THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Corra, Pedro. Corra!

De braços dados, caminhando pelos corredores com orgulho, como se exibissem uma juventude invejável. Riam e confidenciavam coisas vividas nos últimos meses - aqueles meses distantes vividos de forma tão individual.

- Olha só, uma porta - Disse Pedro ao parar bem em frente a uma porta parcialmente escondida à direita. Porta essa de aspecto completamente diferente do restante do ambiente daquele shopping por onde passeavam.
- O que é isso? Onde vai dar? - Perguntou Julia, enquanto associava a porta a um açougue ou frigorífico, olhando através da janela de acrílico.
- É uma saída secreta. Talvez nos leve para outra dimensão - Disse Pedro, sorrindo - Essa porta na verdade leva à uma saída para o estacionamento - Corrigiu ele.

Julia, parada ali, riu e se lembrou de tantos dos momentos que se esforçou para eternizar nas lembranças. Lembrara de uma cena do filme Wir Kinder vom Bahnhof Zoo onde a protagonista, Christiane F. corria com amigos por corredores largos, fugindo de ser apanhada por policiais. Lembrou-se também da cena de The Dreamers, onde os três protagonistas, inspirados ainda em Bande à Part, decidem correr pelo Museu do Louvre na intenção de bater um recorde.
Abriu uma das portas - e mesmo com receio de ser pega por qualquer um dos seguranças - entrou.
Pedro vinha logo atrás, perplexo e curioso.

- Vem! - Disse Julia, enquanto puxava Pedro e tirava o celular do bolso, deslizando os dedos pela tela do aparelho.
- O que você vai fazer? - Perguntou Pedro, intrigado.
- Vou eternizar mais essa cena - Respondeu Julia, sorrindo, antes de colocar Heroes - de David Bowie - para tocar, no último volume.

- Corre! - Gritou a garota.
E Pedro logo passou a correr junto dela.

Julia olhava para o seu lado esquerdo enquanto corria, e lá estava ele. Os cabelos loiros agora eram mais compridos que o habitual e eram tomados pelo vento da corrida.
Havia qualquer fragilidade presa à Pedro. E ele apenas corria. Fugia de si, para que pudesse entrar no tal universo paralelo criado por quem considerara, até então, sua melhor amiga - ou qualquer coisa próxima a isso.
Ambos corriam sem pressa. Corriam imitando crianças. Corriam para ocultar o medo do futuro. Corriam pelo prazer de apenas deslizar corredor adentro.

Empurraram a porta seguinte e finalmente, estavam do lado de fora.
Pedro parara e Julia, com aquela irritante ingenuidade infantil, continuava a correr.

- Vem, Pedro! Corre! - Gritou ela, olhando para trás. Os cabelos enormes voando e se perdendo entre o próprio rosto.

Pedro respirou, e seguiu correndo.

Finalmente, cansaram-se.

- Acho que você é louca - Disse, sem fôlego, parando junto à garota.
Julia apenas concordou com um sorriso.

E seguiram caminhando...