THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

THERE'S NOTHING YOU CAN MAKE THAT CAN'T BE MADE.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Constante

Eu sempre soube, mesmo quando fingi não saber, mesmo quando tudo o que eu mais queria era depender apenas de mim. De mim e das minhas próprias vontades. Vontades essas providas da minha ilusória liberdade.
Passei semanas presa nas lamentações de me sentir tão só, imaginando que por mais que eu me esforçasse, sempre aprisionaria em mim aquele amor bom e desesperado que escondo dele, pra que não se sinta tão sufocado com as minhas atitudes ou simplesmente com a minha presença.
Mas é curiosa a maneira como o vejo, e o jeito como consigo reprojetar todos os meus planos em questão de segundos. Basta olhar pra ele.
Realmente, olhar diretamente nos olhos dele é como encontrar a razão viável pra amanhecer sorrindo, por mais ridiculamente poético que isso possa parecer.
Disfarço. Me distraio com as demais pessoas na rua, ou com os outdoors da avenida. Me flagro até mesmo fitando o céu, tentando descobrir se vai chover. Tudo pra não deixar que ele perceba o quão meus olhos ainda brilham.

Então, por mais de uma vez segui-se assim:
Lavo os dois pratos que usamos na última meia-hora, seco a pia e ele sorri pra mim. Faz uma piadinha infame às minhas custas e reclama das vezes em que eu ajo como "mãe", mesmo que no fundo se sinta extremamente orgulhoso por isso.
Passa por mim em seguida, quase sem me notar, e eu exijo um beijo pelo esforço de manter tudo em ordem.
Ele me puxa inesperadamente pela cintura, me segura com força e se inclina comigo, me beijando como se fosse o galã de um típico filme antigo.
Não suportando a cena, paro de beijá-lo e começo a rir nos braços dele. Ao me soltar, ele sobe as escadas correndo, pra que eu vá atrás dele.

E ali estamos nós, outra vez...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ciclo vicioso

Algumas injúrias, uma discussão sem fundamento e sem propósito exato, e o silêncio, que dura pouco mais de meio minuto.
E vem sendo assim desde o momento em que o conheci. Agimos dessa maneira desde que eu me dispus a ser a ‘’amiga da faculdade’’, ou ‘’ a garota do amigo da faculdade’’. Embora, é claro, existissem antes algumas outras definições pejorativas, que não me cabe citar no momento.
Desconfio de que ele sempre me viu exatamente assim. Sempre enfatizou meus defeitos e meus pontos fracos, sempre espreitou nossa relação de amizade, só para se defender do encanto que mantinha por mim, na época em que eu preferia não ser tão paciente ou tão consequente quanto agora.
Costuma tentar se convencer de que o meu passado já não faz diferença, mas ele mente pra si mesmo cada vez que tenta se aproximar de mim. Julga ter um sentimento que eu não retribuo, um carinho que eu não supro.
E tudo o que me resta é lamentar por isso.
Me critica e me condenar por uma reação que não tenho, ou pela coragem que me faltou outrora. E finge que nunca descobriu todos os meus segredos.
Mal sei dizer se ele procurou meu sorriso por aí, em qualquer canto, ou qualquer esquina. Tudo o que me lembro agora é da vez em que chorei, naquela ânsia reprimida de saber a verdade sobre quem me cercava, e partido disso, o modo frígido com o qual ele me ouviu, e se desculpou. O odiei naquele exato momento, e desejei que nunca mais surgisse na minha frente outra vez. Dados alguns minutos, me lembro claramente, só pude sentir a ardência dos olhos, concedida por conta de alguns instantes de choro, e daquela estúpida falta de ar.
Ele nunca mais veio até mim, e esperou que eu o fizesse.
Por me conhecer tão bem, sabia sobre minha maneira ridiculamente previsível de ser.
Imagino que talvez ele tenha insistido em algo que eu mesma também quis acreditar, e por essa razão, ou por qualquer outra, passou a me definir algumas vezes como um curioso "Raio de Sol". Eu me sentia livre o suficiente pra me expressar de que maneira fosse, sem que ele me detestasse por isso.

