THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Interrupção

"Quando você não quer sentir nada a morte pode parecer um sonho. Mas ver a morte, vê-la de verdade, mostra como é ridículo sonhar com ela. Talvez haja um momento, quando crescemos, em que perdemos uma casca. Talvez procuramos segredos por não acreditarmos na mente. É difícil controlar o pensamento. Será que um dia fui louca? Talvez. Ou talvez a vida é que seja. Ser louco não é estar quebrado, ou engolir um segredo sombrio. É ser como você ou eu: amplificado; se você já contou uma mentira e gostou, se alguma vez já quis ser criança para sempre." Susanna Kaysen (Garota Interrompida).

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Minutos de uma vida

Foi só um baruho alto que escutei, feito o de uma fruta que acaba que despencar do pé. E lá estava ele. Tão frágil que sequer pude deixá-lo, e fui eu a tomar a iniciativa de cuidá-lo. Algumas pessoas simplesmente diziam: ''você é maluca? não pode alimentá-lo!''. Mas, como eu poderia abandoná-lo? De um momento para o outro, já não fazia sentido largá-lo. Daquele momento em diante, eu seria responsável pelo que lhe acontecesse. E fui. Tentei recuperá-lo até onde pude, e em seguida ele simplesmente já não respirava. O intervalo de tempo foi tão curto, que toda a situação durou apenas alguns minutos. Chorei feito criança, sem sentir qualquer aversão ao fato de segurar em minhas mãos um passarinho que já nem se mexia. Agi apenas pelo impulso de querer salvá-lo e isso pareceu não ter facilitado em nada sob o resultado final. O que importa, o que talvez realmente importa, é que eu não vou deixar de tentar salvar passarinhos de uma morte solitária. Vai ver, ninguém nunca poderá mudar meu instinto de querer ''salvar o resto do mundo com as minhas próprias mãos''.

sábado, 28 de julho de 2012

Memórias

"- Alô? Alô, Rubem... Ligaram da escola da Julia, ela não ta se sentindo bem. Pediram pra você ir buscá-la.
- Tudo bem. Pode deixar que eu já vou pra lá.
- Você demora pra sair do escritório?
- Não, vou agora mesmo. Depois eu volto e resolvo o restante das coisas."

 Eu enxergava claramente pelo vidro da janela, enquanto ele estacionava o carro e seguia em direção à secretaria da escola. Batia no vidro, pedindo que alguém o deixasse entrar e finalmente me apanhava, e me salvava do que quer que eu estivesse sentido. As dores e mal-estares começaram logo na minha primeira infância. Como a criança frágil que eu era, sequer conseguia conter uma dor de estômago sem que pra isso precisasse tomar algum medicamento, ou passar o dia em repouso. Tendo consciência de algumas circunstâncias em casa, sabia que seria bem cuidada na casa dos meus avós de criação; a única família de avós, tios e padrinhos que conheci de fato, e cujas quais aprendi valores morais que me cercariam pelo resto da vida. É uma das lembranças mais bonitas que tenho, e sei que se pudesse checar os cadernos de saída emergencial da escola onde estudei, as assinaturas dele estariam todas lá. E ele o fazia, sem sequer reclamar, ou exitar. Não me lembro de uma só vez em que tenha me negado algo que eu pedisse. Sequer levantava a voz pra mim, mesmo no estágio mais teimoso da minha infância, não era o suficiente pra fazê-lo perder as estribeiras comigo. Tinha o hábito de comprar junto ao pão diário, chocolates com desenhos em alto relevo, que ele costumava chamar de "surpresa" pra depois do jantar. Possuía manias divertidas, típicas de um senhor de idade que as preservava desde muito tempo. Molhava a banana nas lasquinhas que sobrava de pão na mesa, e cantarolava alto suas músicas preferidas, sem temer se os outros vizinhos lhe ouviriam. E assim eram todos os dias. Todas as manhãs, tardes e noites. E mesmo após um ano, ainda sinto que o verei adentrar pela porta de madeira da sala, dizendo sorrindo: "Oi, gentêm!". Ele faz falta, ainda faz falta.

domingo, 10 de junho de 2012

"O velho e a moça"

‘’Tudo sempre tem uma razão de acontecer. Se você está em um lugar, é porque o universo conspirou por alguma razão para que você estivesse exatamente ali. E, pra isso existe um propósito.’’

