THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Completa e contemplada

Quem te olha de relance com receio da tua cara de brava, mal sabe do teu coração nobre e cheio de luz.
Mas, quem te olha nos olhos e sente o privilégio das tuas palavras - ou das tuas frases tão cheias de graça - reconhece perfeitamente que apesar do mundo não ser necessariamente bom, ele está melhor. E é por sua causa. Como diria Nando Reis: desde que você chegou. Vai ver que é porque você explica quase sempre o mundo pra mim.
Sabe-se lá em que outro momento eu vou ter a chance de te dedicar um texto sem parecer o que genuinamente sou - pisciana nata e dona das mais clichês declarações. Então faço disso o meu gosto do momento e o meu apelo para que você continue aqui. E para que hoje você possa se contemplar, como eu às vezes faço, disfarçadamente.
Sei da tua força. Dos teus arranhões e machucados.
Como sei, também, que cada letra dessas linhas tocará você por inteira - pois é assim que você ensina o universo: somos completos.

Obrigada.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Inspire-se

Inspire-se no amanhã como o aprendizado. E no hoje como o seu recomeço. Nas pessoas que transformam o veneno em remédio ou que te ensinam a transformam o sofrimento em gratidão.

Inspire-se nesses sorrisos e na atitude genuína que parte de cada um deles. Inspire-se na boa sorte que até os dias ruins podem te trazer.
Inspire-se a inspirar outros seres humanos. A ajuda-los na grandiosa missão de paz. Inspire-se naquela frase de sensei, isso mesmo, aquela frase que te toca, que você sente que foi escrita pra você e para o seu momento.
Inspire-se a ser o melhor de si mesmo, todos os dias, sabendo que todos seguimos juntos e que talvez a sua luta esteja nesse momento inspirando tantas outras pessoas. Ou somente uma.
Inspire-se na sabedoria da sua prática, e lembre-se sempre de tudo o que você conquista quando a grandiosidade do nam myoho renge kyo toca o seu coração.
Inspire-se nas vezes em que você caiu e se levantou. Inspire-se em toda a construção do seu eu nessa batalha.
Inspire o mundo. Inspire-se para a felicidade.

A felicidade mora dentro de cada um de nós. A felicidade vive dentro de você.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Falo comigo, falo em silêncio.
Calo comigo, feridas hoje quase indolores.
Falo de agonia, do medo dos teus outros amores.
Falo do frio na barriga de ter em mim o fardo de ser eu. E de não ser como todas as outras.
Falo do meu medo de sentir tudo o que sinto. E todas as outras coisas que eu gostaria de não sentir. E não dizer.
E de ainda assim, não ser capaz de me esconder.
Falo a todos tudo o que eu quis. Falo da luta contra o mau olhado e o mau agouro. E ainda assim, a esperança em ser feliz.

Falo comigo. Eu falo demais. Até de gritar em silêncio eu sou capaz.


quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Garupa

Parou a moto no farol vermelho. Era hora dos outros carros passarem.
Ele se virou, com certa dificuldade em conseguir me ver, já que o capacete atrapalhava sua visão e não oferecia mobilidade ao seu pescoço.
Ainda assim, eu conseguia ver os olhos dele - os maiores olhos puxados que já vi. Há quem diga que japoneses têm olhos pequenos, mas na verdade, essa é uma característica peculiar e ao meu ver, uma bonita qualidade física da família shimanoe: olhos grandes.
- Eu sou feliz com você, sabia? - Ele indagou num misto de carisma e seriedade.
- De onde veio isso? - Eu perguntei surpresa.
- Eu precisava dizer.
- É mesmo? - Eu abandonei minha surpresa e transformei-a num sorriso ingênuo que preenchia todo o capacete que eu usava.

Meu peito se encheu novamente daquela estranha gratidão, a mesma que senti outrora e que há tanto já lhe dediquei.
Enquanto ele pilotava, me veio a breve compreensão do óbvio e me peguei dizendo a mim mesma: Vou me lembrar desse momento pelo resto da minha vida.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Ele brinca de viver

Você pulava as escadas e eu tinha quase certeza de que em algum momento você iria se matar.
Mas era só o seu jeito de me fazer sentir parte do grupo e a sua capacidade de nos fazer ver possibilidade em tudo, como quem diz ''olhe pra mim, eu posso voar".
Eu levei algum tempo pra entender que você não se importava com o que quer que pensassem a seu respeito, até porque, no final das contas, todo mundo sempre pensava bem.
Sei hoje sobre você bem mais do que eu imaginei que saberia algum dia.
E tomada pelo seu modo de ser, eu sempre me sinto em débito com a sua bondade.

Certa vez, há muito tempo, ouvi uma música dedicada a mim pelo meu pai, onde a letra dizia ''você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim... continua sempre que você responde sim à sua imaginação, à arte de sorrir cada vez que o mundo diz não''.

Nessa música, também, a seguinte mensagem: ''e eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho.. como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo''.