E lá estava eu, relembrando os poucos fragmentos do que eu costumava chamar de "pseudo-amizade".
O mundo gira, e por contraditoriedade, nada muda. Nada nunca muda.
Exceto talvez esse amor breve dele por mim. Amor esse que nunca passa, e nunca acaba, ou já se acabou a mais tempo do que o previsto.
E dessas mesmas injúrias que guardam o carinho que sempre escondi, e que não sei mais expressar.
Desisto, e peço apenas pra que ele se cuide, perto ou especialmente, longe de mim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Peculiaridades em comum

Eu não esperava por uma noite tão quente. Mas, veja só como é o tempo. A meteorologia insistiu que a temperatura não passaria dos 25ºC, mas eu poderia garantir que naquela noite fazia pouco mais que 30ºC.
Segui rumo ao prédio, onde subindo dois lances de escadas acharia a minha sala. Infelizmente criei uma absoluta impaciência por aulas pouco produtivas, não conseguindo sequer fingir interesse pela meia dúzia de palavras que o graduado professor insistia em citar.
Contei os minutos no relógio do celular, abrindo-o de segundos em segundos só pra ter certeza de que não seria deselegante interromper a aula pra sair da sala antes do horário devido.
Encontrei-o a poucos metros do prédio ao lado oposto. Sabia que ele estaria ali se a moto também estivesse. Ele me sorriu e me cumprimentou como se não me visse há tempos. Perguntou sobre a minha ausência da última semana, e pra ele eu realmente poderia ser sincera e dizer: ‘’Estava cansada, não tenho tido vontade de vir estudar’’. Ele deu risada e concordou comigo.
Iniciamos nossa conversa diária, falando sobre poucas banalidades, até eu notar que as feições dele haviam mudado. De certo, ele queria me contar algo que tinha quase certeza que poderia ser da minha total desaprovação.
Começou a falar devagar, e um tanto discretamente, mas eu logo o interrompi com um nome. Eu tinha o péssimo habito de saber deduzir quase tudo o que ele me diria, e isso já não o espantava. Chegava a ser até um tanto divertido.
Passamos a conversar mais seriamente sobre o assunto, e conselhá-lo fez com que eu me sentisse mais útil.
Ele sugeriu que fossemos até o bar ali próximo e tomássemos uma cerveja. Eu normalmente negaria, ou inventaria qualquer desculpa meramente viável, mas a noite estava realmente quente e propícia; e de qualquer maneira eu não gostaria de interromper nossa conversa tão promissora.
O bar estava absurdamente cheio. Pensei que se talvez somasse todas as pessoas nos prédios da faculdade, não chegaria à soma das pessoas na fila para compra de cerveja, e das outras tantas sentadas nas mesas dali.
Ele falava sobre o passado, sobre ela, e achei lindo o modo como a descrevia, como a mencionava. Até cheguei a dizer que não imaginava que ninguém um dia falasse de mim daquele jeito, como ele falava dela. E foi então que citei: ‘’Tenho medo de ser a coadjuvante da minha história, ao invés de ser a protagonista’’. Ele deu de ombros e mal me ouviu, e então passamos a analisar as pessoas em frente a nós na fila.
Compramos uma garrafa grande e saímos rapidamente de lá. Ele notou quando um rapaz me fitou sem disfarçar, e debochou. Caminhamos até o lado do prédio que sempre costumávamos ficar. Logo que sentou no chão, acendeu seu cigarro e começou a filosofar.
Conversávamos sobre tudo o que seria viável conversar. Em alguns momentos, ele me dava breves e claras injeções de realidade.
Ele ousou até mesmo arriscar um palpite sobre mim: ‘’Te sinto meio triste de uns tempos pra cá. Sei lá, posso estar errado, mas mesmo quando você fala sobre algo alegre tem esse tom e esses olhos de melancolia’’.
Com alguns goles a mais na cerveja, aos poucos fui descarregando todo o peso que eu sentia sobre determinadas circunstâncias. Ele ouvia com atenção e continuava me aconselhando também.
‘’Já sentiu que você não é totalmente você por alguma razão?’’ foi uma pergunta retórica que ele acabou dirigindo a mim, e eu concordei. Mas também tentei justificar.
Ele concordava e discordava de mim em diferentes aspectos. Disse também, que além da garota de quem falava até então, eu era a única a quem ele não sabia persuadir.
Passei a expressar também meus sentimentos sobre o garoto com quem continuei envolvida mais tarde.
O calor permanecia, e com a nossa conversa produtiva eu fui perdendo qualquer noção de tempo. A rua passou a ser totalmente deserta.
Deitei no chão, apoiei as pernas na parede ao lado, e por um momento me senti livre de qualquer responsabilidade. Olhei pro céu, e apesar do clima quente e confortável, só vi uma estrela brilhando aquela noite.
Me vendo daquele jeito, ele se sentiu confortável o suficiente pra deitar na minha barriga, e passar assim a fitar o céu juntamente comigo. Colocou músicas do próprio celular pra tocar; músicas de nosso gosto em comum, e passamos a falar sobre séries de tv com ótimas trilhas sonoras e sobre bandas que eram nossas inspirações no passado.
Percebi que já era tarde, e tive que me despedir. Ele insistiu pra que fizemos aquilo outra vez, prometi que o faríamos; e fomos pra lados opostos.
Voltei pra casa ao som de Automatic Stop - do Strokes - aquela noite, tentando entender em que momento exatamente eu poderia prever que ele, o garoto inconsequente dos olhos de diamante, se tornaria meu leal confidente (ou algo que o valha).

