THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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terça-feira, 19 de abril de 2016

Quando é tarde demais - Um conto sobre Clarice

Essa é a história de Clarice.

Deixara seus conceitos de lado e abandonara o medo de se reaproximar de seu melhor amigo, com quem já não falava há pouco mais de três meses.
Lembrava-se da última conversa. Das mensagens incompreendidas, dos tons irônicos, das injúrias, dos maus julgamentos e de toda a falta de amor e carinho que parecia existir naquela discussão calorosa, onde qualquer reconciliação parecia distante demais.
Lembrava-se de todas as vezes em que seu amado protetor lhe buscara no curso de pintura. Nas incontáveis vezes em que lhe escreveu cartas, lhe entregou fotos, lhe dividiu a vida e o que de melhor poderia haver nela. Já não era capaz de recordar quantas vezes havia sido feliz ao lado daquele que por amor, parecia lhe compreender tão bem - mesmo que não houvesse qualquer envolvimento físico entre os dois.
Clarice entendera que talvez, pela proporção do sentimento que ainda alimentava, devesse ir até seu tão querido conselheiro. O que ela não compreendia era o tamanho engano que fazia se dando essa opção.
Pablo já não era o mesmo. Não era igual.
As incontáveis semanas vividas em afastamento haviam sido suficientes pra que ele, por vontade, quisesse apagá-la de sua vida e de seu convívio.
Quando puxara um assunto qualquer, Clarice percebera nele uma profunda falta de ânimo em lhe responder. Perguntava-lhe sobre a vida, sobre seu cotidiano, seu novo emprego e sua família; e ele lhe respondera de forma breve e desinteressada.
Finalmente, Clarice decidiu confrontá-lo. Escreveu um longo e-mail expressando o modo como se sentia. E sua surpresa veio em seguida.
Pablo lhe dissera com todas as letras em resposta que ela já não poderia fazer parte de seu mundo, que já não era tão necessária e que lhe carregar parecia um peso desproporcional ao resultado, visto que sempre acabavam brigando e se machucando.
Clarice tentava entender todas as informações expostas ali, enquanto chorava e soluçava de tamanha tristeza. Ele fora incisivo: Não possuía mais amor ou consideração por ela. Pelo menos, não na proporção anterior. E então, Clarice entendeu que era tarde demais.
Algo havia se partido, se quebrado por completo.
A moça perdeu a noção do que havia sido real e do que era meramente fantasioso. Queria acreditar que em algum momento havia sido importante, mas não podia. Era nítida a falta que ela não fazia.

Clarice finalmente entendera o que seu pai um dia lhe havia dito: Tudo na vida tem um prazo.
O prazo de Pablo em sua vida havia se esgotado. E agora ela entendia bem.
Não desejava forçar sua presença. Não desejava ter menos do que poderia. E então, disse adeus.
Rasgou as cartas e o velho poema em espanhol que ele havia lhe escrito em caráter de brincadeira.
Jogara fora a pelúcia que ganhara de seu amigo num parque de diversões.
Se desfizera da foto pendurada em seu mural de memórias.
Excluíra de seu celular todas as músicas que havia aprendido a apreciar por influência dele.
Livrou-se dos pesos e da dor que uma partida tão abrupta lhe causara.

Clarice guardara o melhor de si. Haveria outro bom amigo pra quem entregar.
Ela jamais voltaria a ser quem havia sido ao lado de Pablo - aquele que lhe prometera amizade e amor infinitos, quando pensavam que seriam.
Mesmo que nenhum dos dois fosse, de fato, infinito.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

De volta para Oz'

Como na obra de L. Frank Baum, nos deparamos com ideias similares sobre quem seriamos, de fato. Enquanto eu o escutava, passei a reavaliar cada medo que me cercava até então. Tão fictícios quanto os personagens da história, e tão brevemente reais éramos nós.
- Acho que sou como o Homem de Lata - ele mencionou, perdido nos próprios pensamentos – Eu não tenho sentimentos, não os preservo porque não sei onde estão. Eu não sinto a dor, eu não sinto o amor. Eu não sinto nada. Só o vazio de sempre, que me causa impaciência, porque nem mesmo tristeza por conta disso sou capaz de sentir.
Sentada a frente dele, pensei por mais um instante.
- Se você é o Homem de Lata, talvez eu seja o Leão – Mencionei, olhando fixamente para ele, que ainda se mantinha perdido em devaneios – O Leão é forte, mas não tem o que lhe seria mais útil e preciso... a coragem. Eu tenho medo de tudo, especialmente quando se trata de perder pessoas por circunstâncias que não posso mudar. Eu sou o Leão, o Leão Covarde – Concluí.

E depois de vagos segundos em silêncio, eu finalmente me permiti concluir que para nós, talvez a única solução aceitável fosse voltar para a terra de Oz, de onde nunca deveríamos ter saído.



Dedicado à André Bona Hahn.
Criado em: 2012.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Não quero mais fazer isso hoje

"Não quero mais fazer isso hoje''. Foi exatamente o que pensei pouco depois de estalar os dedos exaustos da mão direita usando a mão esquerda.

Olhei pra tela do computador e nela havia uma infinidade de palavras sobre as tais teorias da comunicação, de onde me vem partindo inspiração há pouco mais de duas semanas.
Li e reli tudo o que eu havia digitado até aquele momento.
Me pareceu algo inteligente de ser escrito, especialmente se tratando de mim - que me considero tão desprovida de certos entendimentos.

Finalmente usei a música como meu último recurso, pois apesar de me sentir inspirada pela matéria, a fadiga tomava conta do meu cérebro e me pregava peças, fazendo com que eu me distraísse com assuntos alheios pouco relevantes.
Abri mais uma de tantas abas já ocupadas do Google e digitei o nome do meu novo vício musical: Pearly Dewdrop's Drops.

A melodia se espalhou pela sala, curando instantaneamente minha exaustão mental.

Entendi, mais uma vez, que eu precisava respeitar os meus limites.
Era isso o que eu vinha aprendendo no último mês. E agora esse tal aprendizado, assim como tantas teorias da comunicação, já não me parecia informação demais.

Não me parecia um peso.