Foi assim que Pedro começou nossa conversa naquela tarde, quando lhe telefonei.
Havia alguns dias que não nos falávamos, e decidi que seria mais apropriado ligar para saber sobre os últimos acontecimentos de sua vida.
Falamos por exatos 11 minutos e 56 segundos. Tempo esse que foi mais que suficiente para nossas demonstrações de afeto, cuidado, e obviamente, para acabar com os bônus diários do celular de uma garota que mesmo trabalhando muito, ainda se encontra abaixo do nível da classe média.
Na manhã daquele mesmo dia, eu já havia ligado para Eduardo, e combinamos que ele me levaria até a aula da noite, do meu curso para 1ª habilitação. Mesmo assim, eu sabia que minha vontade em falar com ele antes de dormir seria maior, e que por conta dos bônus escassos, isso não seria possível a menos que eu recarregasse meu celular novamente.
Segui até o supermercado do bairro.
Entrei na menor fila de caixa que encontrei. Na minha direção, vinha um senhor, com uma certa dificuldade em segurar os itens que pretendia comprar. Tinha a pele bastante enrugada, com algumas pintas escuras no rosto que estava coberto por uma barba inteiramente grisalha e ondulada. A roupa simples e amarrotada, e a boina marrom davam a ele um ar distinto.
Pedi que ele passasse na minha frente, mesmo sabendo que meu horário de almoço acabaria dali 6 minutos. Ele não aceitou de início. Pareceu não querer me incomodar, mas insisti que ele o fizesse, e sorrindo, ele finalmente se posicionou na minha frente.

- Vai só recarregar seu celular? – Ele me perguntou, tentando ser gentil.
- Sim, só isso mesmo – Eu respondi sorrindo, usando de um pouco mais de educação.
Ele pareceu lisonjeado com minha atitude e então me elogiou.

- Você tem um sorriso bonito.
- Ah, obrigada... – Eu agradeci, um tanto tímida e sem graça.
- Realmente, um sorriso muito bonito – Ele insistiu – Qual é o seu nome, mocinha?
- Julia – Respondi claramente.
- ‘’Julia’’ – Ele repetiu – É um lindo nome.

Agradeci mais uma vez.

- Julia, seu sorriso é bonito, tão bonito que vou lhe dar um presente – Ele mencionou, enquanto colocava suas compras em cima do balcão do caixa.
- Ah, magina... – Tentei negar, para que ele não se sentisse obrigado a retribuir minha gentileza em deixá-lo passar na frente. Imaginei que talvez por isso ele quisesse fazer algo ali por mim.
- Sabe, eu vou lhe dar um presente. A felicidade – Ele continuou – Vou lhe dar a felicidade e o valor de um sorriso.

Fiquei confusa sobre o que ele estaria falando, até que ele retirou de sua bolsa de couro surrado, um envelope. Estendeu uma das mãos e me entregou.
- Pode abrir agora, se quiser – Ele sorriu.

Comecei a abrir o envelope com cautela para não rasgá-lo em suas extremidades. Dentro dele havia dois papéis no tamanho de uma folha de sulfite, dizeres em um papel cartão amarelo, e um mini-cartão envolvido por um plástico, onde continha uma oração da ONU.

- Aí, você vai descobrir o valor do sorriso – Ele começou a me explicar.

