Poderia não ser heroico, mas ainda assim me salvaria.
Um temperamento difícil, de certo, inconstante, irregular. Certa imponência no tom, rebeldia ideológica e certeza de sua própria razão. Sem concordar com o injusto, sem abusar do oculto, sem se desfazer do nobre coração, sem prender os pés no chão com a realidade, mesmo quando ela nos obriga a isso. E afinal, estamos falando de mim ou de você? Nem sei. Na verdade, acho que já me perdi.
Somos um. As nossas afinidades surgem daí. Nossas brigas e inquietudes, também.
Sou você: Nesse meu jeito ora tinhoso, ora turrão. No meu modo de avaliar as coisas - quase sempre usando palavras que aprendi com você -, no meu olhar reprovativo - e na cor castanho claro que vem com eles - e especialmente, no meu modo de sonhar e moldar o mundo ao meu gosto.
É assim que te vejo hoje. Mesmo sendo uma cópia não tão bela de sua amada mulher, minhas expressões e meu gênio não negariam jamais de quem sou filha. E de que sou feita.
Poderia não ser heroico, mas ainda assim me inspiraria. E me ensinaria os caminhos corretos, sem que obrigatoriamente me forçasse a andar sobre eles.
Poderia não ser heroico, mas é.
sábado, 8 de novembro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Eu me lembro
Me lembro de entrar por aquela porta e te olhar através do
vidro. Lembro ainda de ficar
paralisada por um momento, logo depois de fitar o seu riso. Você se entretinha
em meio às suas baquetas e ao som que vinha delas. Parecia não me ver.
Me lembro que a minha empatia foi tão imediata que me senti
terrivelmente constrangida por ela, com medo que alguém mais notasse que eu - a garota nova ali - estava encantada por
alguém que sequer havia me correspondido com o olhar.
Mesmo assim, me sentei, vesti minha sarcástica cara de
indiferença e fingi prestar atenção em todas as outras conversas do
compartimento externo do estúdio.
Você terminou suas músicas e obrigações daquela noite para
com a sua até então banda, e saiu de dentro do estúdio, quase me colocando em choque. Em
milésimos de segundo pude pensar em uma porção de coisas diferentes e
assustadoras, sobre como ser testada pelo destino pouco depois de perceber que
você era ainda mais bonito sem a interferência do vidro.
Você me olhou. Sem qualquer ar de cobiça. Sem qualquer pretensão. Apenas me fitou.
Em seguida, foi gentil. Assustadoramente gentil e discreto.
Se aproveitou dos artifícios do estúdio e abriu as caixas de som enquanto eu cantava do lado de dentro.
Me lembro de me sentir tortuosamente lisonjeada e corar feito uma criança.
Me lembro ainda da sua forma sutil e divertida de me fazer sentir parte de tudo aquilo, como se já houvesse lugar ali pra mim. Ousaria dizer, inclusive, que talvez estivesse esperando por mim, guardando o meu lugar na sua vida.
Ao final da noite, eu me despedi. Foi assim que ganhei o nosso primeiro abraço.
E foi assim que eu vi que a vida colocou você pra mim, ali naquele domingo de outubro.
Por isso eu sei de cada luz, de cada cor de cór, pode me perguntar de cada coisa, que eu me lembro.
Eu me lembro.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Em 10 de outubro de 1990...
Em 10 de outubro de 1990, ela partiu. Foi embora do que pensou que seria seu lar até o fim da vida. Levou uma trouxa de roupas e sua estimada e preciosa máquina de costura. E assim, deixou tudo pra trás.
Foi tomada pelo medo, pela incerteza e, ao mesmo tempo, por uma felicidade inusitada.
À partir daquele momento, ela experimentaria um sentimento que havia levado anos para descobrir: A liberdade de um amor.
Amor esse, tão intenso quanto o imenso céu, que ela mesma disse viver como se tudo dela fosse.
Ele, que já não tinha nada, poderia enfim considerar a sorte da tê-la, enfatizando anos depois, que jamais pensaria em encontrar ou merecer mulher tão extraordinária.