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Singelo

- Você não acha que fomos muito rápidos? – Eu segurava sua mão direita enquanto subiamos o morro de pedras que nos levaria até a próxima praia.
- Rápido, no que? – Ele parou para olhar pra trás.
- Em namorar... começamos muito cedo, não acha? – Tive medo que ele concordasse, e continuei olhando pro chão, pra não tropeçar nas pedras.
- Eu não pensava nisso quando tudo aconteceu, mas foi bom começarmos... – Ele segurou firme minha mão e continuava a subir pelas pedras.
- Você não se arrepende? – Eu fiquei séria.
Ele parou de seguir, virou-se pra trás, pegou meu rosto com uma das mãos e sorriu:
- Não, porque é quando fico assim com você que sei que fiz o certo – Ele encostou o nariz no meu, e continuou sorrindo.

Ele tem uma mania singela, só dele, de me surpreender com esse tipo de atitude.

sábado, 20 de agosto de 2011

O desfecho

Estava crente de que tudo ocorreria bem, mas uma precipitação desagradável me forçava a imaginar como seria rever pessoas com as quais já não mantinha contato algum.
Passamos alguns minutos com piadinhas infames, conversas banais e de vez em outra apreciávamos o gosto de qualquer bebida.
Ao olhar em direção à porta, me deparei com rostos familiares, e parte de mim se apavorou. Em questão de instantes senti a ligeira vontade de sair correndo, como quem foge do próprio medo.
Pedro, ao me fitar e notar que meu semblante mudara, segurou minha mão o mais firme que pôde. Me olhou calmamente e ao me analisar citou: ‘’- Eu estou com você, seja forte. Você já superou isso, e o pior já passou. Acalme-se, estou aqui’’. Enfatizou essas palavras enquanto me beijava a testa.
Centenas de pensamentos me cercavam, e o meu desespero se transformou em apatia.
Qualquer um, pelo pouco que me conhecesse, diria que meus sentimentos poderiam estar invictos por um certo rapaz. Mas, eu sabia, que pior do que a maneira cruel e insensata que usamos para nos afastarmos, foi ter que lidar com a traição de alguém que considerei meu melhor amigo; alguém com quem jamais me envolvi por mais de uma noite.
Todos os músicos e seus colegas passaram e nos cumprimentaram, e senti como se parte deles não usasse mais que hipocrisia para fazê-lo.
Ao nos afastarmos, me dirigi para perto dos nossos companheiros de banda, entre eles, Gustavo, que notou minha euforia e me perguntou curioso: ‘’- Você está bem?’’ Respondi que sim, olhei para o nada e sorri, aliviada.
Assisti a pequena apresentação com o peito pulsando por todo o tempo, o orgulho que sentia de Pedro estava estampado no meu rosto.
Ele cantava e tocava seu baixo excitantemente. Me olhava de perto ao palco e apontava em direção a mim. Os olhos de Pedro brilhavam e reluziam com a iluminação forte e colorida.
Gustavo e nossos demais colegas se juntaram a nós até o ato da última canção. Pude reparar que até mesmo quem não os conhecia havia apreciado o bom som.

