Ela dirige tão bem - pensei. Acho que eu gostaria de saber dirigir do jeito dela.
Os pingos caiam entre o vidro da frente e se quebravam em direção aos vidros laterais do carro. Ouvíamos uma música antiga, daquelas que costumo escutar nas playlists hoje montadas para embalar um final de semana em casa.
Ela me contara que aquela música havia sido a primeira que a fizera dançar com um garotinho, em um de seus bailes de garagem, no auge de sua infância. Me contara que sempre tivera certa timidez e contraditória independência. E seguia dirigindo, mencionando detalhes de uma vida muito distante de sua realidade. Uma vida cheia de curiosidades que ela só ousou dividir comigo, naquele momento.
"Logo que você virou adolescente, sempre que dizia sair pra algum lugar, as pessoas ficavam preocupadas. Acreditavam que você era muito solta. Mas você era como eu. Eu me via em você, na sua liberdade, na sua independência" - Foi o que ela me disse.
Logo me vi radiante diante daquela frase.
Eu sou como ela? Mas que honra ser assim. Que honra ser como uma mulher que sempre foi tão guerreira, tão presente, tão bonita...
Ah, sim. E que beleza é essa que não morre e nem padece? Beleza é essa que não falha.
Que honra a minha ser batizada por uma mulher clara, doce, equilibrada.
Que honra a minha ser presenteada por uma mulher que compreende os meus gostos.
Que honra tê-la por perto para ser como uma guia, de uma amor tão maternal e sem laços de sangue que poucos experimentam.
Que honra chamá-la de madrinha. De mãe. De mãedrinha.