Ele descobriria ser capaz de amá-la muito além do amor que se mostrara ali. Descobriria mais tarde, que ser humano nenhum no mundo poderia fazê-lo completo da forma como ela fazia. Ele, mais tarde, enfrentaria as adversidades da doença que a dominaria, e contaria aos filhos a verdadeira concepção do amor. Ele seria o herói de sua própria história, ainda quando tivesse certeza de que não passava de um mero coadjuvante.
Eles, juntos, enfrentariam o mundo. E deixariam a inspiração de um legado de sabedoria, amor e lealdade à filha mais velha e ao caçula.
Após vinte quatro longos anos, eles provariam ao mundo que aquela fuga - digna de um filme - seria a chave da história de amor mais bonita que se poderia contar.
terça-feira, 8 de julho de 2014
A arte da hipocrisia no país do futebol
Eu nunca me considerei patriota. Eu nunca fui de fato patriota. Eu não vesti a camisa da seleção brasileira em nenhum dos jogos. Eu não me preparei, não esperei ansiosamente por ver a seleção entrar em campo. Eu não acompanhei assiduamente a Copa do Mundo. E nunca entendi a fascinação alheia por um esporte que nunca compreendi totalmente.
Meu nome é Julia Gonçalves Pedro, 22 anos. Nascida e criada em São Bernardo do Campo - SP. Estudante de escola estadual integralmente, e bolsista do único curso de graduação que consta no meu currículo, até o presente momento. Usuária e dependente de transporte e serviço de saúde públicos.
Meu pai, Marcos Rogério Pedro, nunca me ensinou nada sobre esportes, ou sobre o futebol em si. Ele, inclusive, sempre foi o tipo de pessoa que dorme durante a maioria dos campeonatos e perde quase todos os jogos que o resto do mundo poderia considerar importante de algum modo. Ele mesmo nunca me ensinou a ter um time para torcer, ou compreender o sacrifício de muitos que se esforçam pra chegar numa posição de sucesso nesse meio.
Meu pai, homem trabalhador, digno e consciente, nunca entendeu a minha escolha por um time como o Santos - tão distante de tudo o que eu sabia sobre futebol. Mas, essa foi a minha escolha no auge dos 16 anos e desde então me mantive fixa na ideia de não ser convencida a torcer por nenhum outro time. Nunca entendi bem a fascinação de amigos, colegas e familiares, que torciam desesperadamente e tentavam me convencer de que o meu time nada tinha a ver com o restante de escolhas coerentes.
Pois eis que por ironia do destino, me envolvi e assumi relacionamento com o garoto mais louco por futebol que já conheci. Ele - que muitas vezes deixou planos pra trás apenas pra se dedicar ao seu momento preferido: assistir aos jogos independente de qualquer coisa - passou a me ensinar tudo o que sabia sobre o esporte, me envolvendo em ideias justas sobre marketing de time e contratações, me explicando os mínimos detalhes para que eu não me perdesse vendo a um jogo e não acreditasse em tudo o que me fosse dito.
Por uma ironia muito maior, passamos nossa primeira Copa do Mundo juntos.
Criticamos juntos as mesmas pessoas que meses antes iam às ruas para protestar contra a Copa, para criticar os "Padrões Fifa"; e que agora se pintavam de verde-amarelo para torcer com #vaibrasil #rumoaohexa e todas aquelas hipócritas hashtags.
Hipócritas, de fato. Pois 80% delas vinha de pessoas que não compreendem o sentido de torcer por um campeonato ou por uma seleção. Pessoas essas incapazes de oferecer apoio a um outro num momento de tristeza e perda de título. Pessoas que acham a queima da bandeira nacional um ato justo e digno "visto que a seleção não nos representou devidamente no jogo tomado de lavada pela Alemanha".
Curioso que eu, alguém que nunca gostou de fato de futebol - e que tenha até me irritado em algum momento com a assiduidade com que fui obrigada a ver jogos com meu namorado - tenha agora o sentimento de revolta para com todos os outros que questionam a atual seleção brasileira de forma tão rude e desagradável.
Mais curioso ainda é que eu venha por meio desta, me manifestar sobre toda a hipocrisia que se segue à partir daqui, da perda, justamente para não perder a cabeça discutindo ridícula e estupidamente com pessoas que não entenderiam tal ponto de vista.