Antes que a segunda banda subisse ao palco, comecei a procurar maneiras para ir embora, visto que era mais que um direito meu não querer assisti-los.
Pedi a um colega que me levasse a rodoviária, até mesmo porque horas e horas já haviam se passado, e eu precisava estar segura em casa o quanto antes.
Permaneci de costas ao palco, enquanto me despedia de todos que conhecia. Senti o leve peso nas costas, de alguém que me fitava.
Seguimos para o carro, em direção a rodoviária.
O músico que me levava, sabendo de grande parte do que já havia ocorrido no meu passado, perguntou: ‘’- Como foi? Gostou?’’ Exclamei que sim. Então ele insistiu: ‘’- Está bem?’’ Eu respondi serena: ‘’- Melhor que isso, passei no meu teste psicológico. Acredito que Pedro me tornou imune a qualquer coisa que possa me fazer mal nesse sentido’’.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A melodia

As canções compostas por Pedro e os demais garotos faziam com que eu relembrasse minha verdadeira raiz. A garota que agora era altamente correta mantinha veias musicais, e não haveria como negar esse fato tão claro estando ali, na presença de som e melodias dignas dos mais amplos aplausos.
Seguiam-se risos aos intervalos de cada canção, e Pedro se mostrava preocupado em saber qual seria minha analise sobre cada uma delas. Me perguntava carinhosamente o que eu achara a respeito, e sem poder mentir eu respondia convicta que tinha certeza de que aquele era realmente o caminho.

A tarde se seguiu rapidamente após o ensaio. Acompanhei Pedro e seu mais novo guitarrista para um local onde pudéssemos comer e procurar cordas musicais visto uma das que havia na guitarra do rapaz distinto, se arrebentara.
Durante esse período, trouxe à tona lembranças de tempos remotos em que Pedro e eu não éramos tão próximos como naquele momento. Conversava com Felipe, seu colega, e notei que o jeito ligeiramente sério e manso se tornara calmamente divertido. Passei a me sentir extremamente à vontade com a presença do rapaz.
Logo após, nos encontramos com mais alguns colaboradores de banda, entre eles um garoto o qual eu tinha grande curiosidade em conhecer, Gustavo.
Seguimos até o local da pequena apresentação e aguardamos até que o espaço estivesse aberto para a entrada.
Em questão de minutos, a tarde clara se escureceu e meu coração palpitava desesperadamente, nos segundos que se sucederam à minha entrada no chamado: Central Rock Bar.

O instante

Eu sabia que aquele momento chegaria, e ao mesmo tempo em que tentava evitá-lo, havia em mim a certeza de que existia algo que eu devia provar ao meu ego.
Cheguei ao local marcado com dez minutos de antecedência.
A espera por meu amigo se tornou altamente torturante. Pensava em milhões de desculpas para não estar ali, visava o momento exato onde seria obrigada a me deparar com o tamanho esforço de olhar nos olhos de quem me quis tão mal um dia, mesmo que esse alguém não fosse de fato ele.
Estar ali, esperando por meu amigo, Pedro, era como visar o futuro buscando pelo passado, pois eu ainda me recordava da fase em que esperava no mesmo local por outra pessoa. Me sentia regredir.

Enfim nos encontramos e seguimos ao encontro dos demais garotos da banda.
Pedro me apresentou seu mais novo parceiro musical. Um rapaz distinto, com cabelos encaracolados e um tanto despenteados; vestia um terno azul marinho por cima da camiseta com emblema de uma banda, The Who. Usava calças escuras e allstar vermelho.
Havia um ar misterioso no garoto, que me fez pensar que talvez ele não gostasse da minha presença.
Ao longo da tarde os demais integrantes da banda chegavam.
Como fã fervorosa que sou, assisti ao ensaio como quem avalia aos próprios ídolos. Ao som da batida da primeira música, senti meu peito pulsar e notei que minhas expectativas finalmente haviam sido superadas. Fitava Pedro constantemente, e este, não se cansara de cantar nem por um segundo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Reconciliação

Não era nem um pouco aceitável para mim que desistíssemos de tudo ali, visto que não tínhamos vivido nem metade do que eu havia planejado para nós.
E foi quando, por mais de uma vez, meu telefone tocou. Era ele, insistindo para que nos víssemos.

Ali estava eu, paciente e sã, transparecendo uma imagem muito firme e decidida, quando na verdade gritava ao meu subconsciente por outra chance.