E esse é você. É a sua essência.
O nome da música - brincar de viver - é o que descreve quem vejo quando sou tomada pela gratidão que você, mesmo sendo mais novo e muito mais maluco que eu, me ensinou a ter pela vida e por tudo o que me cerca e me move.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Menino Buda

As marcas tatuadas nos teus braços dizem de você mais do que tudo o que você já disse de si mesmo.
Nasceu com o dom do riso fácil, do sorriso leve e largo. E é nesse riso que eu mergulho pra me encontrar comigo mesma, nas horas amargas do meu ceticismo e quando entendo que preciso - de novo - de algo para acreditar.
É no som da tua risada que eu acho o meu tão necessário e procurado estado de aquietação.
Nas tuas filosofias aplicadas pra vida é que me encontro pra caber um pouco mais num mundo que, ora me enaltece, ora me derruba. Nos teus caminhos eu encontro, também, a gratidão para aceitar essas quedas com humildade, com gentileza para com a minha essência e sobre quem eu sou.
Nos teus pensamentos eu me advirto de que cada ser humano é um universo. Que assim é pra mim e que em você identifico uma das galaxias mais bonitas que eu já visitei nesses longos e caros 26 anos da minha existência.

As marcas tatuadas em mim precisam de um pouco mais de você e do teu amor pela vida.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Mosby

Era como ele gostava de viver. Sempre adoecido de paixão por todo o tipo possível de garota que cruzava o seu caminho.
Vivia da intensidade tudo o que ela permitisse, até que todo o resto desmoronasse na sua própria cabeça, na utópica teimosia digna de um eterno apaixonado.
Metia os pés pelas mãos quase sempre, na incansável esperança de encontrar o que as pessoas chamam nos seriados românticos de "a tampa da panela" ou talvez "a metade da laranja" ou ainda assim "a alma gêmea", mencionada tantas vezes em belas poesias e textos como este.
Mosby como só ele, custou para se encontrar em si mesmo, embora parecesse o tipo de cara decidido, desses que sustenta uma estrutura concreta só com a força dos braços.
Lebenslanger schick schatz. Essa era exatamente a definição do que ele procurava. Tentou achar aqui, ali, acolá. Assim como Ted, que levou 8 temporadas procurando, ele buscava desesperadamente desde muito novo. Era um idealista, um romântico e um sonhador. Desses que bem provavelmente a gente só é capaz de encontrar em enredos de filmes dos anos 50.
Foram incontáveis batalhas, lutas e questionamentos diários que ele dedicou ao universo para que pudesse se compreender melhor e, para, quem sabe num futuro próspero, encontrar a conexão do que ele ainda não tinha sentido.
O momento com a garota, com o que seria para ele diferente de tudo o que vivera antes. E embora não fosse debaixo de um temporal, escondendo-se sob um guarda-chuva amarelo, seria considerado por ele um dos grandes encontros de sua vida.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

- Eu gostei de te levar pra comer hoje.
- Eu também gostei.
- Gostei de fazer algo por você.
- Você sempre faz.
- Ah, você me entendeu...
- Você também.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

O chão do banheiro mágico

Agachamos no chão do banheiro, que era iluminado por uma lâmpada brilhante e colorida, cheia de desenhos que circulavam pelas paredes.
Sentei ao lado de Guilherme, que estava próximo de Rafael, que sentou na frente de Bruna, que estava ao lado de Matheus.
Demos as mãos. E fascinados, fitávamos as cores refletidas no box do cômodo e em cada um dos rostos ali.
No elo - criado por eles muito antes do meu surgimento em suas vidas - só existia a verdade. A falta dela não era parte de nossa atmosfera, de nosso inocente afeto e do porto seguro que construímos juntos, para nos agarrarmos uns aos outros em todas as circunstâncias do que foi - e também de tudo que ainda seria.
Éramos nós. E éramos infinitos.
Beijávamos as mãos uns dos outros, como se o beijo fosse um brinde.
Eu encostava minha cabeça no ombro de Guilherme, que segurava firme a mão de Rafael, que tinha as mãos acalentadas por Bruna, que repousava a cabeça de Matheus em seu colo.

Me lembrava da frase na música de uma antiga banda que eu gostava, onde o intérprete questionava: Se tudo o que eu preciso se parece, por que é que não se junta tudo numa coisa só?

E então, junto das demonstrações nítidas de afeto, veio - uma vez mais - a minha forma mais pura de consciência, de compreender que naquele momento eu atraía tudo o que eu transmitia. A luz colorida do banheiro transformava seu chão em um campo mágico e nossos olhos em pedras claras de luz que refletiam como caleidoscópios.

Desse modo, eu sabia que poderia não ser de fato infinita, mas já estava eternizada na memória ali.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

Carta ao grande mestre jedi


Caro mestre,

Eu tive medo. Continuo com um pouco desse sentimento atrelado a todos os meus passos, como você bem deve saber.
Tenho medo do futuro, do que vislumbro. E tenho, também, medo do meu passado e da força que já dei a ele.
Tenho medo da energia obscura dos meus pensamentos. E como, num piscar de olhos, eu poderia ser conduzida ao lado negro da força.
Percebo em mim o medo em falhar, em fracassar nessa árdua tarefa que é cuidar de mim. Percebo o receio em me perder. E percebo a sua paciência em me guiar. Percebo cada detalhe das suas batalhas internas, especialmente as que dizem respeito a mim, como sua pupila.
Hoje sou bem mais do que fui outrora, mas ainda não sou o que deveria. Nós dois sabemos disso. E a verdade é que você está sempre encontrando maneiras únicas de me fazer enxergar, bem como eu sempre soube que faria.