‘’O valor de um sorriso’’, era o título do texto que havia no papel cartão amarelo. Comecei a ler, e conseqüentemente a sorrir. Ele notou um certo entusiasmo vindo de mim, e me perguntou:

- Qual é o nome do seu amado?
- Eduardo – Respondi, deixando de olhar para o papel com o texto e passando a olhar novamente para o senhor à minha frente.
- Também é um nome bonito – Ele acrescentou, enquanto procurava pelas notas de dinheiro em sua carteira – Diga para ele ler ‘’A felicidade’’.
‘’A felicidade’’ era um dos papéis sulfite que estavam dentro do envelope. Era um texto, que ali, pelo momento, não tive tempo de ler.
O outro papel continha um texto cujo título era ‘’Retrato de mãe’’.

Ele fez o pagamento de suas compras, olhou para as duas barras de chocolate que havia comprado, e se permitiu uma piada antes de ir embora de vez:
- Sabe por que eu compro chocolate amargo? – Perguntou em tom de charada.
Eu e a atendente nos olhamos, sorrimos e respondemos que não sabíamos o por quê.
- Porque a vida é doce – Ele riu.

Foi nesse momento em que senti uma absoluta vontade de deixar escorrer as lágrimas que surgiram nos meus olhos. Fui firme, e apenas me despedi. Mas, não poderia deixá-lo ir sem nem ao menos saber seu nome.
- Desculpe... mas como o senhor se chama?
- Valdomiro – Ele respondeu, recolhendo as compras do caixa e sorrindo pra mim um ultimo momento.

Ao sair do Supermercado, notei que aquele senhor manuseava um carro velho e simples, que eu não pude distinguir a marca.

Ele era feliz, e isso era o que bastava.
Não se queixava por conta da idade avançada, e nem ao menos por sua situação financeira aparente. Era um homem simples, e seu carro era tão simples quanto.
A bolsa que levava com o envelope que me deu, provavelmente carregava uma expectativa. A expectativa de que todos pensassem como ele por um momento, e se sentissem completos por isso.

E não posso esquecer de voltar ao ponto inicial, ‘’tudo sempre tem uma razão de acontecer’’. A frase dita por Pedro alguns minutos antes naquele mesmo dia fez todo o sentido. Afinal, se eu não tivesse ligado para Pedro e passado 11min e 56 seg numa conversa com ele, meus bônus jamais acabariam. Se meus bônus não tivessem acabo naquele horário, e eu ignorasse meu desejo em falar com o Eduardo futuramente, não teria sentido a necessidade de recarregar meu celular, e a conversa com o senhor Valdomiro jamais teria acontecido. Se eu não o tivesse encontrado, provavelmente não sentiria a absoluta vontade em tornar minha vida mais ‘’doce’’.


Os dois textos que qualquer um deveria ler:

‘’A Felicidade’’:

‘’Olá, Meu nome é Felicidade, faço parte da vida daqueles que tem amigos, pois ter amigos é ser feliz. Faço parte da vida daqueles que vivem cercados por pessoas como você, pois viver é ser feliz demais. Faço parte da vida daqueles que acreditam que ontem é passado, amanhã é futuro e hoje uma dádiva, por isso é chamado de Presente. Faço parte da vida daqueles que acreditam na força do amor, que acreditam que para uma história bonita não há ponto final. Eu sou casada sabiam? Sou casada com o Tempo. Ah, Meu marido é lindo demais! Ele é responsável pela resolução de todos os problemas, e ainda constrói corações, de cura machucados, ele vence a tristeza. Juntos, eu e o Tempo, tivemos três filhos: a Amizade, a Sabedoria e o Amor.
A Amizade é a filha mais velha, uma menina linda, sincera, alegre. A Amizade brilha como o sol, a Amizade une pessoas, pretende nunca ferir e sempre consolar. A do meio é a Sabedoria, culta, integra, sempre foi a mais apegada ao pai. A Sabedoria e o Tempo andam sempre juntos. O caçula é o Amor. Ah! Como esse me dá trabalho! É teimoso e às vezes só quer morar em um lugar. Eu vivo dizendo: Amor, você foi feito para morar em muitos corações e não apenas em um. O Amor é complexo mais é lindo, muito lindo! Quando ele começa a fazer estragos eu chamo logo o pai dele, o Tempo, então o Tempo sai fechando todas as feridas que o Amor abriu. Uma pessoa me ensinou o seguinte: tudo na vida sempre dá certo, se ainda não deu é porque não chegou o final. Por isso acredite na minha família. Acredite, no Tempo, na Amizade, na Sabedoria e principalmente no Amor.’’


