A porta já estava aberta quando eu cheguei. A dona da casa a havia deixado assim para que pudesse me receber sem que eu precisasse tocar a campainha - ela demonstrava um grande sinal de cordialidade.
Entrei. Olhei em volta e me vi fascinada pela prateleira cheia de dvds, livros e tipos variados de figuras do cinema. Confortáveis numa pequena almofada em cima do sofá, Mel e Nina - as gatas que eu já havia visto através de fotos.
Quando sentei no sofá ao lado da TV, Mel correu para um dos quartos. Eu ri. Era natural que se sentisse acuada com uma estranha em sua casa.
No entanto, a outra gata, Nina, permaneceu exatamente onde estava. Me fitava imóvel, quase sem piscar, como se já me conhecesse.
- Hey, Nina! Você tá vendo alguma coisa? - Eu perguntei brincando enquanto os seus olhos esverdeados pareciam ver em mim algo que eu mesma não conseguia ver.
- Que engraçado! Normalmente as duas gatas correm da sala na presença de algum estranho - Indagou a dona da casa.
- O curioso é que ela nem se mexe - Respondi ainda sorrindo.
Fitei Nina por mais alguns minutos, perguntando mentalmente a ela o que afinal estava enxergando em mim.
Hey, Nina. É aqui onde eu deveria estar?
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Carta ao jovem senhor que se foi cedo demais
Caro senhor,
Sinto que o conheço, embora não tenha tido a chance de vê-lo em nenhum momento deste nosso plano.
Talvez seja pela forma como ele - seu filho mais novo - se refere à sua tão carinhosa criação.
Ouvi falar de seus gostos para a música, de seu coração nobre, de sua triste ingenuidade diante dos seres humanos que já lhe fizeram mal.
Ouvi falar de seus ensinamentos - e agora fazem falta à ele, àquele menino triste que ficou pra trás.
A falta nele pesa todos os dias. É uma dor que eu ainda não compreendo e que, para ser sincera, torço demorar para compreender. É um amor intenso, incondicional, preso nas abas do tempo que insiste em passar sem que você esteja por perto.
Devo dizer-lhe, caro senhor, que o seu filho ainda não encontrou o caminho.
Eu tentei guiá-lo através de tudo o que eu sabia, mas falhei.
Ele se esconde em seu próprio universo e lá então ele fica. Descreveu-me como estar num limbo e eu não consigo tirá-lo de lá. Eu não contribui muito para afastá-lo dali.
Eu vim lhe pedir para ajudá-lo. Para que, caso possa, envie luz suficiente para que ele saia do lado negro desta força. É só o que eu peço.
Da minha parte, espero que de onde estiver não me culpe pelas imprudências ou pelos erros que cometi. Estou aqui de coração aberto, dizendo a você, caro jovem senhor de coração nobre, que eu sei que sua partida aconteceu cedo demais.
Sinto que o conheço, embora não tenha tido a chance de vê-lo em nenhum momento deste nosso plano.
Talvez seja pela forma como ele - seu filho mais novo - se refere à sua tão carinhosa criação.
Ouvi falar de seus gostos para a música, de seu coração nobre, de sua triste ingenuidade diante dos seres humanos que já lhe fizeram mal.
Ouvi falar de seus ensinamentos - e agora fazem falta à ele, àquele menino triste que ficou pra trás.
A falta nele pesa todos os dias. É uma dor que eu ainda não compreendo e que, para ser sincera, torço demorar para compreender. É um amor intenso, incondicional, preso nas abas do tempo que insiste em passar sem que você esteja por perto.
Devo dizer-lhe, caro senhor, que o seu filho ainda não encontrou o caminho.
Eu tentei guiá-lo através de tudo o que eu sabia, mas falhei.
Ele se esconde em seu próprio universo e lá então ele fica. Descreveu-me como estar num limbo e eu não consigo tirá-lo de lá. Eu não contribui muito para afastá-lo dali.