Caro mestre jedi, eu tenho muito a agradecer. E a oferecer.
Tenho a força em mim para descobrir. E peço que continue segurando a minha mão nas grandes adversidades que sei que ainda terei nesse caminho.

O meu "vicio e o verso" - Fragmentos Perdidos

Você é aquela fresta de luz que entra pela minha janela logo no sábado de manhã.
É o cheiro de chuva no fim de tarde.
Você é a minha vontade em ser quem eu sou. E um pouco mais.
Você é o muito que o meu pouco traz. É calmaria na tempestade. Resiliência no desespero.
Você é aquele cheiro de café que eu tanto gosto. É o meu quadro na parede. É a minha cor de batom preferida.
Você é ordem no caos. É o vicio e o verso.
É o tempero da carne. O doce do açucarado. O tinto do vinho. E você me embriaga.
Você é o verso bonito que eu esqueci de publicar. O verde de todos os faróis de São Paulo.
Você é começo. Meio. E nunca o fim.
Você nunca sai de mim.
Você é a certeza que mais me assusta. A coisa mais impropriamente pura que eu criei.


Criação em Outubro: 2017

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Panelas

Minha mãe sempre foi rígida com suas próprias panelas de inox. Para todo adulto que se preze, uma panela de antiaderência é motivo de alívio e orgulho.
No caso dela, o grau de importância era ainda maior que para as demais pessoas, afinal, minha mãe é do tipo que se gaba a cada delicioso prato preparado. Ela coloca toda a sua alma no preparo do mais simples arroz com feijão.
Indo até o novo endereço do meu irmão, me deparei com a irremediável nostalgia de sua bagunça organizada. Nela eu identificava um pouco das coisas com as quais convivi até que fossemos separados pela rotina e pelas circunstâncias. Eis que na cozinha, junto ao móvel e nosso antigo microondas, noto três das seis panelas antiaderentes que minha mãe tanto amava.
De início penso ser um engano, um possível esquecimento da parte da minha tão amada cozinheira. E então me lembro de que abrir mão de metade do seu conjunto de panelas preferido para ajudar o filho era uma atitude bastante óbvia vinda dela.
Ela resolvera, de forma simples e tranquila, doar parte desse seu tesouro. Era uma forma de assegurar um certo conforto, afinal, qualquer alimento preparado naquelas panelas pouparia o trabalho na hora de lavar a louça.
Era, também, uma maneira de se certificar de que seu filho se alimentaria direito. Afinal, ele tinha agora panelas para facilitar isso.
Aquele era -  dentre tantos outros jeitos que conheci - um modo de dona mari angela cuidar de seu caçula, como quem diz "me preocupo e estou com você".
Aquele era mais um modo de dizer eu te amo.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Você nunca me pediu perdão - Um texto de despedida

E te dizer isso hoje é só uma forma de mostrar que eu já não espero por isso.

Você nunca me pediu perdão. Por nenhuma das vezes em que ignorou minhas ligações por pura pirraça, por nenhuma das vezes em que me julgou como uma pessoa sem freio e completamente desequilibrada.
Você nunca me pediu perdão por toda a exposição a qual fui submetida pelo simples fato de bancar a minha decisão de estar perto de você. Por todas as vezes em que eu senti falta de ar depois de chorar compulsivamente. Por todas as vezes em que você me tratou com ódio ou demonstrou profundo desprezo por tudo o que eu sentia.
Por todas as vezes em que eu quis não existir, você nunca me pediu perdão.

Você nunca me pediu perdão por todas as vezes em que apontou o dedo para as minhas falhas e os meus erros. E você nunca se desculpou pelas injúrias, pelas palavras tortas, pelos transtornos que me fizeram pensar em desistir até do meu emprego.

Você nunca me pediu perdão por me manter deliberadamente na sua mão, por todas as vezes em que eu quis ir e você não deixou. Por todas as vezes em que você usou o amor como argumento pra que eu não me afastasse de vez.
Você nunca me pediu perdão. E eu esperei que esse perdão fosse suplicado em algum momento.

Mas hoje, com o coração leve, eu te digo que não mencionei muitas coisas pelas quais você deveria ser perdoado, talvez porque eu tenha simplesmente esquecido e apagado. Talvez porque esse seja o indício de que eu não vou mais falar de você. Que esse é o meu último texto sobre qualquer coisa que ficou. Que talvez, agora, eu esteja finalmente compreendendo que eu já te perdoei e posso seguir o meu caminho.

Mesmo sabendo que você nunca me pediu perdão.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Esse é um texto feliz sobre uma pessoa triste

Hoje te vi na rua.
Depois de longas semanas sem sequer cruzar o seu caminho. Eu me virei na sua direção para te dizer oi. Você acenou com a cabeça, se mantendo sério, como se fosse esforço demais ser agradável logo pela manhã.
E percebi, naquele momento, que eu já não sentia meu coração palpitando, eu já não sentia náuseas, eu já não sentia euforia. Eu já não sentia nada.
Eu te olhei e para minha surpresa, você não tinha nada de especial. Não brilhava e já não era mais atraente. Você era parte da paisagem. Era igual a todos os outros que atravessariam a avenida. E era triste.
A sua feição - parcialmente escondida atrás do óculos de sol - demonstrava a insatisfação em estar ali.  Talvez em me ver, talvez em acordar cedo, talvez em ter a vida que tem. E eu percebi isso com clareza, sem me martirizar. Eu conclui isso com a plenitude de não ser impactada por nenhuma das suas reações - ou a falta delas.

