Eles não vão perguntar sobre mim.
Mas se em virtude dos seus devaneios momentâneos, eu for mencionada, minta.
Diga que me mudei pro Alasca, que insultei seus pais. Ou conte verdadeiramente sobre o dia em que te estendi aquele tapa ardido e ofensivo na cara.
Minta dizendo que agora nós nos odiamos. Que todo aquele sentimento belo e amistoso se desfez.
Diga que eu não suportei sua instabilidade emocional. Diga que você não suportou minha loucura.
Diga que fui a pior maldição que te aconteceu.
Mas não conte que foi preciso.
Não diga a eles que nós dissemos aquele adeus triste e saudoso, já cheio de lágrimas.
Não conte que você não só disse me amar, como também usou o adverbio de intensidade: Muito.
Não conte que num dia contraditoriamente nublado de verão, você me enviou uma mensagem dizendo se sentir sozinho depois da decisão.
Não conte que colocou parte de si mesmo em coma. E que escondeu a nostalgia debaixo do travesseiro.
Não fale das cartas e promessas de amizade duradoura. Ou da minha foto revelada no meio das suas coisas.
Não conte que mesmo distante, ouviu músicas dos Smiths que te fizeram lembrar de mim. E que naquele show de algumas semanas atrás, insistiu em me mandar áudios com trechos dessas mesmas músicas durante toda a madrugada.
Não conte os nossos apelidos. Nem os nossos traumas. Não conte, não cante, não explique.
Minta e não conte que fizemos isso em prol de um bem maior: O nosso.
Criação em: Maio/2016
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Conquistas banais - Fragmentos Perdidos
Ele me importuna com perguntas óbvias. Acho que é porque ele sabe que mesmo tentando ignorá-lo, eu vou responder.
Ainda me lembro da primeira vez que pus meus olhos nele. Fazia frio naquela noite, o típico frio de um outono. A primeira coisa que notei nele foram os cabelos, semelhantes àquele estereotipo pelo qual me fascinava até então. Falava com mais dois garotos, enquanto acendia o cigarro há mais de três metros de mim, na mesma calçada cheia de adolescentes.
Me aproximei e comecei a fitá-lo. Eu sempre faço isso. Uso minha primeira arma - a cara lavada de santa - e finjo não me interessar pelo que mais me chama atenção. Fiquei lá, estática, fingindo pensar na vida, passando a mão pelos cabelos - na época ainda compridos - e apenas esperei.
Me aproximei e comecei a fitá-lo. Eu sempre faço isso. Uso minha primeira arma - a cara lavada de santa - e finjo não me interessar pelo que mais me chama atenção. Fiquei lá, estática, fingindo pensar na vida, passando a mão pelos cabelos - na época ainda compridos - e apenas esperei.
Ele me notaria e eu sabia, tanto que logo me notou, como eu bem queria.
"Garota sem vergonha, sempre consegue tudo o que quer, não é?" foi o que eu pensei, com ar sadicamente prazeroso.
Ele me pediu o isqueiro.
Foi a desculpa mais esfarrapada que já ouvi. Afinal, ele notou que me aproximei dele, como poderia não ter notado que eu o havia visto fumando antes mesmo de chegar perto de mim? Mas até entendo, deve ter sido a única coisa na qual ele pensou naquele instante.
Eu cedi o isqueiro - na época em que fumava meu ridículo L.A sabor cereja - e isso foi o suficiente pra tentar puxar um assunto qualquer. Eu apenas mencionei que ele se parecia com um dos beatles, e ele se encostou na parede usando os pés como apoio do mesmo jeito que eu fazia.
Tentou parecer entretido no assunto. Acho que a primeira lição que esses garotos aprendem é a de como se manterem atentos a uma conversa inútil com uma possível conquista.
Foi o que ele fez. Não me lembro de tê-lo visto fitando meu decote (quase inexistente, diga-se de passagem) ou paralisado pela grossura dos meus lábios, perdido no que eu poderia ou não fazer com eles.
