THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quinta-feira, 22 de março de 2018

Símbolo da felicidade em japonês - Capítulo 1

Dentre todas as coisas que encaixotei, dentre todas as bijuterias que guardei, encontrei por acaso um pingente que já não via há anos. Redondo, com um símbolo em japonês. Me lembrei de ter ganhado com treze anos de idade e de ter usado por um período antes de finalmente abandoná-lo. Achei melhor levá-lo comigo, sentia que poderia usá-lo num momento oportuno.
Naquela semana, eu falei com o universo. Tentei tirar dele o que eu queria, o que eu sabia. Dentro de toda a turbulência da minha vida, procurei respostas... mas as minhas perguntas estavam todas erradas.

Rafa surgiu numa quinta-feira a tarde.
Depois de me desejar um "feliz dia da mulher" em tom de empoderamento, me chamou para uma conversa.
A sintonia breve se mostrou clara. Ele não tinha intenções estúpidas ou ofensivas.
Rafa não era um garoto qualquer. E nunca seria.
Ele era uma das minhas respostas ao momento que eu vivia, uma breve orientação do universo aos desencontros que eu havia tido até ali.

Me recebeu em casa, junto de seus outros amigos (amigos esses que eu já conhecia e por quem eu já mantinha certo apreço). Me acolheu com um sorriso e um abraço terno.
Me mostrou cada canto do seu espaço - cada foto exposta, cada objeto, cada detalhe, as luzes coloridas que piscavam no corredor.
A energia boa ali neutralizou as tantas outras ruins que haviam se acumulado em mim. E aos poucos, eu fui me desconstruindo.
Rafa era leve. Era intenso. Trazia a filosofia do budismo consigo e a alegria de uma criação harmoniosa. Falava comigo e ouvia tudo o que eu tinha a contar. Eu me sentia em casa.
Eu me sentia viva. Estava me encontrando de novo - depois de tantas e tantas semanas querendo me livrar do peso de ser eu.

Certamente, um dia eu contaria ao Rafa que ele foi o responsável por me ajudar a reconstruir o pouco de tudo o que eu deveria ser. Mas, ali, éramos somente dois estranhos a conversar.
Lembrei do meu pingente japonês.
Após tamanha conexão, eu certamente o usaria de novo. Não por ele, ou por alguém. E sim, por mim.

O símbolo no pingente representava "felicidade" em japonês.

"(...) Ele tem algo que não é desumano, nem sobre humano. Tem algo anti humano. Ele cria em torno dele um lugar possível pra se viver. Nem sei pra que eu preciso de um lugar assim." - Citação do episódio 3 de "A menina sem qualidades".

quarta-feira, 14 de março de 2018

Eu sou a puta que nos pariu

Eu quero beber a minha dor até que ela seque.
Quero me abrir feito um relógio igual quando eu abri uma boneca quando menina. Quero me olhar no espelho e cortar todo o cabelo com a tesoura afiada.
Quero olhar dentro de tudo o que eu desejo ter de mim e dos outros.
Entrar de vestido branco e sair suja.
Quero me colocar como a louca que eu fui criada pra ser. Eu quero dizer tudo, como você disse querer.
Me envaidecer do poder das minhas coxas. E cuspir essa tua bondade patológica.
Quero me embebedar de mim mesma e dos crimes que eu ainda não cometi. Encher o copo de gin com as minhas lágrimas.
E rezar.
Rezar para que eu deixe de ser boa. Para que eu possa, finalmente, ser livre.

*Referência à personagem do filme Eu Sei Que Vou Te Amar, baseado na obra de Arnaldo Jabor.