- Não tenho certeza sobre arriscar outra vez – Eu disse, com medo que ele concordasse comigo ao invés de simplesmente ignorar nossa última briga.
- Por que? – Perguntou ele, confuso sobre o que deveria dizer.
- Você sabe...Temo que possamos nos decepcionar um com o outro – Eu respondi, sem coragem de olhar nos olhos dele.
- É um medo que eu também tenho, mas gosto de você. Gosto de estar ao seu lado – Disse ele, buscando meu contato visual.
- Você me fez crer que tudo o que houve antes não passou de uma precipitação da sua parte, que de fato não sente o mesmo que sinto por você – Eu retruquei, tentando achar um argumento convincente para mim mesma – Me lembro das inúmeras vezes em que você me ‘provou’ o quão gostava de mim e, ouvir algo diferente após isso me assusta.
- Não era à toa. Eu nunca menti sobre o que estava sentindo; eram momentos em que a intensidade era maior e eu dizia para que você soubesse – Ele justificou, passando a mão direita pelas pontas do meu cabelo.
- Eu sei, mas fiquei confusa sobre o que realmente esperar de você – Eu disse, tentando levemente me esquivar enquanto ele se virara para segurar meu rosto, me forçando a fitá-lo.
- Então por que seus olhos estão brilhando? – Perguntou ele, sorrindo ingenuamente.
- Não estão, não – Retruquei, desviando o olhar para que meu olhar não entregasse ainda mais meu sentimento ao vê-lo ali.

Senti cada centímetro do meu corpo me impulsionar a ele, como se fossemos imã um do outro.

Aquele beijo foi como o primeiro, de muitos que demos há meses atrás.

Impasse

Eu via e insistia, mas cada parte de mim se esforçava a me dizer que havíamos de fato chegado ao ponto crítico. Agora, já não era apenas a falta de tempo que nos impedia, era justamente o oposto a isso; o ócio em notar que já não lidávamos tão bem com a presença um do outro.
Eu, que já havia sido tão mais expressiva e criativa, já não conseguia pensar em algo que pudesse me inspirar. Ele, que sempre tão preocupado, me deixara notar inconscientemente que sua paciência chegara ao limite.
Não era preciso que terceiros me informassem sobre o que estava ocorrendo, afinal, eu mesma sabia explicar.
Nosso tempo juntos se tornou farto, exaustivo. E mesmo quando eu relutava para manter o encanto por ele, sabia que nada mais restaria se ele mesmo não soubesse me ajudar a fazê-lo.
E como proceder? Como dizer a ele que seu péssimo humor passara a afetar minha concepção em relação ao nosso próprio futuro? Como seria eu capaz de fazê-lo enxergar o óbvio que existia além dele, e de nós?
Como eu poderia ser tão egoísta em me sentir amarga por um sentimento no qual depositei tanta esperança?

Não havia o que pudesse ser feito, fora talvez o fato de apenas esperar e hesitar novamente, até que ele mesmo se desse conta de que meus olhos não brilhariam mais com a mesma intensidade do momento em que iniciamos.

E foi nesse primeiro impasse, que tomei a coragem pra desistir de nós dois...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Parte de uma história real

Sentaram-se ao lado um do outro, na escura sala de cinema.
Falavam banalidades, que logo foram ofuscadas pelo olhar confuso que ambos transmitiam.

- Eu vi. Vi nas cartas. Você tem em si um talento que vai impulsioná-lo, e você vai conseguir - Disse ela, calmamente.
- Por favor, não fale disso. Eu não tenho nada, não sou nada - Disse ele, virando o rosto para baixo, como quem se sente vergonhado.
- Hey, não! Me escuta, você tem um destino maravilhoso pela frente. Eu acredito nisso! Eu acredito em você! - Disse ela, alterando a voz em tom alto; colocando as mãos sobre o rosto dele, que deixara escorrer uma lágrima.
- Não sei se posso. Não sei se consigo - Respondeu ele, com os olhos claros molhados.
- Você pode e vai! Confio nisso! Não se esqueça que estou aqui agora, e estarei na primeira fileira dos seus espetáculos - Disse ela com total convicção.


Eu me lembro exatamente do que você disse, como disse, e a sua respiração ao dizer.
Você vai chegar lá. Nós vamos chegar lá!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um lugar nosso...

Seguimos pela longa estrada, que refletia em seu horizonte o sol poente.
Mesmo com a responsabilidade em manter firme a direção do volante, ele em poucos momentos deixara de me dar a mão.
Ao chegarmos, nos deparamos com um céu azul-marinho repleto de estrelas, que nos pareciam estar mais próximas do que nunca. O centro da cidade por onde passamos era animado, enfeitado por intermináveis lojas e o cheiro de maresia, sentido há quilômetros de distância.

