terça-feira, 24 de junho de 2014
Sobre os nossos objetos e um pouco de nós dois
Eu te roubo. Roubei partes de vocês para toda a minha rotina. Encontro partes da tua vida perdidas no cubículo colorido que é o meu quarto. As tuas meias, que estão guardadas na primeira gaveta da minha cômoda. Aquela tua camiseta esportiva divide o mesmo espaço de todas as roupas que uso pra dormir, e com a aquela bermuda de tactel que você usa na falta de um pijama.
A tua foto com mais de seis caretas diferentes está impressa em folha adesivada e colada na minha parede, acima do meu quadro de fotos.
Não posso nem me queixar, afinal, eu me deixei roubar e adorei fazê-lo.
Cada canto do teu quarto tem um pouco de mim e da minha bagunça feminina.
Tomei quase todo o espaço da segunda gaveta da tua cômoda, e nela hoje encontro mais das minhas roupas que das suas. A camiseta de gola listrada, o pijama com estampadas que a tua mãe jura ser a minha cara, a calça preta que me fica larga demais nas canelas e baixa demais nos quadris.
O cabide da tua parede, ao lado do banheiro, pendura o meu vestido azul de bolinhas brancas, aquela minha blusa preta com detalhes de camurça, e alguns outros adereços de frio que eu certamente me esqueci de levar pra casa num dia de calor.
A primeira fileira da tua estante ergue um porta-retrato com uma das nossas fotos. A segunda fileira dela, no entanto, segura os teus desodorantes e, no meio deles, aquele meu creme com cheiro de pêssego – que você tanto gosta.
Entre o aparelho da TV à cabo e o DVD, uma cestinha de palha com todas aquelas inutilidades que eu sempre esqueço de colocar na bolsa. Um par de brincos de bijuteria, um vidrinho de esmalte da coleção da última estação, uma tiara vermelha com laço e uma porção de grampos perdidos.
Até embaixo da tua cama tem sapatos meus jogados e esquecidos. Saltos, tênis, sapatilhas. E acho que até perdi a conta de quantas vezes você riu me perguntando quantos pés eu tinha para a necessidade de tantos calçados.
A minha bagunça se tornou tão nossa. O seu universo tão meu.
A nossa intimidade é de fato tão íntima, que as vezes acho que nem você saberia mais viver sem aquela toalha cor-de-rosa que está pendurada no banheiro, me esperando chegar, mesmo sabendo que não vou ficar por lá por muito tempo...
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