, 6 de abril de 2020

Avenida 9 de Julho

Eu passo pela portaria imaginando que o porteiro - que nunca dá bom dia pra ninguém - saiba quem sou eu e para qual dos apartamentos eu vou.
De uma forma um tanto pretensiosa, eu imagino que não existam muitas garotas ruivas (de farmácia) com cabelo curto e roupas como as minhas, que frequentem aquele edifício.
Sempre o mesmo elevador. E eu nunca deixo de pensar que pareço estar num prédio corporativo já que é grande demais para um prédio residencial.
Eu sempre me olho no espelho que me encara. É o que me faz ter noção das minhas imperfeições e do tamanho das falhas que aparentemente só eu encontro no meu rosto. E eu sempre reclamo de notá-las. E ainda assim, sempre escuto que continuo linda - Nem sei mais se eu acredito.
Sempre que adentro aquele apartamento de sabe-lá-deus quantos infinitos m², eu lavo as mãos no banheiro que, se fosse meu, teria uma banheira gigante - Também já pensei nisso uma porção de vezes.
Passo pela área comum dos garotos (não existe área das meninas, visto que nenhuma mora lá).
As garotas que surgem ali são praticamente todas passageiras e têm lugares específicos onde gostam de ficar.
Reconheço um deles como o meu preferido e onde eu me inclino pra ver o prédio da frente - que é o que eu mais gosto.
É nele que eu digo que vou morar, num dos apartamentos de cima com luzes leves e alaranjadas, cheio de plantas na sacada.
As vezes fico um longo tempo só olhando o movimento da rua e a forma como a arquitetura e as estruturas dos edifícios vizinhos parecem conversar entre si. E comigo, como se soubessem que eu adoro só olhar.
E admirar.
E mesmo indo embora no dia seguinte eu nunca me despeço por completo.
Talvez porque eu sempre acredite que mais tarde eu vou voltar.



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