E numa bela manhã cinzenta de terça-feira, eu simplesmente fui e deixei tudo pra trás.
Peguei aquela minha bagagem cheia de falsas ilusões, frustrações, dramas, mentiras e injúrias, embrulhei-a e finalmente a despachei.
Me dei conta de que naquele momento, nada mais importava.
Os amores perdidos, os embalos desconhecidos, as noites mal dormidas, o frio na barriga, a falta de ar, o peito vazio. As mentiras, as dores, os pesares, as mágoas, e tudo o que ainda restava foi simplesmente descartado por mim - e já não era sem tempo.
Demorei em me permitir sentir isso. Sim, eu confesso. Mas só alguém de extrema coragem poderia se permitir reavaliar cada passo dado, cada palavra dita erroneamente, cada engano cometido por esse coração, que aprendeu a amar cedo, bem cedo, quando era lindo e ingênuo escrever cartinhas de amor aos 7 anos para o garoto mais bonito da rua, mesmo sabendo que no fundo ele não cumpriria de fato a promessa de se casar comigo.
Precisei ser corajosa o bastante para me lembrar da frustração dos sábados de meus 16 anos, quando esperar meu namoradinho descompromissado era torturante, quase tão torturante quanto saber ao final do dia que ele simplesmente não apareceria.
Precisei ter coragem para me recordar de como era abrir mão do meu orgulho para deixar que um outro escolhesse caminhar com alguém que não era eu.
E para ver o que eu considerava meu primeiro relacionamento sério se desfazer por consequência da vida, após tentativas falhas de mantê-lo em pé.
Precisei assumir que o último deles, apesar de bastante conveniente - emocionalmente falando - não possuía o mesmo grau de afeto, carinho e ingenuidade dos anteriores. E que era só a minha chance de dizer que tentei e que realmente não dei certo com alguém que era, de fato, tão diferente de mim.
Precisei buscar dentro de mim a coragem que eu sempre admirei nas pessoas que me cercavam - coragem essa que eu nunca imaginei ter.
Precisei voltar atrás para descobrir que todos os meus erros me trouxeram até aqui. Mesmo quando eu torcia todos os dias para acordar numa máquina do tempo que me levasse de volta e me permitisse tomar atitudes que me fizessem parecer um pouco mais adulta e menos desequilibrada.
Afirmo e reafirmo, que por ironia do destino, me vi recompensada por todos os enganos de outrora. Essa recompensa é você. E foi, desde aquele primeiro sorriso.
Aqueles erros que eu julgava terrivelmente pavorosos não me sufocam mais, não me pesam e nem me torturam com a mesma facilidade de antes. Tê-los cometido, me fez ser quem sou, e por muitos passos em falso, a estrada me colocou num caminho inteiramente novo, parecido com tudo o que eu já havia sonhado e visto em filmes e livros.
Agora eu sei que a sua força foi o que mais me ajudou a me livrar daquela maleta pesada, cheia de inutilidades emocionais. E embora seja grata por cada recordação presa ali, já não guardo espaço para todas elas.
Agora o espaço é seu. Pra que você escreva as suas palavras em mim da forma que puder.
Você, agora, é a história mais bonita que eu poderia contar a alguém. E é, com toda a certeza, o meu maior ato de coragem nesse instante.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Características infantis de uma Miss Lexotan-zinha.
Aos 9 anos de idade, recebi junto aos meus colegas de turma, a tarefa de desenvolver uma máscara de rosto caseira, com desenho de gato. A intenção era levá-la no dia seguinte à escola e reproduzir uma interpretação com base no texto que havíamos recebido na aula anterior - que contava a história de um casal de gatos.
Alguns meninos e meninas foram escolhidos pela professora para fazer o que se considerava uma espécie de teste. A ideia era escolher os personagens da peça para apresentá-la nas salas das primeiras e segundas séries.
Lembro-me vagamente que as meninas escolhidas liam o texto com ligeira vergonha e frieza. Um trecho em específico de fala das meninas mencionava algo como: "Uma gata se esquenta num gato".
Após quase todas as interpretações, a professora interveio com uma ideia.
- Meninas, vocês estão muito contidas. Vocês deveriam fazer este trecho em especial dizendo ''uma gata se esquenta num gato'' ao lado de um dos meninos.
