THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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terça-feira, 28 de maio de 2019

Eu sei como é morrer de saudade

Eu já aprendi todos os macetes possíveis para abandonar o sentimento que, do meu ponto de vista, é o mais ingrato existente no convívio humano, presente até no ser menos expressivo e empático. Contraditoriamente, eu costumo dizer que a saudade é o único sentimento sem solução aparente, isso porque a saudade só se baseia em tudo o que já foi e não volta, na falta que não supre, no desespero de querer viver o que não existe mais.
Já aceitei, inclusive, que meu medo da morte não é a metástase, o óbito, o fim da vida. É só, de fato, o receio em não saber lidar com toda a saudade que eu já sinto só de ter longe quem eu amo, e todas as outras pessoas que amei um dia.
A minha saudade tem inúmeros rostos, nomes e expressões. E hoje eu também sei como é morrer por ela, como é morrer de saudade.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Sabedoria infantil - Um conto sobre o princípio itai doshin

Itai: diferentes em corpos
Doshin: única mente
Portanto, itai doshin significa: diferentes em corpos com um mesmo objetivo.

Já estávamos no encerramento, na parte final do ensaio do grupo Taiga - O grupo de dança do budismo.
Eu sei que pra você que não está inserido na soka gakkai (organização budista), visualizar um grupo de dança dentro do budismo pode parecer curioso, quiçá até engraçado. Mas nós trabalhamos coreografias comuns como jazz ou ballet. Nenhum tipo de coreografia complexa de dança japonesa.

Naquele momento, estávamos prontas para iniciar uma dinâmica com as meninas mais novas, algumas com diferença de vinte anos de mim.
A líder do grupo pediu que fizéssemos uma roda e, em seguida, pediu que formássemos duplas com as pequenas que tivessem algum traço físico parecido com o nosso.
As meninas mais novas, eufóricas com a atividade, segurando balões que haviam acabado de receber, nos escolhiam, sem nem ao menos nos dar muita chance para pensar. Elas pulavam em nossa direção, vinham correndo e sorrindo.
Lara me escolheu. Com toda a sua sabedoria de menina, o seu jeito sempre carinhoso de falar e o sorriso honesto enfeitando o rosto que já é tão bonito por si só - o que de imediato me causou intensa gratidão.
Mas ela não encontrara semelhanças gritantes entre nós. Veio comigo porque desde sempre se afeiçoou a mim. E eu sempre soube disso.
A essa altura, nós duas reparamos que a mecha antes colorida de nossos cabelos agora tinha um tom loiro claro desbotado. E foi essa a justificativa que demos quando perguntadas de nossas semelhanças.

Em seguida, a líder que aplicava a tal dinâmica agora pedia que fizéssemos o oposto, escolhendo meninas fisicamente diferentes de nós.
Mais uma vez, as pequenas, alvoroçadas, se misturavam entre si para tentar encontrar alguém que tivesse alguma diferença bastante óbvia. O que vi naquele salão após isso, me fez refletir naquele mesmo instante e depois.
As meninas mais novas estavam acompanhadas de suas duplas, que eram em sua maioria mais velhas.
Enquanto a líder perguntava a cada uma de nós quais eram as diferenças que notávamos, uma resposta me chamou a atenção.
Uma das pequenas, com rosto branco (caucasiano), segurava a mão de sua dupla mais velha, que era negra.
Quando finalmente perguntada sobre qual seria a diferença entre elas, sua resposta foi: o óculos, ela usa óculos e eu não.
Senti um aperto forte no peito enquanto todos riam com a mesma impressão que tive.
A pequena, do alto de sua sabedoria e inocência, enxergava somente os óculos de sua dupla como algo diferente.
Ela não mencionou os cabelos, não mencionou a cor da pele. Ela não fez nenhuma outra menção pelo simples fato disso não importar. O que ela compreendia claramente era que aqueles óculos as tornavam diferentes. E talvez apenas isso.

Essa foi a questão que me fez ter mais uma mera compreensão do óbvio: procuraremos semelhanças e tentaremos justificá-las, assim como isso também pode ocorrer em relação às diferenças.
Com quem queremos nos parecer? Quem são as pessoas que nos inspiram e quais são as pessoas que repelimos?
Quando falo itai doshin, quero dizer que podemos ser diferentes em corpos mas estamos unidos pela mente. E essa união é a existência de um propósito. Qual é a sua construção de si mesmo? E de que maneira busca isso?
A minha hoje, nesse exato momento do dia 20 de maio de 2019 é ser feliz. E construir felicidade.

Isso provavelmente se concretizou também naquela breve dinâmica, ao ver através do olhar de uma criança de 6 anos.





sexta-feira, 10 de maio de 2019

E se eu estiver indo pelo caminho errado?

Eu acho que você já se perguntou isso algumas dezenas de vezes, assim como eu que com 27 anos não tenho nenhum sonho pelo qual eu lute incessantemente.
Objetivos tenho. Um bocado deles. Todos, inclusive, escritos em caneta esferográfica preta no post it rosa que fiz questão de pendurar na minha mesa de trabalho, já que não posso pendurar na minha própria testa ou marcá-los para sempre na minha pele.

Eu acho que você já quis desligar o computador do escritório e sair sem avisar que estava voltando pra casa para se trancar no quarto.
Eu acho que você já olhou para todos os enfeites da sua sala de estar e se perdeu no meio de todas as lembranças que te trazem a pessoa que foi um dia. E eu acho que você já quis encontrar suas respostas numa letra de música, assistindo o de pôr do sol no seu horizonte particular, ou num copo de um destilado barato.
Eu acho que você já se viu se desconstruindo dos ambientes que frequentava, dos lugares que visitou e daqueles para onde já determinou que não voltaria nunca mais.
Eu acho que você já quis que as coisas fossem diferentes e, depois, agradeceu por terem acontecido exatamente como aconteceram. Eu acho que você já sentiu que poderia de fato estar indo pelo caminho errado.
E sei, que assim como eu, também já deve ter abandonado a ideia de ''certo x errado'' para ser, antes de mais nada, feliz. Para entender que os seus caminhos são somente seus.