THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Amor e só

Aprendi a amar muito antes que pudessem inventar o amor. Porque a verdade é que esse amor literário, esse amor perdido e desesperado, não se parece em nada com o amor que eu sinto desde que me entendo por gente. Desse amor engarrafável e mutável, eu não entendo muito. Eu não entendo nada. Amor, na época em que comecei a viver de fato, era mais que uma palavra, mais que uma noite, mais que um gole de vinho ou uma música lenta. Amor costumava ser um tipo estupidamente bom de entorpecente. O amor era a flor amarela que eu colhia no jardim perto da casa da minha avó de criação. O amor era a maçã que minha tia colocava na mochila da pré-escola, o amor era as lágrimas do meu pai – homem que nunca chora – se dissolvendo na tristeza de ver minha mãe já tão emocionalmente adoecida até então. O amor era o sorriso dos estranhos na rua, era o meu primeiro disco dos Beatles, era a sorte me perseguindo pra que eu não tivesse tantos arranhões de tombos no asfalto. O amor era o doce surpresa depois do jantar, era a langerie que minha mãe sempre guardou, era a fantasia que eu criava nas brincadeiras imaginárias que protagonizaram o lado bom da minha infância. O amor era perder o equilíbrio com o ‘bom dia’ do garotinho estranho e mimado do colégio. Era voar nos lençóis da cama, era mergulhar no banho quente. Na minha época, o amor era muito mais que um desesperado e frenético ‘eu te amo’. O amor era mais bonito que o céu de baunilha em Vanilla Sky. O amor era mais nobre que uma letra de música numa foto de casal. O amor era doce, intenso, puro, e tão leve. O amor era tudo e sem ele quase nada restava. Hoje, o amor toma outras proporções. O amor é passível de venda, de fracasso, de mentira, de argumentações. O amor nos dias de hoje não se parece muito com amor. Não se parece nada. E o amor de antes, aquele simples e bom... esse é banalizado por quem não o entende, e admirado por quem ainda crê.