Ele passara pelas ruas me mostrando cada detalhe que lhe parecesse familiar. Apontava determinados lugares e eu me mantinha apenas sorridente, como era de se esperar, visto que estava em um lugar ao qual jamais havia visitado.
Rodamos por pequenas estradas próximas a praia e finalmente paramos em nosso destino. Uma casa bela e acolhedora, com pessoas que nos receberam empolgadas.
Passamos vagos minutos em conversas tranqüilas, e a noite se estendeu até que estivéssemos sozinhos na rede, cuja qual nos serviu para que pudéssemos nos sentir mais próximos fisicamente, e assim expressar todo e qualquer carinho.
O cansaço era tanto que mal conseguimos manter os olhos abertos para assistir a um filme. Despertado de seu cochilo, ele me chamou calmamente com simples sussurros para que fossemos nos deitar em nosso quarto.
Passamos um longo tempo deitados na mesma cama. Ele se virara em direção às minhas costas, me abrando firme em uma espécie de concha. Assim permanecemos, até que eu decidisse ir para minha cama, que ficava ao lado, para que não fosse desrespeitoso com seus pais, que tanto nos pareciam prezar.

A satisfação por acordar sabendo que o tinha ao meu lado era tamanha que mal tive tempo para pensar se estava realmente acordada, ou ainda sonhando.
Me dirigi até ele, que logo me deu espaço para que eu me deitasse ao seu lado. E nesse momento, foi a minha vez de abraçar suas costas firmemente e lhe transmitir a mesma segurança que ele me passara na noite anterior.
Logo após levantarmos e tomarmos nosso café-da-manhã decidimos ir até a praia.
O sol escaldante nos sufocava em meio ao enorme calor que se formava na região. Ele caminhava junto a mim sob a água clara e morna do mar, segurando-me pela mão direita.
Passamos parte de nossa manhã subindo por imensas pedras que encontramos na divisa de uma praia para a outra. Ele seguia na frente, mas sempre com muito cuidado, me dando assistência para que eu não me desequilibrasse ou escorregasse e caísse.
Em alguns momentos, deixávamos de simplesmente escalar as enormes pedras da praia para apreciar a paisagem linda que se fazia por ali. Uma paisagem a qual eu jamais havia visto igual.
Após tomarmos um refrescante banho de mar, voltamos a caminhar em direção à casa onde os pais dele nos aguardavam para fazer a próxima refeição. Entramos na piscina, e logo notamos a tarde chegar, deixando a água ligeiramente gelada. Dividíamos o mesmo colchão flutuante, e eu sorria incansavelmente, ao mesmo tempo em que o notava e fitava o quão lindo ficara seu semblante enquanto mantinha os cabelos escuros molhados.
O achara bonito em todos os sentidos, e até mesmo quando ele insistia em não aparecer em fotos por conta de uma baixa auto-estima.
Não poderíamos permanecer mais que alguns minutos, e logo arrumamos nossas malas para seguirmos novamente rumo à cidade grande.

Músicas antigas e melodias marcantes que nos acompanhavam em meio a estrada.
Eu mantinha minhas mãos firmes na nuca dele, e conversávamos calmamente durante o percurso. Ele dançava sentado ao banco do carro enquanto dirigia, em sua maneira divertida e engraçada de se mover, e fazia-o propositalmente apenas para me fazer gargalhar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sem hipocrisia

Queria poder lamentar, ou simplesmente dizer que não os vejo de forma tão ridiculamente infantil. Mas, infelizmente isso já não me cabe.
Essa tal hipocrisia me causa ânsia, e uma ligeira agonia.
E qual é a razão específica pra que isso se ocasione? É simples e trivial...eu não posso controlar o que sinto, e especialmente o que penso em relação aos outros e a mim mesma.
Cometi erros, e em sua grande maioria se trataram de erros incorrigíveis e inaceitáveis. Seria argumentar banalmente que os fiz apenas por agir como ‘um ser humano que erra’. A verdade é que eu tinha escolhas, e em um determinado momento agi impulsivamente, respeitando somente aos meus desejos e ignorando qualquer sentimento que eu fizesse surgir em todas as pessoas das quais me aproximei.
Outra banalidade seria me desculpar, visto que por mais de uma vez o fiz e não tive qualquer resultado positivo quanto a isso. Em alguns momentos recebi indiferença, e em outros, um falso ‘perdão’ que em seguida foi criticado pelos mesmos que diziam se importar com o que quer que eu pensasse.
Então, considerem que nesse exato momento tive meu breve surto de realidade e estou aqui apenas para dar meus parabéns e bater palmas à toda essa falta de ética que insiste em me perseguir.

