Minha mãe sempre foi rígida com suas próprias panelas de inox. Para todo adulto que se preze, uma panela de antiaderência é motivo de alívio e orgulho.
No caso dela, o grau de importância era ainda maior que para as demais pessoas, afinal, minha mãe é do tipo que se gaba a cada delicioso prato preparado. Ela coloca toda a sua alma no preparo do mais simples arroz com feijão.
Indo até o novo endereço do meu irmão, me deparei com a irremediável nostalgia de sua bagunça organizada. Nela eu identificava um pouco das coisas com as quais convivi até que fossemos separados pela rotina e pelas circunstâncias. Eis que na cozinha, junto ao móvel e nosso antigo microondas, noto três das seis panelas antiaderentes que minha mãe tanto amava.
De início penso ser um engano, um possível esquecimento da parte da minha tão amada cozinheira. E então me lembro de que abrir mão de metade do seu conjunto de panelas preferido para ajudar o filho era uma atitude bastante óbvia vinda dela.
Ela resolvera, de forma simples e tranquila, doar parte desse seu tesouro. Era uma forma de assegurar um certo conforto, afinal, qualquer alimento preparado naquelas panelas pouparia o trabalho na hora de lavar a louça.
Era, também, uma maneira de se certificar de que seu filho se alimentaria direito. Afinal, ele tinha agora panelas para facilitar isso.
Aquele era - dentre tantos outros jeitos que conheci - um modo de dona mari angela cuidar de seu caçula, como quem diz "me preocupo e estou com você".
Aquele era mais um modo de dizer eu te amo.
sexta-feira, 8 de junho de 2018
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