Hoje te vi na rua e você era triste.
Mas esse texto eu escrevo feliz. Porque sou esse mesmo oposto agora.
Porque estou em paz comigo mesma - e também com você. Que agora virou uma pessoa igual a todas as outras.




segunda-feira, 21 de maio de 2018

Cante por nós

Eu era a pessoa que batia no peito pra dizer: prefiro um bom filme na cama à qualquer balada por aí. Eu dizia isso com aquele ar ligeiramente arrogante de quem se considerava intelectual demais para sucumbir às mesmices de uma maioria.
Mas, eu me esqueci de que para ter propriedade no que eu dizia, eu precisava viver aquilo de algum modo, e de preferência, de coração aberto.
Nas vezes em que eu olhei com desdém pra quem adorava as tais baladas, festas e festivais, eu me esqueci de considerar que cada pessoa é, em sua plenitude, um universo inteiro e completo. Me esqueci de analisar que se o que eu desejei por um curto espaço de tempo tivesse se concretizado, eu estaria agora vivendo os meus finais de semana numa sala de estar à base de ideias de produtores e diretores que conseguiram conclui-las para entreter a pessoa que eu teria me tornado. Eu estaria na minha antiga e patética corrida contra o tempo para atualizar o meu perfil do filmow.
Se o meu julgamento coubesse perfeitamente no meu antigo discurso blazê, eu não teria sentido o meu coração explodir dentro do meu peito ao som do espetáculo que vi de perto. Eu não teria recebido o olhar e o beijo à distância de um ícone da música atual. Eu não teria me emocionado da forma como me emocionei.
Se eu não tivesse me permitido vivenciar essa experiência, eu não teria visto todas as cores e luzes que vi envolta de mim ao lado de pessoas que me abraçaram, me ergueram, me acolheram, beijaram e seguraram a minha mão em grande parte do tempo em que estive ali.
Eu continuo louca por todos os meus filmes preferidos. Mas não quero mais somente viver os sonhos da tela quadrada. Não quero mais me concentrar em viver os sonhos de outra pessoa. Bem como, me interesso cada vez menos por pré julgamentos alheios - e isso inclui os meus.

Eu me interesso, nesse momento, em cantar numa só voz.
Do modo como cantei. Do modo como fui ensinada a cantar.

E se eu errar, que alguém cante por mim.
Cante por nós.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Gratidão

A minha gratidão vem do som da tua voz, vem daquela tua mania de falar com sotaque nordestino, que antes eu só achava graça e que agora eu também imito.
A minha gratidão vem do teu jeito de me sentir, do teu modo sempre positivo de pensar, de revolucionar. Vem das tuas meditações, do teu empoderamento, da tua maneira em ensinar o daimoku.
A minha gratidão vem do teu cuidado ao me curar, da tua calma ao me amparar, da tua intensidade ao me fazer viver. Vem do pôr do sol que entra pelo vidro da tua janela. Vem da tua alma pura, do teu coração nobre que me acolheu. Que de tantas pessoas que já vieram e foram, sei que quem mais aprendeu fui eu.
A minha gratidão vem dos teus olhos. Vem do formato que eles tem e de tudo o que eles me dizem quando você sequer abre a boca pra dizer.

A minha gratidão não cabe nestas poucas palavras, mas ela e toda a minha força mostram que eu a entrego a você.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

- Por que toda vez que a gente conversa parece que existe uma conexão de outro planeta?
- Porque você é o David Bowie, veio de outro planeta. E eu sou bom demais pra esse mundo.

- Eu te odeio. Já te disse isso hoje? rs.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Julia no céu com diamantes

Você me mostrou todas as cores que eu vi naquele dia. Elas tinham vida própria.
Nós começamos a dançar, cercados de todas as luzes que o universo nos deu. E percebi que naquele exato momento eu era apenas eu. Mas muito mais do que havia sido antes.
Eu era a morsa, como John Lennon foi um dia.
E eu enxergava diamantes, como Lucy. E flutuava com os pés no chão, ainda assim, como se fosse capaz de voar.
Eu era Alice. E você, o gato, porque ao desaparecer, seu sorriso se tornava o único que eu via em meio ao incrível efeito da luz neon.
Todos os detalhes se moviam. Os desenhos dos azulejos ganhavam vida. As flores do papel de parede, de repente, tinham um toque de mágica e nelas era possível enxergar o vento batendo como num único sopro. E você continuava sorrindo...
Tocou o meu rosto com carinho. Me agradeceu por aquele momento e continuou a sorrir.
Abri os braços e os entreguei ao céu que, por sorte, explodia de estrelas.