Palmas à você que arrumou argumentos pouco convincentes pra me criticar, só porque também não conseguiu viver sua historinha frenética de amor comigo, e por isso passa parte de seu tempo livre me definindo com inúmeros adjetivos pejorativos.

E, é claro, palmas a mim mesma por saber me desvencilhar de uma atitude desse gênero e tomar por certa a escolha que fiz quando aceitei amar quem atualmente eu amo, pois há uma divergência gritante de amar um homem ao invés de um simples ‘garoto’.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Questão

Seguiu-se o peso de um breve silêncio, antes que ela tomasse coragem suficiente para perguntar-lhe o que tanto ansiou por ouvir.
Ali, os corpos semi-nús, molhados com o ardor da chuva, agora se recostavam um sob o outro. Ela o fitava, calada, enquanto ele tentava lhe arrancar pouco que fosse do seu mistério repentino, com brincadeiras e piadas que não lhe faziam sentido algum. Até notar que a fisionomia dela agora mudara.

- Tenho que lhe fazer uma pergunta.
- Faça.
- Não sei se é conveniente.
- Algum problema?
- Problema nenhum.
- Então me diga o que te aflige.
- É uma pergunta banal. Sei que vou me arrepender de perguntar.
- Então diga logo, não verei mal em responder.
- O que você sente por mim?
- O que eu sinto? Sinto que gosto de você. É, realmente, gosto. Acho que é gostar. Sim, deve ser isso.
- Gosta?
- Gosto, gosto sim. E você? O que sente?
- Sinto que também gosto de você.
- Será que é somente isso, mesmo? Acredito que é algo mais. Estou certo?
- Não, não está. Te disse que atualmente me controlo o suficiente pra não me ‘apaixonar’ com tanta facilidade, e isso é fato.
- Entendo. Só não se esqueça que sentimentos assim nós não somos capazes de controlar.
- Eu sei, mas consigo. Sou teimosa.
- É sim, muito teimosa.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Um relicário...

De todos os mais puros sorrisos, me fascina com apenas um gesto.
Mal sabe que usando meu medo pouco convencional, tornou-se pra mim o que qualquer outro raramente seria.
Mal sabe que seu descaso muito me assusta, mostrando que nem sempre é como eu gostaria, ou que posso ser exatamente o que eu realmente queria.
Mal sabe que sua voz me acalma, e me cala como nenhuma outra. Mal sabe que tira inconscientemente meus pés do chão, e me segura quando me falta o mínimo de convicção.
Me nota de maneira diferente, como nenhum outro se permite notar, por saber, mesmo sem querer acreditar, que no fundo sou dele.


O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou;
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quase um erro

- Sei que cometi um erro. Sei que não deveria tê-lo feito, mas não coloque o peso de toda essa situação nas minhas costas.
- Eu confiei em você.
- Sei disso.
- Confiei que você manteria o respeito que sempre disse ter por mim.
- Eu continuo mantendo. Você estava lá, viu que eu não a beijei, que eu não queria tocá-la. Não sei o por quê daquilo, e nem ao certo o que houve.
- Eu sei exatamente o que vi.
- Você me viu influenciado pelo efeito do álcool.
- Vi você agindo como se eu não estivesse ali. Não tente se justificar. Estou desapontada.
- Não fique.
- Pensei que você valesse realmente à pena.
- Eu de certo ainda valho.
- Não tenho tanta certeza quanto a isso.
- Me escuta! Olha pra mim.
- Tira as mãos do meu rosto. Não quero te olhar.
- Quer sim, olha aqui. Eu continuo tão encantado por você quanto de início, e desejo que sua concepção em relação a mim permaneça a mesma de antes.
- Estou com medo.
- Medo de que?
- De me apaixonar por você.
- Por que?
- Porque sinto que isso ainda vai me ferir, o suficiente pra eu me arrepender.
- Não se arrependa de me dar uma segunda chance...