Curioso que eu tenha roído as unhas nos momentos de maior aflição desta Copa, que tenha desejado o título, sem, é claro, usar isso de "Pão e Circo" para me alienar ou mudar minha visão política do país.
Curioso que eu tenha entendido a escala e montagem tática falha de Luis Felipe Scolari, e que ainda assim tenha me emocionado de verdade com as palavras de David Luiz ao final do jogo dos 7x1.
Curioso que todos os verde-amarelo agora estejam "com vergonha de seu país" e fazendo piadinhas banais às custas do lamentável resultado. Pessoas essas que montaram banquetes, promoveram churrascos e se aproveitaram de todas as regalias que o evento da Copa do Mundo proporcionou.
Curioso que eu admire - e muito - o jogo e a destreza da Alemanha em campo e não tenha nada a questionar sobre isso.
Cumpri e cumpro os meus deveres como cidadã do país. E lamentar pelo fracasso não me torna menos digna.
Eu de fato sofro e lamento por este país, de uma seleção que não jogou devidamente, que não pôde representar devidamente. Mas lamento muito mais por uma nação inteira que não sabe votar, uma nação que não sabe torcer e muito menos perder. Uma nação que não apoia quem estiver contra o que lhe for exigido e que, ao mesmo tempo, se fecha e se desinteressa por questões tão mais urgentes. Eu de fato lamento por uma torcida que vaia o seu time - mesmo quando este não lhe dá pleno orgulho. Eu lamento por tudo o que vi e por tudo o que li na última hora, dentro e fora das redes sociais. Eu lamento saber que o vizinho aqui ao lado quis por fogo na própria camisa verde-amarela, a camisa que beijou na semana passada, no jogo que eliminou a artilheiro da Copa - da Colômbia.
Eu apenas lamento.
Meu nome é Julia Gonçalves Pedro, 22 anos. Brasileira. E eu tenho o direito de lamentar, pois estou aqui, incapacitada de voltar pra casa, por já ter ouvido todos os buchichos de que a violência por conta da perda no jogo está terrível, e que é possível que eu me machuque. Tudo porque a nação não sabe perder.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Sobre os nossos objetos e um pouco de nós dois
Eu te roubo. Roubei partes de vocês para toda a minha rotina. Encontro partes da tua vida perdidas no cubículo colorido que é o meu quarto. As tuas meias, que estão guardadas na primeira gaveta da minha cômoda. Aquela tua camiseta esportiva divide o mesmo espaço de todas as roupas que uso pra dormir, e com a aquela bermuda de tactel que você usa na falta de um pijama.
A tua foto com mais de seis caretas diferentes está impressa em folha adesivada e colada na minha parede, acima do meu quadro de fotos.
Não posso nem me queixar, afinal, eu me deixei roubar e adorei fazê-lo.
Cada canto do teu quarto tem um pouco de mim e da minha bagunça feminina.
Tomei quase todo o espaço da segunda gaveta da tua cômoda, e nela hoje encontro mais das minhas roupas que das suas. A camiseta de gola listrada, o pijama com estampadas que a tua mãe jura ser a minha cara, a calça preta que me fica larga demais nas canelas e baixa demais nos quadris.
O cabide da tua parede, ao lado do banheiro, pendura o meu vestido azul de bolinhas brancas, aquela minha blusa preta com detalhes de camurça, e alguns outros adereços de frio que eu certamente me esqueci de levar pra casa num dia de calor.
A primeira fileira da tua estante ergue um porta-retrato com uma das nossas fotos. A segunda fileira dela, no entanto, segura os teus desodorantes e, no meio deles, aquele meu creme com cheiro de pêssego – que você tanto gosta.
Entre o aparelho da TV à cabo e o DVD, uma cestinha de palha com todas aquelas inutilidades que eu sempre esqueço de colocar na bolsa. Um par de brincos de bijuteria, um vidrinho de esmalte da coleção da última estação, uma tiara vermelha com laço e uma porção de grampos perdidos.
Até embaixo da tua cama tem sapatos meus jogados e esquecidos. Saltos, tênis, sapatilhas. E acho que até perdi a conta de quantas vezes você riu me perguntando quantos pés eu tinha para a necessidade de tantos calçados.
A minha bagunça se tornou tão nossa. O seu universo tão meu.