As músicas chegavam ao fim. Você permanecia terrivelmente alegre e cheio de emoção.
E continuava sorrindo...
Eis que aquela era a minha insuportável felicidade. Vivi de mim o melhor da minha existência enquanto deslizava os pés pelo que chamamos de pista de dança improvisada.

E naquele momento, além de ser infinita, eu tinha olhos de caleidoscópio.
E você? Você continuava sorrindo...

Everyone smiles as you drift past the flowers.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Redescobertas - Fragmentos Perdidos

Definição: Redescoberta - Nova visão ou interpretação de algo que já se conhecia.

Olhei pelo fundo do floor. Em meio a um pequeno e tímido grupo de pessoas: Você.
Reconheci.
Fitei e logo disfarcei. Comentei com meu amigo ao lado.
Você me olhou de volta. Você sabia quem era eu.
Você sempre soube.
E eu? Bem, eu nunca me esqueço de um rosto. E você foi um rosto familiar por um período muito específico da minha vida, daquela infância cheia de cicatrizes.
Em você, uma porção de características do menininho de olhos puxados que dividiu comigo o primário da escola estadual.
Em você, ainda assim, um mistério e um lado mais obscuro que o que eu encontrei em Darth Vader, meses depois - por influencia sua.
Te levei pra fora, pro outro lado. Comigo você descobriu o gosto das cervejas baratas do bar, reviveu o gosto de uma tequila com limão numa sexta-feira a noite pós expediente. Tragou os ares e os sabores de uma cidade que sozinho, com toda a sua introversão, talvez não tivesse encontrado.
Mas, foi comigo também que você dividiu seus segredos mais sombrios, seus medos mais pavorosos, seus sonhos ligeiramente clichês, suas irritantes manias. E uma intensa saudade que eu sempre soube que nunca mais te abandonaria.
Do meu lado e sob a minha tutela, você perdeu seu receio. Deixou de se esconder das fotos, de inventar desculpas esfarrapadas, de prorrogar o que poderia ser vivido de toda a sua liberdade.
Descobriu outros lados, outros olhos, outros pontos de vista, pessoas em volta. Aceitou algumas e repudiou outras, me protegendo.
Descobriu que seus passos de dança poderiam caber perfeitamente em músicas pós-punk numa balada e que é totalmente aceitável se emocionar ao som dos clássicos de David Bowie.
Descobriu meus filmes preferidos e todas as histórias por trás deles.
E eu? Bem, eu perdi a vergonha de comer um lanche enquanto você me fitava e de parecer uma criança que não sabe comer doces sem se lambuzar. Perdi a paciência com as provocações que sofri por quem nunca entendeu que nós, acima de tudo, sempre fomos amigos.
Perdi as estribeiras e te xinguei algumas dúzias de vezes. Perdi o meu orgulho e te pedi perdão, depois.
Sob a sua tutela eu explorei o universo de Star Wars, o ritmo de Daft Punk e mais uma porção de referências que eu levaria uma vida inteira pra pontuar.

Olhei pelo fundo do floor. E quando seus olhos me devolveram esse mesmo olhar, eu ainda não tinha certeza que teria tanto de alguém pra caber em mim.

Criação em: Junho/2017

terça-feira, 17 de abril de 2018

Seja bem-vindo de volta - Sobre perdoar velhas amizades

Eu estou pronta pra que você volte. Pra que você volte e cante todas as músicas que mais ninguém conhece. Estou pronta pra te ouvir gaguejar de nervoso.
Eu estou pronta pra dizer às pessoas ''pois é, somos amigos há muitos anos''.
Eu estou pronta pra ouvir as tuas agonias, pra curar as tuas feridas. Pra acreditar em mudar o mundo com as letras das tuas composições. Eu estou pronta pra te chamar pra'quele café que ainda não tomamos, pra ouvir suas justificativas de tamanha ausência, de todos os aniversários que você perdeu.
Eu estou pronta pra te dizer que ainda somos Pedro e Julia, Julia e Pedro.
Eu estou pronta pra te desculpar pela falta grave e pra me perdoar pelo julgamento incisivo. Estou pronta pra te enviar cartas escritas à mão e pra receber as tuas surpresas.

E talvez agora, eu esteja pronta pra enfrentar o mundo sozinha e queira apenas dividir contigo sobre algo que eu mesma me tornei na tua negligência.
Eu estou pronta pra te mandar a primeira mensagem que vai provar tudo o que eu acabei de assumir que estou pronta pra fazer outra vez.

Eu estou pronta para ser a sua amiga agora.



segunda-feira, 16 de abril de 2018

Ele nem sabe...

"Ele não sabe mais nada sobre mim.
Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos.
Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranquilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio. Ele não sabe por mim.
Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura. Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria."

