segunda-feira, 28 de abril de 2014
A única carta de amor que, de fato, já existiu
Depois de tantos enganos cometidos pela impulsividade que sempre me cercou, finalmente vim à tona, com aquelas tantas certezas que eu nunca havia tido, de relacionamentos e pessoas que nunca me deram o que eu acreditava que poderia ter.
E mesmo depois de finalmente deixar tudo isso pra trás, aqui estou eu, te escrevendo a única carta de amor da minha vida, a única carta de amor que, de fato, já existiu.
Tentando explicar eloquentemente sobre o único amor carnal e contraditoriamente puro que consegui encontrar, em quem parece ter sido criado e inventado num daqueles meus sonhos de garotinha - por mais repetitivo que isso possa parecer.
Tentando te explicar sobre esse amor citado nos filmes clássicos da vida de qualquer um. Esse amor clichê e imenso que me persegue ao longo do dia e me faz olhar para a sua foto exposta na minha mesa de trabalho - aquela que foi tirada no dia de mais uma das nossas comemorações, em que você resolveu fazer a barba e sorriu pra câmera com o ar de garoto tímido de 16 anos.
Esse amor que aprendi vendo meus pais, o amor que nunca soube dar - como já dizia o poeta.
Essa porção de argumentos e coisas lindas, que eu certamente já devo ter mencionado pra alguém, só pra deixar algum outro momento menos vazio.
Essa porção de coisas que eu te descrevo agora, sabendo que em nenhuma outra circunstância essas frases clichês poderiam ser ditas com tamanha sinceridade e certeza.
Esse amor que eu sinto agora. O amor que eu já sentia antes, muito antes que você pudesse me amar descontroladamente.
Esse amor que eu te falei em muitas das nossas noites, quando te disse amar intensamente até mesmo aos seus defeitos mais críticos.
Embora, é claro, tenha dito te amar muito mais sem dizer palavra alguma, falando apenas com os olhos, as mãos e a tremedeira que eu sentia em todas as vezes que você chegava perto demais, sem poder sequer me retribuir um beijo no rosto.
Te falei desse amor em todas as minhas loucuras, em todas as vezes que corri desesperada pra alcançar o ônibus que ia pra sua casa tarde da noite, em todas as nossas brigas, em todas aquelas imbecilidades cruéis que eu te disse certa de que você desistiria de mim.
Te falei desse amor todas as vezes em que apenas segurei sua mão e sorri.
E te falo agora, com o rosto aquecido, o peito pulsando acelerado, feito uma menina tola vivendo o seu primeiro grande amor, que eu te amo e essa é a única carta de amor que eu realmente escrevi.
terça-feira, 8 de abril de 2014
Efeito chaleira
Acorda, levanta. Abre a janela, analisa o tempo. Abre a segunda gaveta da cômoda, puxa uma saia que combine com o lenço.
E a rotina é basicamente a mesma. Ao longo do dia cozinha e é cozinhada por reclamações, solicitações e pequenas exigências.
Telefonemas, e-mails e mil bilhetes espalhados pela mesa. Mais de um problema pra resolver, obviamente.
E o efeito chaleira, que a faz se sentir cada dia mais cheia e quente.
O calor aumenta. As crises de cansaço também.
O medo domina. O gênio contrário também. Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1... segura, segura, segura, garota!
Respira fundo. Abre a gaveta, um comprimido fitoterápico que garante inibir o cansaço físico e mental.
O cotidiano pessoal não é tão desigual.
Uma cobrança. Uma crítica. Um problema a mais pra resolver da maneira mais ágil que puder. Um conselho pra dar. Um amigo pra se preocupar. Alguém pra abraçar. Contas a acertar. Contas, contas, contas.
Mais uma dose de nervosismo constante.
Invasão de espaço. De privacidade. Falta de senso, de bom senso. Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1... segura! Espera! Respira.
Cara fechada. Olhos maldosos. Sorriso forçado.
E o efeito chaleira sobe a cada segundo, querendo fazê-la dizer boas verdades a quem merece ouvir. Cada vez mais quente, apitando, transbordando.
Ela vai enlouquecer logo, asseguro. Ou ao menos, ela pensa que vai.
Ela vai mandar alguém se foder em 3...2...1...
Ela não parece mais tão ela quando se sente assim.
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