Eu vim lhe pedir para ajudá-lo. Para que, caso possa, envie luz suficiente para que ele saia do lado negro desta força. É só o que eu peço.
Da minha parte, espero que de onde estiver não me culpe pelas imprudências ou pelos erros que cometi. Estou aqui de coração aberto, dizendo a você, caro jovem senhor de coração nobre, que eu sei que sua partida aconteceu cedo demais.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Traços de herói
O sorriso sempre nos olhos, antes mesmo da própria boca se expressar.
Todos os dias, no mesmo lugar.
O herói pra quem você corre, o herói que socorre a quem precisar.
Um abraço terno, uma voz amiga. Ajuda quem foi e quem fica.
Me disse que sou maior que tudo isso, que sou digna e sou feliz. Me fez enxergar o que preciso.
Gratidão ao herói de coração aberto. Ou herói que prefere o amor, ao dinheiro. Que motiva o que é certo.
Que sua extrema honestidade só te faça crescer, que minhas palavras só sirvam para te enaltecer.
O sorriso sempre nos olhos, antes mesmo da própria boca se expressar.
Todos os dias, no mesmo lugar.
Minha fé em seres humanos como você, eu tenho à dedicar.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Compunção
Achei teu poema na minha caixa de segredos.
Tua letra torta em inglês, expressando uma tentativa nada falha de me fazer rir.
Poema simples, escrito em folha de caderno com pauta azul. E junto dele, a falta de uma carta escrita a mão, que eu me arrependo de ter rasgado por raiva.
Me arrependo, sim. Tanto quanto me arrependo do teu sofrimento, da tua dor explícita e agora distante. Me arrependo, sim. Da minha falta de apoio no teu momento de descoberta, da minha falta de empatia na tua agonia. Me arrependo de não ter sido justa com teu novo sentimento, pelo teu novo amor.
Quando, na verdade, eu poderia ter pensado um pouco menos em mim. Eu era burra. Um pouco mais do que sou hoje, talvez porque o meu eu de agora me permita eliminar parte dessa estupidez que parece estar entranhada em mim.
Me arrependo em não poder rir as tuas alegrias. Em não poder partilhar as tuas conquistas.
Me arrependo em sentir que não te ensinei nada válido pra essa tua nova vida.
Me arrependo de todas as músicas que eu nunca mais vou ouvir sem sentir falta do teu jeito sisudo. Me arrependo em ter forçado o teu choro.
E me arrependo de não poder te conhecer outra vez, nessa vida. De ter que esperar uma outra pra resolver as pendências que ficaram pelo caminho. Pra poder ter o teu perdão. E pra poder te dizer que eu me arrependo.
Tua letra torta em inglês, expressando uma tentativa nada falha de me fazer rir.
Poema simples, escrito em folha de caderno com pauta azul. E junto dele, a falta de uma carta escrita a mão, que eu me arrependo de ter rasgado por raiva.
Me arrependo, sim. Tanto quanto me arrependo do teu sofrimento, da tua dor explícita e agora distante. Me arrependo, sim. Da minha falta de apoio no teu momento de descoberta, da minha falta de empatia na tua agonia. Me arrependo de não ter sido justa com teu novo sentimento, pelo teu novo amor.
Quando, na verdade, eu poderia ter pensado um pouco menos em mim. Eu era burra. Um pouco mais do que sou hoje, talvez porque o meu eu de agora me permita eliminar parte dessa estupidez que parece estar entranhada em mim.
Me arrependo em não poder rir as tuas alegrias. Em não poder partilhar as tuas conquistas.
Me arrependo em sentir que não te ensinei nada válido pra essa tua nova vida.
Me arrependo de todas as músicas que eu nunca mais vou ouvir sem sentir falta do teu jeito sisudo. Me arrependo em ter forçado o teu choro.
E me arrependo de não poder te conhecer outra vez, nessa vida. De ter que esperar uma outra pra resolver as pendências que ficaram pelo caminho. Pra poder ter o teu perdão. E pra poder te dizer que eu me arrependo.
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