Marla de Queiroz.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Terapia parte 1 - Encontrando a causa real

As 12 horas anteriores haviam sido consideravelmente conturbadas.
Eu havia atingido o meu limite, perdido o controle. E recebi baques emocionais que me fizeram despertar mais cedo.
Após finalmente dizer adeus à alguns dos meus sentimentos mais intensos, fiquei em estado de luto. As roupas pretas que eu vestia expressavam isso, embora só depois eu tenha entendido que a representatividade do luto pelas roupas não foi uma escolha consciente.
Recorri à T., minha amiga mais íntima nas circunstâncias atuais. Eu precisava mantê-la ciente do que havia ocorrido comigo após a nossa última conversa.
Terna e sempre compreensiva, ela me ouviu com atenção e gentileza - a mesma gentileza que usava anteriormente para me guiar nos exercícios de meditação.
Me fez algumas perguntas sobre o por quê de eu estar tão ligada à determinados sentimentos de perda. Eu respondi com deduções, analisando cada ponto mencionado.
Em seguida, ela me pediu que fechasse os olhos para que pudesse fazer um exercício diferente.
Sentada na cadeira de escritório enquanto fechada na sala junto dela, eu obedeci. Coloquei calmamente as mãos repousadas nas pernas, respirei com calma e fui guiada pela voz serena.

Entre as coisas que me dizia, algumas perguntas me foram colocadas. Em essência eram mais ou menos assim:
"Existe uma Julia que precisa acreditar que essas coisas são reais. Uma Julia que precisa de respostas por alguma razão. Quem é ela? Onde está essa Julia?"

Fiquei um tempo vagando pela mente, tentando encontrar a resposta pra tal pergunta, até que finalmente eu a vi.
Uma menina que parecia estar entre seus 7 ou 8 anos de idade. Cabelos lisos e castanhos na altura dos ombros. Franjinha cortada na altura das sobrancelhas. Bochechas cheias.
Com um olhar esperançoso ela me fitava, como se estivesse pronta para ouvir o que eu tinha a dizer. Logo depois, eu a vi na sala de aula que ficava na extensão da escola. Vi rostos de crianças que eu conheci e entre eles, ao final da sala, um em especial.
Olhos puxados, cabelo liso escuro, orelhas salientes. Naquele rosto infantil, um jeito triste e recluso. Quase parecia que ele sentia medo de estar ali. Ele quase não falava.
Assisti toda a cena, vendo a menina de franja esperar a saída da professora para atravessar as colunas de carteiras e, em seguida, dar um singelo beijo no rosto do tal garoto recluso. Simultaneamente, todas as crianças em volta iniciaram um coro com "Huuuuuumm" em tom de malícia. O garoto mestiço, envergonhado, simplesmente corou. Ele continuava sério, não esboçava qualquer reação, não dizia uma só palavra.
Voltei a fitar a menina atrevida novamente. Ela me olhava, pronta para me ouvir.

Descrevo o momento à T., minha amiga.
Ela me pergunta "O que você quer dizer a ela?". Eu me lembro de dizer algo como "Ela sente que ninguém gosta dela. Ela acha que ele também não vai gostar. Ela se sente rejeitada".
Ainda de olhos fechados, eu fito a garotinha à minha frente. Ela fica em meio a um fundo escuro.
De repente, ela some.
Sinto minha cabeça girar, como se estivesse tonta. Por um momento penso que vou perder os sentidos e cair no chão. O escuro me envolve por completo, eu não vejo nada enquanto a sensação de estar num carrossel fica cada vez mais forte. Eu sinto estar girando. Permaneço de olhos fechados e o pânico me toma inteiramente. Começo a chorar em desespero. Peço ajuda à T., peço que ela me ajude a parar. Choro descontroladamente.
Ela me pede calma. Percebo que não consigo me conter e logo ela impera: "JU, ABRA OS OLHOS!"
Obedeço. A respiração ofegante não me ajuda a recobrar o controle. Ela segura firme a minha mão, ainda me pedindo calma.
Eu respiro forte e com dificuldade. Ainda não consegui me recuperar da sensação de desespero e medo que o tal carrossel me trouxe.

Um sopro no meu peito me revela que eu ainda terei muitas sensações como essa, até encontrar a razão do sofrimento inconsciente vivido até aqui.




quinta-feira, 22 de março de 2018

Símbolo da felicidade em japonês - Capítulo 1

Dentre todas as coisas que encaixotei, dentre todas as bijuterias que guardei, encontrei por acaso um pingente que já não via há anos. Redondo, com um símbolo em japonês. Me lembrei de ter ganhado com treze anos de idade e de ter usado por um período antes de finalmente abandoná-lo. Achei melhor levá-lo comigo, sentia que poderia usá-lo num momento oportuno.
Naquela semana, eu falei com o universo. Tentei tirar dele o que eu queria, o que eu sabia. Dentro de toda a turbulência da minha vida, procurei respostas... mas as minhas perguntas estavam todas erradas.

Rafa surgiu numa quinta-feira a tarde.
Depois de me desejar um "feliz dia da mulher" em tom de empoderamento, me chamou para uma conversa.
A sintonia breve se mostrou clara. Ele não tinha intenções estúpidas ou ofensivas.
Rafa não era um garoto qualquer. E nunca seria.
Ele era uma das minhas respostas ao momento que eu vivia, uma breve orientação do universo aos desencontros que eu havia tido até ali.

Me recebeu em casa, junto de seus outros amigos (amigos esses que eu já conhecia e por quem eu já mantinha certo apreço). Me acolheu com um sorriso e um abraço terno.
Me mostrou cada canto do seu espaço - cada foto exposta, cada objeto, cada detalhe, as luzes coloridas que piscavam no corredor.
A energia boa ali neutralizou as tantas outras ruins que haviam se acumulado em mim. E aos poucos, eu fui me desconstruindo.
Rafa era leve. Era intenso. Trazia a filosofia do budismo consigo e a alegria de uma criação harmoniosa. Falava comigo e ouvia tudo o que eu tinha a contar. Eu me sentia em casa.
Eu me sentia viva. Estava me encontrando de novo - depois de tantas e tantas semanas querendo me livrar do peso de ser eu.

