THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Ao meu querido amigo - Fragmentos Perdidos

Querido amigo,

Eu não teria crescido nem metade, nem por inteiro o que cresci depois da ferida funda que você me abriu no peito.
Creio que jamais compreenderia tudo o que pude de mim mesma se não o tivesse encontrado pelo caminho.
Assumo que em todos estes anos, eu ainda não havia aprendido a buscar o rumo, e encontrá-lo sozinha. Reconheço que sofri a dor agonizante de uma solidão mal compreendida, mal interpretada e mal resolvida. Houve quem dissesse que eu jamais me reergueria. Houve quem rezasse por uma recuperação miraculosa. Houve quem quisesse estar no seu lugar. E houve quem reconhecesse o quão nocivo foi abandonar uma rotina onde existia você o tempo todo.
Ouvi vozes na minha cabeça durante um bom tempo. Sofri a privação mais turbulenta de que me lembro: A sua falta excessiva, que agora só me parece talvez menos nociva que a sua presença - presença essa que eu tinha na mesma proporção, em tempo integral.
Acordei gritando durante algumas madrugadas. Assustei as pessoas ao meu redor com meu comportamento exacerbado e não me orgulho disso. Mas foi graças a você que eu aprendi a levantar e recomeçar. Foi o seu pedido de resistência e força que me tornou o que eu deveria ser agora - e o que sou.
A sua firmeza - e certa frieza - em insistir num abandono necessário, foi fundamental para que eu aprendesse a enxergar tudo o que eu já tinha ignorado.
Compreendi, por fim, que minhas breves greves de fome e as insistentes batidas infantis de pés não te trariam ao meu convívio outra vez.
Aprendi a olhar para as lembranças sem sentir a ferida sangrar ou arder. Aprendi a não abri-la o tempo todo. Aprendi que você não precisava ser dor. Porque em mim, você era felicidade. Mesmo quando tudo o que eu te causava era tristeza e confusão.

A sua partida brusca certamente me ensinou.
E por isso - por tudo isso -  a você, o meu eterno e genuíno sentimento de gratidão.


Criação em: Maio/2016