Ela se moveu para perto de um dos meninos e se encostou parecendo um felino buscando por atenção. Roçou-se de leve no braço dele, bem como se estivesse tentando se esquentar.
Um tanto chocadas e ainda mais tímidas, as meninas ignoraram a sugestão da professora e continuaram a ler o texto sem muita ação.
Quando fui chamada a representar, decidi fazer como na sugestão. Li o texto com um pouco mais de vontade, caminhei até meu colega e rocei inocentemente meu braço no seu, como se fosse mesmo uma felina ansiando por atenção.
Houve, em seguida, uma enxurrada de aplausos vindos de todos os cantos da sala de aula.
Logo após, a professora mencionou o nome de cada uma das meninas para que os alunos levantassem a mão em sinal de votação.
Quando, por último, mencionou o meu nome, quase todos os presentes levantaram as mãos. Eu havia sido escolhida quase que de forma unânime.
Me recordando disso, agora entendo a minha coragem. Entendo perfeitamente algumas das minhas atitudes. Eu nunca fui muito comum - e isso nem sempre era bom. Mas também nunca fui normal - e isso era ótimo.
Eu gostava de desafiar o óbvio, mesmo quando parecia ainda muito nova para compreender que o óbvio, na verdade, era o que a sociedade mais exigia de mim. Gostava de inventar, inovar, e, por que não dizer... chocar?
Hoje eu entendo que pouco importava se o motivo disso era fugir de uma realidade que muito me incomodava.
Era apenas eu, ou grande de mim se desenvolvendo ali, me dizendo que eu sempre esperaria um pouco mais do mundo, como se ele mesmo me devesse algo.
Era apenas uma chance, dentre tantas outras, de ouvir algumas pessoas dizerem: "Essa menina é doida".
Alguns meninos e meninas foram escolhidos pela professora para fazer o que se considerava uma espécie de teste. A ideia era escolher os personagens da peça para apresentá-la nas salas das primeiras e segundas séries.
Lembro-me vagamente que as meninas escolhidas liam o texto com ligeira vergonha e frieza. Um trecho em específico de fala das meninas mencionava algo como: "Uma gata se esquenta num gato".
Após quase todas as interpretações, a professora interveio com uma ideia.
- Meninas, vocês estão muito contidas. Vocês deveriam fazer este trecho em especial dizendo ''uma gata se esquenta num gato'' ao lado de um dos meninos.
Ela se moveu para perto de um dos meninos e se encostou parecendo um felino buscando por atenção. Roçou-se de leve no braço dele, bem como se estivesse tentando se esquentar.
Um tanto chocadas e ainda mais tímidas, as meninas ignoraram a sugestão da professora e continuaram a ler o texto sem muita ação.
Quando fui chamada a representar, decidi fazer como na sugestão. Li o texto com um pouco mais de vontade, caminhei até meu colega e rocei inocentemente meu braço no seu, como se fosse mesmo uma felina ansiando por atenção.
Houve, em seguida, uma enxurrada de aplausos vindos de todos os cantos da sala de aula.
Logo após, a professora mencionou o nome de cada uma das meninas para que os alunos levantassem a mão em sinal de votação.
Quando, por último, mencionou o meu nome, quase todos os presentes levantaram as mãos. Eu havia sido escolhida quase que de forma unânime.
Me recordando disso, agora entendo a minha coragem. Entendo perfeitamente algumas das minhas atitudes. Eu nunca fui muito comum - e isso nem sempre era bom. Mas também nunca fui normal - e isso era ótimo.
Eu gostava de desafiar o óbvio, mesmo quando parecia ainda muito nova para compreender que o óbvio, na verdade, era o que a sociedade mais exigia de mim. Gostava de inventar, inovar, e, por que não dizer... chocar?
Hoje eu entendo que pouco importava se o motivo disso era fugir de uma realidade que muito me incomodava.
Era apenas eu, ou grande de mim se desenvolvendo ali, me dizendo que eu sempre esperaria um pouco mais do mundo, como se ele mesmo me devesse algo.
Era apenas uma chance, dentre tantas outras, de ouvir algumas pessoas dizerem: "Essa menina é doida".
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