A nossa intimidade é de fato tão íntima, que as vezes acho que nem você saberia mais viver sem aquela toalha cor-de-rosa que está pendurada no banheiro, me esperando chegar, mesmo sabendo que não vou ficar por lá por muito tempo...
segunda-feira, 28 de abril de 2014
A única carta de amor que, de fato, já existiu
Depois de tantos enganos cometidos pela impulsividade que sempre me cercou, finalmente vim à tona, com aquelas tantas certezas que eu nunca havia tido, de relacionamentos e pessoas que nunca me deram o que eu acreditava que poderia ter.
E mesmo depois de finalmente deixar tudo isso pra trás, aqui estou eu, te escrevendo a única carta de amor da minha vida, a única carta de amor que, de fato, já existiu.
Tentando explicar eloquentemente sobre o único amor carnal e contraditoriamente puro que consegui encontrar, em quem parece ter sido criado e inventado num daqueles meus sonhos de garotinha - por mais repetitivo que isso possa parecer.
Tentando te explicar sobre esse amor citado nos filmes clássicos da vida de qualquer um. Esse amor clichê e imenso que me persegue ao longo do dia e me faz olhar para a sua foto exposta na minha mesa de trabalho - aquela que foi tirada no dia de mais uma das nossas comemorações, em que você resolveu fazer a barba e sorriu pra câmera com o ar de garoto tímido de 16 anos.
Esse amor que aprendi vendo meus pais, o amor que nunca soube dar - como já dizia o poeta.
Essa porção de argumentos e coisas lindas, que eu certamente já devo ter mencionado pra alguém, só pra deixar algum outro momento menos vazio.
Essa porção de coisas que eu te descrevo agora, sabendo que em nenhuma outra circunstância essas frases clichês poderiam ser ditas com tamanha sinceridade e certeza.
Esse amor que eu sinto agora. O amor que eu já sentia antes, muito antes que você pudesse me amar descontroladamente.
Esse amor que eu te falei em muitas das nossas noites, quando te disse amar intensamente até mesmo aos seus defeitos mais críticos.
Embora, é claro, tenha dito te amar muito mais sem dizer palavra alguma, falando apenas com os olhos, as mãos e a tremedeira que eu sentia em todas as vezes que você chegava perto demais, sem poder sequer me retribuir um beijo no rosto.
Te falei desse amor em todas as minhas loucuras, em todas as vezes que corri desesperada pra alcançar o ônibus que ia pra sua casa tarde da noite, em todas as nossas brigas, em todas aquelas imbecilidades cruéis que eu te disse certa de que você desistiria de mim.
Te falei desse amor todas as vezes em que apenas segurei sua mão e sorri.
E te falo agora, com o rosto aquecido, o peito pulsando acelerado, feito uma menina tola vivendo o seu primeiro grande amor, que eu te amo e essa é a única carta de amor que eu realmente escrevi.
terça-feira, 8 de abril de 2014
Efeito chaleira
Acorda, levanta. Abre a janela, analisa o tempo. Abre a segunda gaveta da cômoda, puxa uma saia que combine com o lenço.
E a rotina é basicamente a mesma. Ao longo do dia cozinha e é cozinhada por reclamações, solicitações e pequenas exigências.
Telefonemas, e-mails e mil bilhetes espalhados pela mesa. Mais de um problema pra resolver, obviamente.
E o efeito chaleira, que a faz se sentir cada dia mais cheia e quente.
O calor aumenta. As crises de cansaço também.
O medo domina. O gênio contrário também. Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1... segura, segura, segura, garota!
Respira fundo. Abre a gaveta, um comprimido fitoterápico que garante inibir o cansaço físico e mental.
O cotidiano pessoal não é tão desigual.
Uma cobrança. Uma crítica. Um problema a mais pra resolver da maneira mais ágil que puder. Um conselho pra dar. Um amigo pra se preocupar. Alguém pra abraçar. Contas a acertar. Contas, contas, contas.
Mais uma dose de nervosismo constante.
Invasão de espaço. De privacidade. Falta de senso, de bom senso. Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1... segura! Espera! Respira.
Cara fechada. Olhos maldosos. Sorriso forçado.
E o efeito chaleira sobe a cada segundo, querendo fazê-la dizer boas verdades a quem merece ouvir. Cada vez mais quente, apitando, transbordando.
