Quando eu era menina, o meu sonho - aquele grande e imensurável sonho - era ter a minha mãe de volta, completa, inteira, com tudo o que diziam fazer parte das verdadeiras características dela. Passei anos a fio rezando todas as noites, pedindo a tudo o que eu acreditava, que a trouxesse de volta, feito um milagre. Pra que eu a conhecesse, pra que ela me conhecesse. Pra que me ensinasse, pra que me amasse, ou apenas se lembrasse de mim.
Por merecimento da vida, ou por mero acaso - o que eu duvido muito - ela retornou a mim. A nós. Voltou a tona de uma doença que consumiu sua consciência por exaustivos sete anos.
Venceu mais uma porção de desafios, como era de se supor que ela faria.
Voltou a tempo de aturar minhas crises adolescentes, meu gênio contrário, meu mal-humor. Voltou sendo obrigada a se reconstruir, e recomeçar. Voltou a tempo de se apaixonar pelo mesmo homem.
E voltou, pra ser a guerreira que todos diziam que ela fora desde então.
Mas... lamentavelmente, voltou pra ser destratada em empregos ingratos, de pessoas que jamais seriam metade de tudo o que ela foi - e ainda é.
Voltou pra ser obrigada a ouvir piadinhas a seu respeito. Voltou pra ser hostilizada por pessoas mal-educadas, mal-amadas, mal-resolvidas. Voltou pra ouvir que sua presença no ambiente profissional não fazia qualquer diferença. Voltou pra ter medo de se reportar aos seus superiores, no receio de sofrer possíveis represálias.
Voltou pra tentar executar um trabalho que nunca fora visto pelas pessoas ali como algo grandioso.
Voltou pra resistir à vontade de ir novamente.
De todas as poesias que eu poderia escrever para expressar o meu amor, de todos os perdões que eu deveria pedir todas as vezes em que me excedi e perdi a paciência, de todas as músicas compostas por ela que aprendi a tocar, tudo o que posso fazer hoje por ela é agradecer e lamentar.
Agradecer: Por um novo ciclo. Por vê-la se afastando de pessoas baixas e pequenas. Por estarmos juntas e sermos uma pela outra.
Lamentar: As pessoas que mencionei, essas tantas que já a destrataram, perderam a chance de ter por elas a pessoa maravilhosa que minha mãe é. E perderam a chance de aprender com ela o que é respeitar o ser humano, acima de tudo, pois eu sei, que ela me criou pra nunca maltratar a mãe de ninguém.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
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