Certamente, um dia eu contaria ao Rafa que ele foi o responsável por me ajudar a reconstruir o pouco de tudo o que eu deveria ser. Mas, ali, éramos somente dois estranhos a conversar.
Lembrei do meu pingente japonês.
Após tamanha conexão, eu certamente o usaria de novo. Não por ele, ou por alguém. E sim, por mim.

O símbolo no pingente representava "felicidade" em japonês.

"(...) Ele tem algo que não é desumano, nem sobre humano. Tem algo anti humano. Ele cria em torno dele um lugar possível pra se viver. Nem sei pra que eu preciso de um lugar assim." - Citação do episódio 3 de "A menina sem qualidades".

quarta-feira, 14 de março de 2018

Eu sou a puta que nos pariu

Eu quero beber a minha dor até que ela seque.
Quero me abrir feito um relógio igual quando eu abri uma boneca quando menina. Quero me olhar no espelho e cortar todo o cabelo com a tesoura afiada.
Quero olhar dentro de tudo o que eu desejo ter de mim e dos outros.
Entrar de vestido branco e sair suja.
Quero me colocar como a louca que eu fui criada pra ser. Eu quero dizer tudo, como você disse querer.
Me envaidecer do poder das minhas coxas. E cuspir essa tua bondade patológica.
Quero me embebedar de mim mesma e dos crimes que eu ainda não cometi. Encher o copo de gin com as minhas lágrimas.
E rezar.
Rezar para que eu deixe de ser boa. Para que eu possa, finalmente, ser livre.

*Referência à personagem do filme Eu Sei Que Vou Te Amar, baseado na obra de Arnaldo Jabor.



terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Nina

A porta já estava aberta quando eu cheguei. A dona da casa a havia deixado assim para que pudesse me receber sem que eu precisasse tocar a campainha - ela demonstrava um grande sinal de cordialidade.
Entrei. Olhei em volta e me vi fascinada pela prateleira cheia de dvds, livros e tipos variados de figuras do cinema. Confortáveis numa pequena almofada em cima do sofá, Mel e Nina - as gatas que eu já havia visto através de fotos.
Quando sentei no sofá ao lado da TV, Mel correu para um dos quartos. Eu ri. Era natural que se sentisse acuada com uma estranha em sua casa.
No entanto, a outra gata, Nina, permaneceu exatamente onde estava. Me fitava imóvel, quase sem piscar, como se já me conhecesse.
- Hey, Nina! Você tá vendo alguma coisa? - Eu perguntei brincando enquanto os seus olhos esverdeados pareciam ver em mim algo que eu mesma não conseguia ver.
- Que engraçado! Normalmente as duas gatas correm da sala na presença de algum estranho - Indagou a dona da casa.
- O curioso é que ela nem se mexe - Respondi ainda sorrindo.

Fitei Nina por mais alguns minutos, perguntando mentalmente a ela o que afinal estava enxergando em mim.

Hey, Nina. É aqui onde eu deveria estar?

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Carta ao jovem senhor que se foi cedo demais

Caro senhor,

Sinto que o conheço, embora não tenha tido a chance de vê-lo em nenhum momento deste nosso plano.
Talvez seja pela forma como ele - seu filho mais novo - se refere à sua tão carinhosa criação.
Ouvi falar de seus gostos para a música, de seu coração nobre, de sua triste ingenuidade diante dos seres humanos que já lhe fizeram mal.
Ouvi falar de seus ensinamentos - e agora fazem falta à ele, àquele menino triste que ficou pra trás.
A falta nele pesa todos os dias. É uma dor que eu ainda não compreendo e que, para ser sincera, torço demorar para compreender. É um amor intenso, incondicional, preso nas abas do tempo que insiste em passar sem que você esteja por perto.
Devo dizer-lhe, caro senhor, que o seu filho ainda não encontrou o caminho.
Eu tentei guiá-lo através de tudo o que eu sabia, mas falhei.
Ele se esconde em seu próprio universo e lá então ele fica. Descreveu-me como estar num limbo e eu não consigo tirá-lo de lá. Eu não contribui muito para afastá-lo dali.
Eu vim lhe pedir para ajudá-lo. Para que, caso possa, envie luz suficiente para que ele saia do lado negro desta força. É só o que eu peço.

Da minha parte, espero que de onde estiver não me culpe pelas imprudências ou pelos erros que cometi. Estou aqui de coração aberto, dizendo a você, caro jovem senhor de coração nobre, que eu sei que sua partida aconteceu cedo demais.


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Traços de herói

O sorriso sempre nos olhos, antes mesmo da própria boca se expressar.
Todos os dias, no mesmo lugar.
O herói pra quem você corre, o herói que socorre a quem precisar.
Um abraço terno, uma voz amiga. Ajuda quem foi e quem fica.
Me disse que sou maior que tudo isso, que sou digna e sou feliz. Me fez enxergar o que preciso.