Ele apenas conversou. Levantava a sobrancelha parecendo saber exatamente do que eu falava, mesmo quando eu citava algo que tinha certeza que ele poderia não conhecer. Usou comigo a expressão facil que mais tarde eu aprendi a distinguir como "dissimulada"
Criação em: Maio/2012
sábado, 5 de novembro de 2016
Estresse à dois
Eu já me sentia profundamente irritada. O trânsito terrível que me perseguiu, o transporte público com lotação máxima, os seus 12 intermináveis minutos de atraso.
Mesmo que eu caminhasse e conversasse com você, sabia que aquele não era um dia bom pra mim, como naquela frase em que ouvi muitas vezes, de que há dias em que ''nem deveríamos ter saído da cama". Suas brincadeiras me irritavam. Sua paciência em lidar com qualquer circunstâncias me incomodava - talvez pela minha tremenda inveja de te ver resolver problemas sem nenhum desespero emocional.
E foi ali que tudo começou. A minha sequência de queixas, de frustrações diárias, sendo cuspidas por mim ao final do que deveria ser uma linda e deliciosa tarde de sábado. Questionei tudo o que era passível de questionamento e seguimos novamente para a minha casa.
As poucas palavras durante o trajeto foram só mais uma forma de despejar mais uma porção de queixas e críticas, e finalmente chegamos.
Subi as escadas nervosa. Tirei meus sapatos, troquei a calça preta pela bermuda do pijama e deitei próxima do espaço que me sobrou, logo depois de você também se deitar.
Voltamos às nossas queixas. Eu me perdi numa frase e no auge do que deveria ser uma discussão séria, você me veio com uma piadinha cretina - mas extremamente engraçada.
Olhamos um para o outro e de repente começamos a rir feito um belo par de idiotas.
Em questão de segundos, você me tomou pelo braço e disse algo como: ''não vamos brigar, vai... vem cá que eu quero te dar um beijo". E eu beijei.
Simples assim. Como se todos os conflitos do mundo pudessem ser sanados por um lábio carnudo, um beijo molhado, por um abraço acolhedor ou uma piada propícia.
Como se todas as guerras pudessem ser cessadas com um sorriso largo e aberto.
Mesmo que eu caminhasse e conversasse com você, sabia que aquele não era um dia bom pra mim, como naquela frase em que ouvi muitas vezes, de que há dias em que ''nem deveríamos ter saído da cama". Suas brincadeiras me irritavam. Sua paciência em lidar com qualquer circunstâncias me incomodava - talvez pela minha tremenda inveja de te ver resolver problemas sem nenhum desespero emocional.
E foi ali que tudo começou. A minha sequência de queixas, de frustrações diárias, sendo cuspidas por mim ao final do que deveria ser uma linda e deliciosa tarde de sábado. Questionei tudo o que era passível de questionamento e seguimos novamente para a minha casa.
As poucas palavras durante o trajeto foram só mais uma forma de despejar mais uma porção de queixas e críticas, e finalmente chegamos.
Subi as escadas nervosa. Tirei meus sapatos, troquei a calça preta pela bermuda do pijama e deitei próxima do espaço que me sobrou, logo depois de você também se deitar.
Voltamos às nossas queixas. Eu me perdi numa frase e no auge do que deveria ser uma discussão séria, você me veio com uma piadinha cretina - mas extremamente engraçada.
Olhamos um para o outro e de repente começamos a rir feito um belo par de idiotas.
Em questão de segundos, você me tomou pelo braço e disse algo como: ''não vamos brigar, vai... vem cá que eu quero te dar um beijo". E eu beijei.
Simples assim. Como se todos os conflitos do mundo pudessem ser sanados por um lábio carnudo, um beijo molhado, por um abraço acolhedor ou uma piada propícia.
Como se todas as guerras pudessem ser cessadas com um sorriso largo e aberto.
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