Ela vai enlouquecer logo, asseguro. Ou ao menos, ela pensa que vai.
Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1...
Ela não parece mais tão ela quando se sente assim.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Você, que sempre será você.
De todos, aí está você.
De todos aqueles poucos, bons, caros e raros. Sim, você, que sempre foi tão raro. Você que saía correndo atrás de mim no supermercado, enquanto eu desfilava e descobria o gostinho de tirar o fôlego de toda aquela marmanjada que costumava fazer compras no período da noite.
Você, que assumia minhas brigas e segurava minhas crises de garotinha insegura no auge dos 14 anos.
Você, que aprendeu a me dar broncas e a me criticar com aquela velha facilidade que os irmãos mais velhos descobrem, quando se dão conta de que já não podem impedir os passos tortos de seus pupilos teimosos.
Você, que me segurou, girou, rodopiou e comigo voôu.
Você, que se afastou, retornou, espiou, esperou, ressurgiu.
Você, que podou os 15, curou os traumas dos 16, sanou as dores dos 17, enlouqueceu com a insanidade dos 18 e finalmente mostrou a graça nos 20.
Você, que foi muito mais eu que eu mesma. Você, que seria o único a entender essa frase.
Você, que sofreu, calou, correu, fugiu e voltou.
Você, que vê comigo coisas que eles nunca verão. Você, que viverá pra sempre. Como naquela música que sempre dissemos falar sobre nós.
Você, o anjo mais velho que Anitelli descreveu na música. Você, que vai ser lembrado só enquanto eu respirar.
Você, um irmão. O mais velho.
Você, que sempre será você.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
As cores de tudo que deixei pra trás
Se eu fizer um discurso como o de Ana - A minha fabulosa menina sem qualidades - ao final dele, vou concluir que atualmente não acredito em mais nada ou em quase nada. Como ela diria, ''Nós não temos nada em que poderiamos acreditar. Matematicamente é como se nós acreditássemos em tudo; tudo tem o mesmo valor: indiferente''.
Não foi bem assim que aprendi a ver o mundo. Mas aprendi a confiar em algumas pessoas e, a deixar outras simplesmente pra trás. Descobri que minha facilidade pra isso era até muito maior do que eu pensei que poderia ser.
E enfim, tudo tem o mesmo valor pra mim agora, talvez por alguns outros aspectos.
O aspecto profissional ainda se enquadra, afinal, ainda não me decidi, embora já esteja no caminho certo da decisão que pode acrescer na minha vida ou arruiná-la por um certo período.
Em questão de relacionamentos, até que tenho me saído bem. E me saio melhor ainda quando não me esforço pra isso.
Talvez eu tenha aprendido a ser apenas um pouco mais cética, um tanto mais cruel e bem mais realista do que me seria permitido com 21 anos.
Talvez eu apenas esteja mudando determinados conceitos dentro de mim, conceitos estes que não existiam, ou, pelo menos, não se faziam tão óbvios como agora.
Tudo o que eu sei - e o que de fato espanta, se tratando de alguém como eu - é que aprendi a deixar as pessoas pelo caminho, sem remorso, sem saudade, sem tentar trazê-las de volta.
Realmente, algo muito curioso se tratando de mim e dessa minha personalidade meio falha, meio avessa, meio torta.
Curioso também é notar que com as atitudes mais irrisórias possíveis, eu me dei conta dessa mudança tão drástica. Eu olho pro meu mural de fotos e vejo que tirei parte de todas aquelas que existiam antes, como se fossem exatamente aquilo: Pedaços de papel que não significam muita coisa. Minha lógica acaba sendo deixar ali quem realmente merece aquele espaço.
Que ainda cabe amor em mim? Isso também é tão certo quanto o meu amor por quem ainda faz parte dessa minha vida tão cheia de espaços em branco.
Espaços esses que estou aprendendo a preencher com cores que criei, me livrando dos fardos e abrindo caminho pra tudo que ainda desejo viver, libertar, descobrir.
Às vezes é mais fácil mesmo não acreditar em nada. Ou como eu disse no início, em quase nada, afinal, talvez eu esteja apenas procurando novas cores, novas fotos, novas razões. E o mesmo amor de sempre.
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