Gratidão ao herói de coração aberto. Ou herói que prefere o amor, ao dinheiro. Que motiva o que é certo.
Que sua extrema honestidade só te faça crescer, que minhas palavras só sirvam para te enaltecer.

O sorriso sempre nos olhos, antes mesmo da própria boca se expressar.
Todos os dias, no mesmo lugar.
Minha fé em seres humanos como você, eu tenho à dedicar.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Compunção

Achei teu poema na minha caixa de segredos.
Tua letra torta em inglês, expressando uma tentativa nada falha de me fazer rir.
Poema simples, escrito em folha de caderno com pauta azul. E junto dele, a falta de uma carta escrita a mão, que eu me arrependo de ter rasgado por raiva.
Me arrependo, sim. Tanto quanto me arrependo do teu sofrimento, da tua dor explícita e agora distante. Me arrependo, sim. Da minha falta de apoio no teu momento de descoberta, da minha falta de empatia na tua agonia. Me arrependo de não ter sido justa com teu novo sentimento, pelo teu novo amor.
Quando, na verdade, eu poderia ter pensado um pouco menos em mim. Eu era burra. Um pouco mais do que sou hoje, talvez porque o meu eu de agora me permita eliminar parte dessa estupidez que parece estar entranhada em mim.
Me arrependo em não poder rir as tuas alegrias. Em não poder partilhar as tuas conquistas.
Me arrependo em sentir que não te ensinei nada válido pra essa tua nova vida.
Me arrependo de todas as músicas que eu nunca mais vou ouvir sem sentir falta do teu jeito sisudo. Me arrependo em ter forçado o teu choro.
E me arrependo de não poder te conhecer outra vez, nessa vida. De ter que esperar uma outra pra resolver as pendências que ficaram pelo caminho. Pra poder ter o teu perdão. E pra poder te dizer que eu me arrependo.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Por enquanto

Muito se falava sobre amizade recíproca, mútua, verdadeira. Do tipo que ultrapassa os limites do tempo. Do tipo que se mantém diante das mais distintas dificuldades.
Eu tinha 15 anos e um all star vermelho sujo todo rabiscado com o nome dos integrantes da sua - até então - banda, quando acreditei nisso piamente. Essa talvez tenha sido a primeira e última vez em que isso aconteceu.
O que vinha depois, vinha com as minhas dúvidas, os meus receios, o meu medo de perder de novo o que eu já tinha perdido quando notei que a nossa relação - aquela relação que gritávamos pro mundo ser a de dois irmãos - já não era igual.
Eu sei quanto amor depositamos nisso. Eu sei listar todas as vezes em que você me protegeu do frio, em que me acudiu. Eu consigo me lembrar de todas as vezes em que você sorriu pra mim enquanto tocava seu violão e todas as vezes em que desci a rua da minha antiga casa correndo só pra poder pular no seu pescoço - como as cenas de filmes que eu acreditava que viveria um dia.
Mas, dádiva ou maldição, eu tenho uma memória boa o suficiente para me lembrar de todas as vezes em que você deixou de me responder, em que um ''como você está?'' ou o desenvolvimento de um assunto qualquer caia no seu esquecimento.
Eu ainda me lembro, assim sem pesar e sem dor, de todas as vezes em que você poderia ter tentado honrar a promessa que me fizera no ano anterior, aquela que consistia em estar mais próximo, em fazer parte da minha vida de forma mais efetiva.
A muito falada amizade mútua, apesar de ter deixado registros incríveis de momentos dos quais provavelmente vou me lembrar enquanto eu respirar, ficou no esquecimento, de algum modo. Eu não te culpo. Eu não me culpo. Eu não culpo ninguém e não culpo a vida. Não ter você constantemente no meu caminho me ajudou a seguir sozinha. Tenho orgulho disso.
Só assim eu pude me achar e tirar as cenas dos filmes da cabeça pra poder vivê-las como eu bem entendesse.
Parece o velho clichê dos amores jurados que se perdem no tempo, na saudade e na ausência. Talvez essa seja a hora em que a gente aponta pra vida, pega o violão e toca "Por Enquanto" da Cássia Eller, só pra dizer que o pra sempre, sempre acaba.

Mas hoje, num dia como hoje, eu não tenho nada pra comemorar. Eu não tenho palavras entusiasmadas de amor e felicitações pra você. Hoje eu tenho só a nostalgia - foi o que sobrou.
Não que não haja gratidão. Mas antes havia um buraco imenso e agora não há mais. Eu o fechei por mim mesma.
Hoje, essa data se tornou uma simples formalidade.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Neve

Dissolve entre os dedos.
Não é como nos desenhos animados. É a falta de calor a qual alguns de nós estamos fadados.
Solta e leve. Escorre na mão.
Quase tão triste quanto a chuva de inverno, que deprime a mais bela canção.
Ausência do que foi bom. Toda a sua frieza imposta a mim, quase como um dom.
Floco que cai. Mais uma parte que se vai.
Leva consigo a brisa fria, de um tempo onde de indiferença alguma eu perecia.
Neve. Leve.
Pedaço com sobrenome de tristeza.
Toco o bocado de neve. E nele, a frieza.