THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Características infantis de uma Miss Lexotan-zinha.

Aos 9 anos de idade, recebi junto aos meus colegas de turma, a tarefa de desenvolver uma máscara de rosto caseira, com desenho de gato. A intenção era levá-la no dia seguinte à escola e reproduzir uma interpretação com base no texto que havíamos recebido na aula anterior - que contava a história de um casal de gatos.
Alguns meninos e meninas foram escolhidos pela professora para fazer o que se considerava uma espécie de teste. A ideia era escolher os personagens da peça para apresentá-la nas salas das primeiras e segundas séries.
Lembro-me vagamente que as meninas escolhidas liam o texto com ligeira vergonha e frieza. Um trecho em específico de fala das meninas mencionava algo como: "Uma gata se esquenta num gato".
Após quase todas as interpretações, a professora interveio com uma ideia.

- Meninas, vocês estão muito contidas. Vocês deveriam fazer este trecho em especial dizendo ''uma gata se esquenta num gato'' ao lado de um dos meninos.
Ela se moveu para perto de um dos meninos e se encostou parecendo um felino buscando por atenção. Roçou-se de leve no braço dele, bem como se estivesse tentando se esquentar.

Um tanto chocadas e ainda mais tímidas, as meninas ignoraram a sugestão da professora e continuaram a ler o texto sem muita ação.
Quando fui chamada a representar, decidi fazer como na sugestão. Li o texto com um pouco mais de vontade, caminhei até meu colega e rocei inocentemente meu braço no seu, como se fosse mesmo uma felina ansiando por atenção.

Houve, em seguida, uma enxurrada de aplausos vindos de todos os cantos da sala de aula.
Logo após, a professora mencionou o nome de cada uma das meninas para que os alunos levantassem a mão em sinal de votação.
Quando, por último, mencionou o meu nome, quase todos os presentes levantaram as mãos. Eu havia sido escolhida quase que de forma unânime.

Me recordando disso, agora entendo a minha coragem. Entendo perfeitamente algumas das minhas atitudes. Eu nunca fui muito comum - e isso nem sempre era bom. Mas também nunca fui normal - e isso era ótimo.
Eu gostava de desafiar o óbvio, mesmo quando parecia ainda muito nova para compreender que o óbvio, na verdade, era o que a sociedade mais exigia de mim. Gostava de inventar, inovar, e, por que não dizer... chocar?

Hoje eu entendo que pouco importava se o motivo disso era fugir de uma realidade que muito me incomodava.
Era apenas eu, ou grande de mim se desenvolvendo ali, me dizendo que eu sempre esperaria um pouco mais do mundo, como se ele mesmo me devesse algo.

Era apenas uma chance, dentre tantas outras, de ouvir algumas pessoas dizerem: "Essa menina é doida".











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