‘’Valor de um sorriso’’

‘’Não custa nada e rende muito. Enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o dá. Dura somente um instante, mas seus efeitos perduram para sempre. Ninguém é tão rico que dele não precise. Ninguém é tão pobre que não possa dar.
Leva a felicidade a todos e a toda parte. É símbolo da amizade, da boa vontade, é alento para os desanimados, repouso para os cansados, raio de sol para os tristes, ressurreição para os desesperados. Não se compra nem se empresta. Não há ninguém que precise tanto dele, como aquele que não sabe sorrir.
Quando você nasceu, todos sorriam e só você chorava; viva de tal maneira que, quando você morrer todos chorem e somente você sorria.’’

segunda-feira, 26 de março de 2012

40 minutos

Olhei-o de bem perto. E milhares de coisas vieram ao meu pensamento.
"Ele fica mais bonito a cada semana que passa", pensei. E depois sorri, feito uma boba.
Ele me notou por um momento, e me perguntou o por quê daquele sorriso, como se o estivesse fitando pela primeira vez, ainda fascinada. Respondi apenas que não sabia, e ele também sorriu.
Encostou uma das mãos sob o volante, e em seguida me pediu para deitar em seu colo, enquanto mantinha o carro estacionado.
Me recostei sobre o peito dele, e subi os pés descalços para o banco do carona.
Ele me contou sobre os tão complexos exercícios que acabara de completar, para um trabalho que deveria ser entregue na semana seguinte. Falou orgulhoso sobre como seus atuais projetos de faculdade estavam se saindo, e de quantos ele ainda teria de entregar até que o semestre terminasse.
Ligou o rádio e procurou uma boa estação.
Falamos sobre nossas tantas banalidades, e o deixei a par de assuntos alheios pouco relevantes. Me perguntou sobre meu dia, e insistiu em tentar me fazer cócegas.

Me inclinei, e comecei a enchê-lo de beijos. Beijava-lhe os lábios, as bochechas, o queixo, o nariz, os olhos, a testa. Ele apenas ria, me chamando de maluca.

E ao me despedir, cheia daquela saudade não totalmente suprida, sorri mais uma vez como a boba que pareço ser, como se tivesse passado dentro daquele carro, muito mais que breves 40 minutos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sob um céu de blues

- Você sempre vai me proteger?
- O que é que te fizeram?
- Como você sabe que tem algo errado?
- Te conheço.

Ele sorriu pra mim. Como se todo o ocorrido já não bastasse. Como se todo o passado não importasse. Me abraçou forte, como se fosse o primeiro de muitos, ou o último de tão poucos. E nós nos sentamos.
Ele quis me contar cada detalhe da sua imprevisível vida nos últimos meses.
Foi me conduzindo a assuntos que antes nos feriam, que antes doíam.
Nos flagramos sonhando com o futuro, futuro este que não me pareceu tão distante. Ele se permitiu mencionar e enfatizar mais uma vez a questão que fazia de ter meu ponto de vista como referência.
E foi assim.
Caminhamos e sorrimos.

E é como sempre me sinto, crente de um destino que ainda vai se concretizar, justamente por saber que preciso de um ‘Hey Jude’ que venha de seu violão, e aquela bela mania que tem de me mostrar o lado bom de tudo, como se esse tudo fosse breve demais para durar por toda a eternidade.
Seu entusiasmo me comove, e sempre cativa. Se assemelha ao longe com um de nossos ídolos, de tempos, já tão distinto.
Tão jovem e sábio. Tão ingênuo e inconsequente.

E ele acena pra mim. Se despede num leve abraço, e promete, que no próximo mês ele vai voltar...