Eu passei boa parte da minha vida acreditando ser desprovida de muitas habilidades.
Na 5ª série, fui uma das poucas meninas da minha sala que conseguiu ultrapassar todos os limites de nota baixa adquirindo um absurdo ''E'' numa prova de matemática, que conseguia ser ainda pior que o ''D'' - que de longe já era a nota mais vergonhosa que se poderia tirar.
Eu nunca fui a primeira em nada e levei um certo tempo para querer me tornar alguma coisa.
A única noção básica que sempre tive foi a de que eu queria ser feliz. E aceita. E esses dois desejos em conjunto às vezes pareciam impossíveis.
Eu desenhava bem, essa sempre foi uma qualidade. Mas o fazia por hobby. Porque era o meu jeito de expressar minhas emoções, ou de inventar uma roupa que eu adoraria vestir e que se desenvolvia apenas na minha cabeça. As vezes, criava estórias em quadradinhos inspiradas em personagens que eu adoraria ter coragem de ser.
Eu atuava bem, tinha um certo talento para artes cênicas e ainda assim custei a ingressar no teatro.
Inventava enredos de novelas e viver isso como realidade me parecia tão distante que eu guardava os melhores detalhes somente pra mim.
Eu não era a mais bonita e certamente me alivia a ideia de não ter sobrado qualquer foto da minha adolescência para reafirmar esse fato.
Aprendi violão com a minha mãe, mas não o suficiente para me tornar uma musicista. Não o suficiente para ser como ela.
Eu era eu. A garota que sabia um pouco de tudo e não se aprofundava em nada. A aluna nota ''B''. Porque buscar um ''A'' exigia demais de mim e eu sequer tinha concentração para tentar.
Eu era um pouco de tudo. A garota que sabia cantar, mas não o bastante para tentar carreira com isso. A garota que aprendeu a cozinhar o básico porque não tinha paciência para lidar com o fogão.
Só depois de muito tempo olhando pra quem eu era, percebi que saber um pouco de tudo me levou a entender que eu queria saber mais. E eu não poderia sem o mínimo entendimento. Se eu não soubesse todas as coisas que eu já sabia.
Ter certa aptidão para artes me transformou em um projeto de escritora e roteirista, e esse se tornou o meu grande sonho. Saber desenhar me levou para o campo da criação e do desenvolvimento de artes publicitárias, que não são as melhores que já vi, mas que estão cada dia mais bonitas, ganhando sempre um toque da minha personalidade.
Não tirei mais nenhuma nota vermelha em matemática porque nunca mais precisei entender equação de 2º grau - e sinceramente nunca a utilizei pra nada.
Não sou musicista, mas sou boa em tocar todas as minhas músicas preferidas.
Aprendi a ser eu com todas as minhas melhores ferramentas. E a não me menosprezar por isso. Ser eu sempre foi a meta e até onde eu posso ver, de uma forma muito particular estou sempre trazendo isso à tona.
Toda a sensibilidade que se pode esperar de uma ''pseudo-artista'' me trouxe compreensões que nem sempre são visíveis aos olhos dos outros. E eu me tornei quem eu sou.
Um pouco melhor que antes. Todos os dias.