THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Moça, sai da sacada. Você é muito nova pra brincar de morrer...

- Se eu descobrisse que tenho uma doença terminal no cérebro, o que você faria?
- Que brincadeira feia, amiga! - Ele retrucou - Mas se tivesse, eu te levaria para a disney.
Eu ri. Era bem a cara dele ter esse tipo de plano. De todos os lugares do mundo que ele poderia ter em mente, pensou justo na disney - e eu tinha uma vaga ideia do por quê.

- Mas e se eu é que tivesse uma doença? Um câncer no estômago? - Ele agora invertia as possibilidades.
- Eu te levaria pra conhecer lugares diferentes, te levaria pra viver coisas novas - Eu respondi.

De repente, enquanto nos olhávamos com seriedade, notamos o quão macabras eram essas possibilidades.

- Por que é que só estamos pensando em viver essas experiências novas condicionados à uma ideia possível de morte? - Eu questionei.
Ele me olhou surpreso, com os olhos arregalados por trás do óculos redondo.

Finalmente percebi que a morte é romantizada e superestimada pela raça humana.
Nós vislumbramos a morte como a possibilidade de dizer um último adeus, de nos despedir adequadamente da vida com qualquer diagnóstico galopante.
Na grande maioria das vezes, recuamos de sonhos que julgamos como mirabolantes, enfatizamos questões fúteis e deixamos de dizer o que precisaria ser dito.
Temos pressa. E, contraditoriamente, temos medo.
A raça dominante no mundo, é a raça que mais o degreda e que mais o teme. Essa é a grande ironia.
Quase tão grande quanto a ironia de repudiarmos atitudes que vamos repetir. Quase tão grande a ironia de não valorizar quem amamos em vida, para que possamos lamentar sua perda no futuro.
A vida em si deveria ser mais valiosa que o fim dela.


"Moça, sai da sacada. Você é muito nova pra brincar de morrer." - já dizia o poeta Léo Ramos.

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